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Para oftalmologistas, falta de informação, longas filas e dificuldade de adesão afastam pacientes com glaucoma do tratamento no SUS

ByJornalismo Diário PcD

maio 23, 2023
Para oftalmologistas, falta de informação, longas filas e dificuldade de adesão afastam pacientes com glaucoma do tratamento no SUS

Entre a suspeita do diagnóstico e o início do tratamento, os pacientes com glaucoma percorrem uma jornada marcada pela ansiedade, medo, falta de informação sobre seus direitos e longas filas de espera por atendimento dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar da rede pública garantir acesso gratuito a consultas, exames, medicamentos e cirurgias, como a porta de entrada aos cuidados ainda é estreita, o tempo de resposta às demandas não é curto por conta do alto volume de pedidos e há muita desinformação, um volume grande de doentes ficam pelo caminho.
 

Uma grande questão no gargalo e na demora para acesso a um oftalmologista é o fato de estes especialistas estarem inseridos na atenção especializada. Quando o paciente é encaminhado pela atenção primária há aumento na jornada sem o tratamento necessário.
 

Para especialistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), mesmo com a criação pelo Ministério da Saúde, em 2008, da Política Nacional de Atenção em Oftalmologia, em 2008, uma parcela significativa da população desconhece que tem direito a uma série de cuidados, sem qualquer custo, para diagnosticar e tratar o glaucoma e outras doenças que afetam a visão. Segundo eles, esse é um problema grave, que deve ser combatido com campanhas de esclarecimento.
 

Direito – A Política definida pelo Governo estabelece, por exemplo, que todo brasileiro tem direito ao tratamento clínico com medicamentos e tratamento cirúrgico. Porém, como esclarece o oftalmologista Roberto Murad Vessani, membro da Comissão Científica da SBG, muitos brasileiros ainda não sabem como solicitar esse tipo de atendimento pelo SUS.
 

Segundo ele, outro complicador é que a forma de acesso a esses tratamentos pode variar de estado para estado, o que exige que o paciente se desdobre para ter detalhes, como quais os estabelecimentos de saúde habilitados para o acompanhamento de glaucoma existem na região onde mora e a forma de obter de graça os medicamentos prescritos pelo médico e até de solicitar uma intervenção cirúrgica.
 

Entre os serviços e produtos oferecidos pelo SUS estão: colírios antiglaucomatosos de diversas classes terapêuticas e procedimentos a laser e cirurgias incisionais, com ou sem implantes. O presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Cristiano Caixeta Umbelino, explica que o tratamento dos pacientes com glaucoma pelo SUS deve observar critérios estabelecidos pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para essa doença ocular, que é definido pelo Ministério da Saúde com a ajuda da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC).
 

Procedimentos – De acordo com Caixeta Umbelino, o CBO e a SBG têm trabalhado, juntos, pela modificação e a incorporação de procedimentos e exames no rol de serviços e produtos oferecidos pelo SUS. Também tem pleiteado junto ao Ministério da Saúde o aperfeiçoamento do PCDT para o glaucoma. Ao longo dos anos, as duas entidades têm produzido e submetido à CONITEC diversos relatórios que propõem mudanças no tratamento, baseados nas evidências científicas mais atuais.

“Esses documentos indicam que os ajustes pretendidos trazem vantagens para o paciente e economia de custos para o governo. A implementação de mudanças gera um grande benefício para a população: o acesso tratamentos mais moderno, seguros e eficazes”, disse o presidente do CBO. Inclusive, recentemente, foi incorporado ao SUS o exame de tomografia de coerência óptica, que é um método computadorizado sofisticado para avaliar o nervo óptico para complementação da investigação e segmento dos pacientes suspeitos de glaucoma.
 

Aderência – No entanto, as dificuldades para o tratamento do glaucoma não residem nas limitações das políticas públicas e nos problemas de gestão. Além dos problemas estruturais da rede pública, o paciente com glaucoma se depara com outro desafio: ter aderência a uma rotina que implica em consultas regulares e o uso recorrente de medicamentos. “Muitos desses pacientes têm certas limitações, sejam físicas ou financeiras, para se locomover até os locais de referência para esse tipo de atendimento. Há os que dependem de acompanhantes”, ressaltou o Murad Vessani.
 

De acordo com ele, essa a atenção à rotina de cuidados tem justificativa. “A cada avaliação feita pelo médico, o tratamento pode ou não ser reajustado, a depender dos achados dos exames. Por isso, é importante que o paciente siga as orientações médicas de forma adequada e obedeça aos prazos de retorno para que seu tratamento tenha maior chance de eficiência”, ressaltou, ao explicar que o glaucoma é uma doença ocular crônica que não tem cura, mas tem tratamento.
 

Após o diagnóstico de glaucoma, para que o tratamento seja adequado, é preciso que médico e paciente organizem uma estratégia de monitoramento do quadro clínico, com a realização de consultas e exames periódicos, com intervalos de tempo definidos em função da gravidade da doença e sua estabilidade, entre outros fatores.
 

Estudos – O glaucoma, apesar de ser uma doença ocular tratável, pode levar à cegueira caso não haja o cuidado e tratamento corretos. Estudos estimam que de 1 a 2% da população mundial vivem com o glaucoma. As projeções não são animadoras: 111,8 milhões de pessoas podem sofrer com a doença em 2040.
 

Diante de sinais e sintomas de problemas oculares, todo paciente passa por um exame oftalmológico completo, que inclui, entre outras avaliações, a medida da visão, o exame na lâmpada de fenda — aparelho no qual o oftalmologista observa detalhes microscópicos do olho -, a medida da pressão intraocular e o exame de fundo de olho. Além disso, é feita ainda a documentação fotográfica do olho por meio da retinografia.
 

“Assim, é possível uma avaliação mais cuidadosa dos detalhes do nervo óptico à procura de sinais de glaucoma. Com essas informações, o médico poderá não só fazer o diagnóstico e caracterizar o tipo de glaucoma, mas também fazer o seu estadiamento, ou seja, definir se o glaucoma está nas fases inicial, moderada ou avançada. Isso ajuda na estratégia de tratamento do paciente. Por exemplo, um paciente com glaucoma inicial vai ter uma abordagem diferente e, provavelmente mais suave, do que um com glaucoma avançado, que pode precisar de cirurgia”, explica o oftalmologista.
 

24 horas pelo Glaucoma – Como forma de criar uma corrente de mobilização em torno do tema, buscando avanços no campo das políticas públicas para o glaucoma e uma maior conscientização dos pacientes sobre seu papel no tratamento, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Sociedade Brasileira de Glaucoma estão promovendo uma série de atividades durante o maio, mês escolhido pelo Governo para ser dedicado à luta contra essa doença. O ponto alto dessa iniciativa aconteceu no sábado, 20.
 

Naquela data, entre 9h às 17h, por meio do canal do Youtube do CBO, foi realizada mais uma edição histórica do evento 24 Horas pelo Glaucoma, que ofereceu à população e aos especialistas acesso a uma maratona de debates, reportagens, entrevistas e depoimentos que abordam o tema sob os diversos ângulos. A atividade contou com a participação de médicos oftalmologistas, celebridades e pacientes que convivem com a doença.
 

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