- Por Ana Sofia Gala – Hand Talk
O debate sobre diversidade e inclusão no mercado de trabalho é essencial para o mundo corporativo nos dias de hoje. É cada vez mais comum encontrar profissionais que se interessam pelo posicionamento social das empresas, atualizam o modo de preparar um currículo para evitar discriminação ao se candidatarem a empregos e dão preferência a contratantes que adotam políticas inclusivas.
Para lidar melhor com a demanda por práticas de diversidade e inclusão (D&I), é bom revisar as principais informações sobre esses conceitos. O ideal é elaborar estratégias sob medida para atender as necessidades iniciais da sua organização e abrir caminho para uma evolução gradual.
O que é a inclusão no mercado de trabalho?
Um mercado de trabalho inclusivo oferece oportunidades para todas as pessoas em atividades remuneradas. Mesmo quem tiver condições diferenciadas deve ter acesso e participação efetiva no universo profissional.
Esse é um ideal em construção no Brasil. Aliás, você sabia que aqui há menos de 3 pessoas com deficiência a cada 10 profissionais atuando no mercado de trabalho formal?
Qual é a lei da inclusão no trabalho?
A principal legislação relacionada ao tema é a Lei Brasileira de Inclusão, que estabelece regras sobre a estrutura necessária para a acessibilidade no ambiente de trabalho. Além disso, há uma norma da legislação sobre a Previdência Social que ficou conhecida como Lei de Cotas, pois se refere à reserva de cargos para pessoas com deficiência.
Também vale mencionar o conjunto de normas legais sobre diversidade no trabalho em ambientes públicos (Lei n. 12.990, de 2014) e o Estatuto da Diversidade Racial (Lei n. 12.288 de 2010). Essas e outras iniciativas contribuem para que o mundo corporativo acolha melhor as pessoas em situação de vulnerabilidade, com novos projetos de lei abordando a exclusão por fatores como capacitismo, sexismo, etarismo, regionalismo e diferentes formas de preconceito sociocultural.
Qual a diferença entre diversidade e inclusão no mercado de trabalho?
Diversidade e inclusão são formas complementares de abordar a participação das pessoas no mercado de trabalho. Para que a diferença entre os dois conceitos fique mais clara, podemos dizer que a diversidade tem foco no “quê” e a inclusão lida o “como” da questão.
Assim, a diversidade se relaciona à composição demográfica e aos grupos sociais que podem (e devem) fazer parte dos quadros profissionais. Enquanto isso, a inclusão parte de esforços para o acesso e a integração dessas pessoas de um modo justo e respeitoso.
Qual a importância da inclusão no mercado de trabalho?
A inclusão de profissionais diversos tem uma importância cada vez maior no mercado de trabalho atual. Inclusive, essa segue como uma forte tendência para o futuro do trabalho em todo o mundo. Em outras palavras, é crucial se alinhar a esses conceitos para não ficar para trás no competitivo mundo dos negócios.
Times diversos também agregam muito para o dia a dia da sua empresa. Essas equipes tendem a ser mais criativas, já que contam com pessoas que trazem diferentes visões de mundo e histórias de vida, contribuindo com novas soluções e ideias para um bem ou ação comum. Que tal então entendermos melhor como ser uma empresa inclusiva pode valorizar a forma como as pessoas percebem sua organização?
Pluralidade
A partir da pluralidade de experiências e visões, os horizontes da sua organização se ampliarão, inspirando a busca de soluções inovadoras, abrangentes e viáveis. E pode acreditar, isso irá refletir no seu desempenho financeiro.
Fortalecimento da imagem
As ações para proporcionar um espaço seguro e acessível para profissionais diversos trazem um maior reconhecimento dos valores da empresa, ajudando a fortalecer a imagem interna e externa da sua cultura organizacional.
Atração e retenção de talentos
Estratégias de diversidade e inclusão no processo de recrutamento profissional e ações inclusivas no cotidiano representam um diferencial competitivo na atração de talentos. Além disso, elas contribuem para a diminuição da rotatividade de pessoal.
Quais são os desafios da inclusão no mercado de trabalho?
As práticas de D&I promovem a sensação de pertencimento e representatividade, que ajudam a engajar as pessoas e trazem maior fluidez às relações de trabalho. Mas, como em todos os processos que envolvem recursos humanos, há desafios a serem superados ao longo do tempo.
A desinformação e as opiniões tendenciosas estão entre as principais preocupações nesse sentido, seja por conta dos preconceitos inconscientes que fazem parte estrutural da nossa sociedade ou por falhas no ensino e condições menos favoráveis ao desenvolvimento cultural.
Como tornar o mercado de trabalho mais inclusivo?
Um estudo recente apresenta resultados animadores sobre a mobilização das empresas brasileiras para tornar nosso mercado de trabalho mais inclusivo. A pesquisa revela que 81% das empresas respondentes adotam estratégias de D&I. Entre as principais recomendações, estão as seguintes práticas para aumentar a inclusão e a qualidade da experiência das pessoas na vida profissional:
Criando políticas de combate à discriminação
Os vieses discriminatórios fazem parte da herança cultural brasileira. Por isso, é preciso assumir a responsabilidade de enfrentá-los. Uma sugestão é começar criando mecanismos que evitem a influência de preconceitos, desde o processo de seleção pessoal até o plano de carreiras na empresa.
