O casal Beatriz Campinho e Ariel Goldenberg teriam um final de semana normal, se não fosse mais uma cena de discriminação com pessoas com Síndrome de Down na capital paulista.
Beatriz Campinho é atriz de teatro, escritora e palestrante. Está concluindo um livro sobre inclusão. Ariel Goldenberg é ator de teatro, cinema e televisão. Em 2012, ganhou um Kikito especial do Júri na 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado pelo filme ‘Colegas’.
Eles escolheram assistir no último domingo a peça teatral “Longa Jornada Noite Adentro”, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), conhecido como Tuca.
De acordo com os responsáveis pela peça “trata-se de uma das mais relevantes obras do teatro do século XX – para muitos críticos ela marca, inclusive, o surgimento do teatro moderno nos EUA – e vencedora do Prêmio Pulitzer, em 1957.
Além de Ana Lucia Torre no papel de Mary Tyrone, o espetáculo conta com as participações de Luciano Chirolli (James), Gustavo Wabner (Jamie), Bruno Sigrist (Edmund) e Mariana Rosa (Cathleen).
Por sinal, para o casal Ariel e Beatriz, a relação com o teatro e o palco já é bem antiga, em função de tudo o que já fizeram, inclusive representando o Brasil em importantes Festivais.
Mas, o que não estava no roteiro foi a atitude do ator Luciano Chirolli que está sendo acusado de discriminar e ofender os dois espectadores que são pessoas com Síndrome de Down.
De acordo com o que foi divulgado pelo casal Ariel e Beatriz, “no final da apresentação, durante os agradecimentos, Chirolli desceu do palco e veio na nossa direção. Ele foi grosseiro, preconceituoso. Disse que não era para a gente estar no ambiente do teatro”, contou Beatriz, que disse ainda que temeu ser agredida fisicamente, pois o ator chegou muito próximo deles. “Ele estava muito nervoso e batia a bengala no chão”, disse Ariel.
Ainda pelo que foi narrado por pessoas que estavam no teatro, que preferiram não se identificar, “desde o começo o ator se mostrou extremamente incomodado com a presença do casal com síndrome de Down na plateia. Várias vezes ele olhava de cara feia e batia a bengala com ignorância no chão para assustá-los. Eles não atrapalharam a peça, o Ariel só levantou uma vez para ir ao banheiro depois de mais de uma hora de peça”, comentou um dos espectadores.
Outra pessoa afirmou que “no final, durante os agradecimentos, ele saiu do palco, foi até o casal e os acuou e disse para eles nunca mais voltarem ao teatro porque eles atrapalharam a peça toda. Quando um grupo de espectadores foi questioná-lo, ele foi extremamente grosseiro e berrou a quem quisesse ouvir que não se desculparia”.
A advogada Isabel Campinho, irmã de Beatriz, informou ao Diário PcD que na terça-feira, 23, foi registrado um Boletim de Ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência de São Paulo. “Isso nunca deveria acontecer, mas hoje em dia, menos ainda”, disse a advogada. De acordo com ela, a acusação tem base no artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146/2015), que prevê multa e prisão para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência”.
Ariel desabafou dizendo que “é preciso encarar o preconceito, para evitar que mais pessoas passem por esse tipo de situação. Chega! Acabou! A gente está no nosso limite de aguentar preconceito”.
Beatriz também comentou o fato. “Não é só questão de se defender, mas temos que ter coragem para enfrentar essas situações. Se nós não lutarmos pela inclusão, o que vai ser da gente?”
Em nota, o ator alegou que a situação foi um engano e que pediu para que eles se “comportassem melhor porque o teatro é um lugar sagrado para os atores. O que eu falei é que nós precisamos de silêncio para trabalhar. A falta de silêncio dele —dela não, ela ficou quietinha— tinha me desconcentrado muito e tinha prejudicado o trabalho. Então que quando eles fossem novamente ao teatro, para que não tivessem o mesmo comportamento. Foi isso”, afirma Chirolli à coluna da jornalista Mônica Bergamo.