- Por Abrão Dib
Início da noite da sexta-feira, 31, e estou ao lado do meu parceiro Rolan Paiva trabalhando contra o relógio para preparar mais uma LIVE AO VIVO em nosso canal no YouTube para relatar tudo o que os autistas e seus familiares enfrentam em todo o Brasil.
De repente uma mensagem da amiga Sandra Aparecida Saltini de Moraes. Parei tudo para ler o que ela estava enviando, e ganhei mais um aprendizado compartilhado nas redes sociais.
Vou preparar o material para a transmissão, mas antes preciso registrar e compartilhar com vocês os ensinamentos de Clécio Dias – publicado no grupo do Facebook Eu tenho um filho (a) AUTISTA – https://www.facebook.com/cleciodias7778
Eu fui injusto com você, meu filhote! Mas hoje eu posso reparar com atitudes conscientes. Na verdade, não foi nada fácil quando você demorou a andar, porque eu queria muito que você andasse…
Eu te esperava como se você pudesse ser igual ou parecido com os outros meninos da sua idade. Era como se eu pudesse… Como fui tolo! Eu havia projetado na minha mente um menino que falasse…
E você era diferente de todos os outros que eu conhecia. No dia que eu soube que você tinha autismo, eu já devia saber, mas meu egoísmo não deixava. E você tinha seu jeito próprio de ser, só isso…
Enquanto você dormia, eu ficava acordado no meio da madrugada, e você só dormia, em paz. Eu tinha medo de dormir, mas tinha mais medo de acordar, porque não compreendia nada…
Você tinha febre e não sabia dizer ao médico onde doía, mas no momento de tomar a injeção, apertou meu braço com suas mãozinhas pequenas, frias e sem dizer uma só palavra, eu senti sua voz, que eu nunca ouvi, dizer nos olhos: “Me ajuda, pai!”
E a médica passou seu tratamento, você poderia ganhar tanto, tanto, evoluir tanto, tanto, mas o plano de saúde negou quase tudo e sua voz, que eu nunca ouvi, falou dentro de mim de novo: “me ajuda, pai!”
E no fórum, eu agora era seu advogado. Sim, sim, tinha valido à pena passar todos aqueles anos na faculdade só para poder te defender. Eu dizia a mim mesmo, sem dizer nada, pois não é necessário dizer para sentir…
Já sabe escrever o nome e fica muito feliz para me mostrar. Toda vez que não consegue realizar alguma atividade, fica chupando o dedo, e sem ouvir sua voz, sinto você dizer: “ainda não aprendi, me ajuda, pai!”
Acompanho você nas terapias, troco sua fralda. Quando você sai de cada sessão, abre um sorriso largo para mim. Hoje, já evoluiu tanto, tanto… mas a luta continua e eu posso dizer, sem falar, que o que me importa agora é estar por aqui, sempre pertinho de você…
Texto de Clécio Dias, morador em Santa Cruz do Capibaribe/PB e pai do Victor Gabriel
- Abrão Dib é jornalista e editor do Diário PcD