O primeiro triatleta com paralisia cerebral de grau severo a completar um triathlon, Samuel Bortolin, vem enfrentando desafios e batalhas desde os seis meses e meio de vida, quando nasceu de um parto prematuro. Devido ao diagnóstico, ele só deu seus primeiros passos aos sete anos de idade, após uma cirurgia. Aos 34 anos, em 2022, o atleta precisou passar por uma nova cirurgia ortopédica complexa. Segundo ele, esse segundo procedimento já era previsto desde a realização do primeiro.
O motivo é que pelo estirão na adolescência, crescimento ósseo e articular, o padrão com as pernas dobradas e viradas para dentro acabou retornando e trouxe também deformidades ósseas e dores. Samuel contou que ficou 68 dias internado em um hospital. Outro ponto difícil relatado por ele foi o fato de ter ficado tanto tempo longe da família.
“Fiquei também 90 dias sem colocar o pé no chão. Meu corpo se enfraqueceu, fiquei muito debilitado fisicamente. Não podia permitir que a mesma coisa acontecesse com a parte mental. Não é um processo linear, teve muitos altos e baixos. Porém, tem uma frase que levo comigo quando as coisas estão ou muito boas, ou muito ruins: fase não é fim! Entendi rápido que ia doer, mas ia passar. Precisava manter a sanidade mental”, comentou.
Voltando a falar do apoio da família, Samuel detalhou que teve ao lado os pais, irmãos, filhos e esposa. “Isso me deu forças! No meu momento de maior fragilidade física, foi também meu momento de fortalecimento do lado espiritual. A dificuldade quando é grande, não te deixa outra alternativa a não ser acreditar que as coisas vão melhorar. Hoje, ainda em reabilitação, vivo em estado de graça, gratidão por cada passo, cada vitória e cada etapa vencida. Tive o meu maior estado de graça da vida inteira tomando um banho de chuveiro, após mais de 2 meses tomando banho no leito, auxiliado por 2 enfermeiros (…) comemorei tomar um banho sozinho tanto quanto finalizar o primeiro triathlon”, falou.
Samuel confirmou ainda que a pausa para mais uma cirurgia vai lhe exigir um trabalho longo de recuperação de força muscular. Apesar disso, ele diz ter consciência de que se não passasse por essa cirurgia, não teria mais condições ortopédicas de continuar sendo atleta. “Essa pausa vai me permitir uma vida maior no esporte lá na frente. Não só no esporte, como em toda minha vida. Fui moldado pelos meus pais a trocar o prazer imediato por conquistas a longo prazo. Esse é o caminho que sigo desde bebê. Sei o que é ter que se dedicar 3 horas por dia, desde os 8 meses de idade. A necessidade foi minha maior professora. É claro que a cirurgia vai me tirar a curto prazo prazeres do esporte, gastronomia ou da família. Mas, lá na frente vai compensar tudo com muitos juros”, relatou.
“Não podemos permitir que os desafios paralisem nossas vidas. Tem que ter alegria no processo, por mais que hajam dores. Tenho convicção e trabalho para que as coisas melhorem na minha vida e na vida das pessoas que eu amo todos os dias. Essas dores, daqui a pouquinho passam. As glórias são eternas”, adendou.
Sobre Samuel Bortolin
Primeiro triatleta com grau de paralisia cerebral severo a completar um triathlon, Samuel Bortolin é formado em Direito e Educação Física. Teve que vencer batalhas desde o início de sua vida. Nascido com 6 meses e meio de gestação, o hoje triatleta perdeu seu irmão gêmeo no parto prematuro de sua mãe. Deu seus primeiros passos aos sete anos e passou por uma adolescência de aceitação. Samuel é o primeiro triplégico a realizar um triathlon. Hoje ele se destaca entre os paratletas brasileiros também como meio maratonista. Apaixonado pelo esporte, logo passou a participar de provas de rua de 5Km. Em 2014 ele enfrentou seu primeiro desafio esportivo: participar da famosa corrida de rua Night Run, etapa de Brasília. Já fazendo os 5 km, decidiu tentar os 10Km. Fez a prova em 1 hora e 28 min. Atualmente ele também viaja por todo o Brasil ministrando palestras pautadas em seus exemplos.