O Dia Internacional do Idoso, comemorado neste sábado, 1º, reforça a importância de um olhar diferenciado a esta parte da população, que não para de crescer.
O número de pessoas com 65 anos ou mais deve triplicar no país, chegando a 58,2 milhões em 2060 – o equivalente a 25,5% dos brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os desafios que o envelhecimento trazem são grandes para todos, mas ainda maiores para aqueles com síndrome de Down.
“A expectativa de vida de quem tem Trissomia 21 aumentou de 35 anos para 62 anos em menos de três décadas, mas a medicina, infelizmente, não acompanhou essa rápida evolução. Estas pessoas possuem necessidades específicas e estão vivendo cada vez mais, mas ainda não encontram o respaldo que necessitam no contexto da medicina”, diz o empreendedor social Henri Zylberstajn, fundador do Instituto Serendipidade, que atua pela inclusão de pessoas com deficiência intelectual.
Para tentar suprir esta lacuna, o Serendipidade criou em 2019 o Projeto de Envelhecimento Saudável, que oferece gratuitamente o acompanhamento de um geriatra a 80 adultos e idosos com deficiência intelectual atendidos pela ONG APOIE, em São Paulo. Coordenador da iniciativa e responsável pelos atendimentos, o médico Marcelo Altona, do Hospital Israelita Albert Einstein, vai semanalmente ao local, onde oferece suporte, incentiva bons hábitos de alimentação e a prática de atividade física, além de controlar doenças crônicas. Ele também orienta familiares das pessoas com trissomia 21.
A ideia do projeto não se restringe, no entanto, ao atendimento médico. O objetivo é também obter informações sobre o envelhecimento de pessoas com síndrome de Down e utilizá-las para o desenvolvimento de protocolos de atendimento e em estudos e pesquisas sobre o tema no futuro. Sabe-se, por exemplo, que as pessoas com trissomia 21 começam o processo de envelhecimento, com perda de memória e massa muscular, a partir dos 30 anos, ao contrário da população em geral, que inicia aos 50. Mas o que se passa no organismo de idosos com Down é ainda pouco conhecido. “Sabemos, por exemplo, que pessoas com síndrome de Down têm maior risco de desenvolver Alzheimer. A partir dos 50 anos, a doença acomete 30% das pessoas com esta condição. Elas precisam de estímulos físicos e cognitivos desde cedo, além de uma atenção mais humanizada, que leve em consideração não apenas os aspectos de saúde, mas também o seu entorno social”, diz Altona, que defende um olhar mais holístico e integrado para as pessoas com trissomia 21 que enfrentam o envelhecimento.
Mais do que doenças e comorbidades nos idosos atendidos, o geriatra tem encontrado demandas sociais e emocionais. O maior pedido ao longo dos mais de 3 anos de atendimento tem sido a requisição por mais autonomia. Os pacientes querem namorar, ter independência financeira e morar sozinhos, algo que só é possível com a inclusão, que não era posta em prática na época em que eles nasceram e cresceram.
Para garantir essa interação com outras pessoas e a profissionalização dos idosos, o Apoie oferece oficinas em diversas áreas, como papelaria, bijuteria, reciclagem e tear. Interessados em participar podem agendar uma entrevista de triagem com o serviço social da ONG através do telefone (11) 5575-0257 ou pelo e-mail servicosocial@apoie.org.br. O atendimento é gratuito.
A iniciativa do Instituto Serendipidade tem incentivado outras entidades a investirem no tema. O exemplo de maior impacto é a criação de grupo médico assistencial (GMA) focado em deficiência intelectual dentro do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo. Um time interno de especialistas em diversas áreas (médicos, enfermeiros, terapeutas, educadores, psicólogos, pesquisadores e empreendedores sociais) que desde 2020 vem aprimorando conhecimentos em relação a esta condição, que acomete quase 3 milhões de brasileiros – e cujos desdobramentos já estão ajudando a mudar a realidade de atenção a estes pacientes dentro da rede do Hospital.
