O músico Eduardo Gontijo – mais conhecido como Dudu do Cavaco, com 31 anos, e a
modelo Vitória Rosa, com 25 anos, vão se casar no próximo sábado, 6, em
Belo Horizonte (MG). Poderia ser um casamento, como tantos outros, não fosse o fato de
ambos terem nascido com a Trissomia 21 (T21) e formarem o primeiro casal mineiro de
artistas com a síndrome de Down a oficializarem a união.
O noivo, Dudu do Cavaco é considerado o primeiro músico com síndrome de Down do
Brasil a gravar um CD/DVD profissional. Ele toca 10 instrumentos musicais, já participou de
vários programas de televisão – Caldeirão do Huck, Encontro com Fátima Bernardes; abriu
show da banda Jota Quest e realizou shows junto com músicos e cantores renomados,
como Lenine, Zélia Duncan, Mônica Salmaso, Paulinho Pedra Azul e Orquestra de Câmara
Sesiminas. Além de músico, Dudu também é palestrante e já viajou por todo o Brasil
contando a sua experiência.
A história de Dudu e o amor de seu irmão, Leonardo Gontijo, foram as inspirações para a
criação do Instituto Mano Down – organização sem fins lucrativos, que atende mais de 450
pessoas com e sem deficiência e em março vai inaugurar o primeiro ecossistema da
inclusão e inovação social da capital mineira.
E foi no Instituto Mano Down que Dudu conheceu a sua noiva Vitória Rosa em 2015,
durante uma Colônia de Férias. Vitória é modelo e influenciadora digital, já atuou em
desfiles e campanhas publicitárias de várias grifes, em clipes musicais e, também, já se
apresentou em um TEDx contando a sua história.
Dudu e Vitória fazem parte do programa de Desenvolvimento Potencializado do Instituto e
participam de diversas atividades oferecidas pelo Mano Down, com o objetivo de promover
autonomia e inclusão.
O primeiro pedido de noivado do casal foi feito em um jantar especial, com a participação
da família, e o segundo aconteceu em rede nacional, durante o quadro The Wall, no
programa Caldeirão do Huck, em janeiro de 2021. O casamento estava previsto para o
mesmo ano, mas a pandemia fez os planos serem adiados.
De acordo com Leonardo Gontijo, presidente do Mano Down e irmão do Dudu, o
casamento de duas pessoas com síndrome de Down é uma conquista de independência e
mostra para a sociedade a importância de dar oportunidades para que elas possam buscar
o seu espaço como cidadãos.
“Por muito tempo, as pessoas com deficiência intelectual eram vistas como pessoas
incapazes para praticar atos relacionados à vida civil, pois, para a legislação, essa
parcela da população não possuía aptidão para exercer a denominada capacidade civil
de fato (ou de exercício), sendo submetidas à curatela”, explica Leonardo.
ENTENDA A LEGISLAÇÃO
Como esclarece Leonardo, constantemente as pessoas com deficiência intelectual eram
passivas de discriminações, não obtinham nenhum amparo para inclui-las socialmente ou ter
as suas necessidades e direitos atendidos nas mesmas condições que uma pessoa física
considerada “comum”, “típica”, ainda que diante da existência de princípios e normas
constitucionais, como por exemplo a redação do art. 5° da Constituição Federal, cujo texto é
o seguinte:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição etc.
“Com o surgimento do Estatuto da Pessoa com Deficiência em 2016, significativas
alterações ocorreram na legislação civil, principalmente em relação à capacidade civil
da pessoa com deficiência, até então apontada como incapacitada, sendo que,
atualmente, estão inseridas no rol das pessoas relativamente incapazes – art. 4°, CC.
Outra considerável alteração foi a possibilidade de constituição de família, seja através
do matrimônio ou da união estável”, contextualiza Leonardo.
Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie
de discriminação (Lei no 13.146, 2015).
Como forma de efetivar e deixar transparente os direitos adquiridos, o
referido Estatuto elenca um rol de atos que as pessoas portadoras de
deficiência mental e intelectual podem exercer livremente, através do
gozo da capacidade plena (capacidade de direito + exercício). São eles:
Art. 6° A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa,
inclusive para:
I – Casar-se e constituir união estável;
II – Exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – Exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso
a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV- Conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – Exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária;
VI – Exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas;
Ainda de acordo com Leonardo, antes a lei já partia do pressuposto que a pessoa com
deficiência intelectual era incapaz. Agora presume que a pessoa com deficiência intelectual
tem capacidade para decidir sobre a própria vida. Basta que ele diga que deseja se casar.
“Trabalhamos no instituto para que eventos como esse sejam tão comuns, que não
precisem de espaço na mídia. Para que pessoas com deficiência intelectual possam ser
respeitadas em suas decisões e possam sonhar com um futuro de oportunidades. Mas,
hoje ainda reconhecemos a importância de dar visibilidade para esse acontecimento.
Vale lembrar que há poucos anos o casamento de pessoas com T21 não era permitido
por lei. Assim, lutamos diariamente para que a sociedade enxergue o quanto elas são
capazes quando recebem oportunidades para que tenham mais autonomia”, explica
Leonardo.
Para o noivo Dudu do Cavaco, o casamento é a realização de um sonho. “Eu estou muito
feliz de poder casar com a minha noiva Vitória, que eu amo muito. Ela é o amor da
minha vida e a gente”, exalta o músico.
A cerimônia será um evento fechado para familiares e amigos mais próximos.
Atendendo a pedidos, parte da cerimônia será transmitida on-line através das redes sociais
dos noivos.
A NOVA CASA
Inicialmente o casal vai morar em cassas compartilhadas, com a família de Dudu e com a
família da Vitória, para se adaptar com o novo momento. Mas, para que tenham a
privacidade que precisam como casados, a família propôs um projeto de reforma do atual
quarto do Dudu, para transformá-lo em um espaço independente para o casal.
E para viabilizar financeiramente a reforma, Dudu e Vitória priorizaram na lista de presentes
de casamento o apoio financeiro para realizar a obra e comprar os móveis, antes da data
do casamento.
Para participar, basta acessar a página:
https://conteudo.manodown.com.br/presente_casamento_dudu_vitoria