A farmacêutica Grayce Miguel França, criou o projeto Farmácia para cego ver, que alia o uso tecnologia para ajudar a identificação de medicamentos por deficientes visuais.
A ideia surgiu da necessidade da própria profissional, que é pessoa com deficiência visual e coordenadora do GT Farmacêutico à Pessoa com Deficiência do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).
Trata-se de um método que utiliza da tecnologia do QR Code com acessibilidade em relevo para ser inserido nas embalagens de medicamentos e bulas, facilitando a identificação para as pessoas com deficiência visual, idosos e daltônicos.
“Durante a minha jornada como farmacêutica e pessoa com deficiência visual busquei pesquisar uma solução que ajudasse a diferenciar uma embalagem de medicamento, evitando o uso indevido de medicação”, afirma Grayce.
Ainda segundo ela, somente o Braile que vem nas embalagens dos remédios não trazem as informações imprescindíveis que deveriam conter, como o nome do princípio ativo, dosagem, quantidade, forma farmacêutica e a data de validade.
O Brasil, segundo o Censo, possui cerca de 6,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual. “Essa solução inovadora permite que que todas as pessoas tenham acessibilidade nas embalagens de medicamentos e bulas com segurança”, acrescenta ela.
O método carrega uma proposta de valor para a pessoa com deficiência como autonomia, segurança, acessibilidade, praticidade e qualidade de vida a fim de que eles possam ter acesso às informações por meio do celular. Além de medicamentos, também pode incluir produtos de higiene e beleza.
O projeto foi apresentado no Simpósio Tendências Farmacêuticas – Tecnologia e Informação, promovido pelo CRF-SP no dia 26 de novembro.
Farmacêutica luta por inclusão de pessoas com deficiência visual
Com apenas 5% de visão nos olhos, Grayce tem duas pós-graduações e perdeu 95% da visão dos dois olhos ainda durante a gestação, em uma gravidez de gêmeos onde a outra bebê não resistiu. Ela nasceu pesando apenas um quilo e, com apenas dez meses de idade, passou por uma cirurgia no coração.
Aos 15 anos, descobriu o amor pela área farmacêutica. “Com as idas e vindas do hospital, desde sempre eu já sabia que queria seguir na área da saúde. Na adolescência, descobri meu amor pela farmácia”, conta em uma entrevista ao G1 em 2020.
Na faculdade, as dificuldades só a fizeram querer ainda mais seguir seu sonho. “Minhas provas eram feitas especialmente pra mim, por terem que ser escritas em fonte maior, para eu enxergar”. Grayce contava ainda com o auxílio de professores e colegas de turma para acompanhar as aulas. “Os professores liam as questões das provas que eu não conseguia enxergar. Com as apostilas, meus colegas me ajudavam”, recorda.
No mercado de trabalho, Grayce conheceu a falta de inclusão e suas consequências. “Não respeitavam minha posição de trabalho, achavam que eu não deveria estar lá, além de não adequarem o ambiente de trabalho às minhas necessidades”, desabafa.
Entre as necessidades que sentiu, estava a falta de programas nos computadores para acessibilidade para pessoas com deficiência visual, lupa eletrônica e salas com espaço entre as mesas e cadeiras para melhor acesso. “Sempre esbarrei em mesas e cadeiras, além de já ter caído em uma cadeira com rodinhas”, conta.
Fonte: Redação Panorama Farmacêutico
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