Orientando a liderança e a gestão
Gerentes e líderes devem ter acesso a informações confiáveis e treinamento adequado para conduzir a implementação das políticas de D&I. Isso reforça a ideia de que a inclusão diz respeito a todas as pessoas da empresa.
Observando o quadro de colaboradores
Para elaborar estratégias de D&I que possam funcionar em uma empresa, é importante mapear a distribuição de oportunidades em todos os níveis hierárquicos, além de definir metas para desenvolver o perfil inclusivo da empresa, fomentando a diversidade entre as equipes.
Incentivando a cultura da diversidade
A formação de uma cultura diversa e inclusiva depende do compartilhamento de ideias, vivências e atitudes positivas. Mas, não basta só falar sobre o assunto para engajar a equipe. A empresa deve contar com medidas importantes, tais como criar um comitê de diversidade e investir em recursos de acessibilidade.
Quais são os tipos de acessibilidade no trabalho
A acessibilidade no trabalho é um dos principais requisitos para a eficiência das práticas de diversidade e inclusão nas empresas. Seja no ambiente físico ou virtual, as soluções devem atender às pessoas com mobilidade reduzida e aquelas que possuem outras deficiências também, como auditiva, visual, intelectual, etc. Confira como você pode colocar isso em prática na sua organização e aprenda sobre os diferentes tipos de acessibilidade.
Acessibilidade comunicacional
Como o nome sugere, o objetivo é garantir a acessibilidade para uma comunicação sem barreiras. Podemos fazer isso com recursos de audiodescrição, inclusão de legendas, traduções para Libras (Língua Brasileira de Sinais), entre outras soluções.
Acessibilidade arquitetônica
Rampas de acesso para cadeiras de rodas e espaços adaptados para quem tem mobilidade reduzida são exemplos de como a acessibilidade arquitetônica contribui para a autonomia no ambiente de trabalho.
Acessibilidade metodológica
A acessibilidade metodológica promove a inclusão por meio do aprendizado, com técnicas adequadas ao desenvolvimento da educação para as pessoas com deficiência.
Acessibilidade instrumental
Assim como acontece com as adaptações na arquitetura para favorecer a movimentação pelos espaços, a acessibilidade instrumental se baseia em ferramentas e soluções que facilitam a vida e contornam limitações com o uso de objetos necessários no dia a dia.
Acessibilidade atitudinal
A acessibilidade está nas atitudes, tanto quanto na tecnologia ou em soluções bem projetadas. Afinal, empatia, respeito e acolhimento também têm o poder de eliminar barreiras entre as pessoas.
Acessibilidade programática
A acessibilidade programática está relacionada às normas e leis inclusivas, com conscientização, entendimento, sensibilidade e respeito aos programas que incentivam e garantem os direitos das pessoas com deficiência.
Como falar de inclusão no trabalho?
É preciso agir em vez de só falar sobre inclusão no trabalho, mas não queremos passar a impressão de que as conversas sobre o tema sejam menos importantes. Longe disso!
Para que seja possível alcançar os resultados com as práticas recomendadas aqui, é essencial fomentar a conscientização e o diálogo, abrir espaço para questionamentos, incentivar o uso de linguagem inclusiva e aprofundar o conhecimento sobre os aspectos da diversidade e inclusão em todos os âmbitos sociais.
Entenda as nomenclaturas e deficiências existentes
O respeito às diferenças também se reflete na nomenclatura usada ao se referir às pessoas ou aos tipos de deficiência. Por isso, é importante conhecer os termos relacionados à acessibilidade e compreender o que essas expressões significam, como nos exemplos abaixo:
- Deficiência auditiva: do ponto de vista clínico, refere-se à quem possui uma perda leve ou moderada da audição, podendo estar relacionada a diferentes tipos e graus de deficiência auditiva. Vale ressaltar que essas pessoas normalmente também não se identificam com a cultura surda.
- Pessoa surda: clinicamente, é quem tem uma surdez profunda. No entanto, a definição de uma pessoa surda possui um fator cultural super importante, já que envolve o domínio da Língua Brasileira de Sinais.
- Deficiência intelectual: é uma condição que se caracteriza por limitações em habilidades adaptativas e padrões intelectuais.
- Deficiência visual: trata-se da perda de visão ou graves limitações na acuidade visual.
- Deficiência múltipla: é caracterizada pela combinação de dois ou mais tipos de deficiência, por exemplo, uma pessoa cega e com deficiência intelectual.
- Surdocegueira: é um comprometimento multissensorial, gerado por uma combinação em graus diferentes de surdez e cegueira que afetam a percepção espacial da pessoa.
Conclusão
Diversidade e inclusão no trabalho têm um papel super importante na redução das desigualdades sociais e as pessoas estão cada vez mais atentas à essa pauta. Há uma sensação de urgência em saber quais ações correspondem às intenções a esse respeito. Ou seja, quais as transformações necessárias para que as empresas se tornem mais acessíveis e acolhedoras. Mesmo que isso não aconteça de uma hora para outra, é bom prestar atenção nas últimas tendências em D&I e começar a implementar as práticas recomendadas desde já.