Aumentar o volume da TV, solicitar a repetição de frases recorrentemente e se queixar de sensação de ouvido tampado estão entre alguns sinais de problema
Para propor uma reflexão sobre o processo de envelhecer, fase da vida na qual as pessoas vivem a maior parte do tempo, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Junho Violeta, campanha marcada por ações que celebram o cuidado com a pessoa idosa ao redor do mundo.
Abraçando a data, o Hospital Paulista ressalta a importância da promoção da saúde auditiva dos idosos. Conforme a fonoaudióloga Christiane Nicodemo, a audição está entre os sentidos mais importantes.
“Cuidar da audição é cuidar das suas memórias e das relações, tão importantes para nos manter com propósito de viver cada dia de nossas vidas com autonomia e independência.”
Christiane ressalta a importância de distinguir o envelhecer da velhice. Para isso, explica que as pessoas devem saber a diferença entre as palavras senilidade e senescência.
“A senescência trata-se do processo natural de envelhecer. Não há doença, mas há uma mudança de ordem biopsicossocial. É necessário termos ciência de que, para chegarmos nesta fase da vida, desfrutando da qualidade de vida, nossos hábitos e escolhas de vida são importantes.”
A senilidade ocorre quando há uma alteração no processo natural da senescência, como, por exemplo, o surgimento das doenças e agravos não transmissíveis (DANT) — hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, entre outras –, que impactam na qualidade de vida, autonomia e independência do processo de envelhecer, e que podem ser evitadas com hábitos saudáveis, mantidos ao longo da vida.
“Quando estas patologias se instalam no organismo, podem trazer comorbidades diversas, que podem, inclusive, impactar na audição.”
Saúde auditiva x memórias
A fonoaudióloga explica que, ao contrário do que as pessoas imaginam, o ser humano não escuta pelos ouvidos, mas sim pelo cérebro. “O ouvido é apenas o condutor do som. Nosso cérebro é quem codifica e interpreta os vários tipos de sons.”
O sistema auditivo está ligado ao sistema vestibular — conjunto de órgãos do ouvido interno, responsável pela detecção de movimentos do corpo, que contribui para a manutenção do equilíbrio.
Os sons também geram lembranças e emoções que estão guardadas em nosso sistema Límbico, também conhecido como cérebro emocional, que se conecta com nosso córtex.
“Nossas memórias e relações interpessoais também são dependentes do pleno funcionamento do nosso sistema auditivo.”
Identificando o problema em idosos
Dra. Bruna Assis, otorrinolaringologista do Hospital Paulista, destaca que a perda auditiva nos idosos pode ser identificada por meio de hábitos e queixas simples do dia a dia.
“Aumentar o volume da TV, solicitar que repitam as frases recorrentemente, não responder a chamados, não reconhecer ou diferenciar palavras e, até mesmo, se queixar da sensação de ouvido tampado podem ser sinais de que o idoso esteja com algum problema auditivo”, alerta.
Para um diagnóstico correto, o exame de audiometria é suficiente, pois identifica o tipo e grau da perda auditiva.
A médica explica que o desenvolvimento de perda auditiva nos idosos é difícil de ser previsto, devido à degeneração natural das células que acontecem com o processo de envelhecimento.
Dra. Bruna ressalta também que há uma relação genética que pode influenciar em uma evolução desfavorável ao paciente. “É importante ressaltar que alguns hábitos e cuidados podem reduzir o risco de lesão coclear, por exemplo, evitando doenças que levam a alterações metabólicas, dentre elas a hipertensão e diabetes, e a exposição a ruídos intensos.”
Segundo Dra. Bruna, uma vez instalada, não é possível recuperar a perda auditiva relacionada à idade, através de tratamentos clínicos. No entanto, ela alerta para a importância de os idosos sempre passarem por uma avaliação com o especialista, que irá indicar a melhor conduta a ser tomada ou a necessidade de testes para uso de amplificação auditiva (aparelhos auditivos).