Caros leitores, estamos no mês de conscientização da afasia, e eu, portadora dessa condição, deixo aqui minhas impressões.
A afasia é um distúrbio da linguagem que afeta a capacidade da pessoa de se comunicar; assim, o indivíduo tem seu poder diminuído em relação à fala, à compreensão, à leitura, à escrita ou tem dificuldade com cálculos, em suma, a criação e a expressão de pensamentos através de símbolos e de palavras verbalizadas está prejudicada.
Existem vários tipos e classificações para as afasias, e os quadros instalam-se subitamente. Isso ocorre em decorrência de lesões cerebrais, como traumatismos, tumores e, como frequentemente observamos, sequelas de acidente vascular encefálico, popular derrame- condição vivida por mim.
É importante entendermos que a afasia apresenta grande impacto na vida do indivíduo, modificando toda a sua história. Dessa forma, pode haver até mesmo a desidentificação do indivíduo; por isso é imprescindível ressaltar que a afasia não define o ser e que ainda somos os mesmos. O tratamento da afasia é multidisciplinar e envolve programas de reabilitação da linguagem, sendo um dos pilares a fonoterapia. Porém, não devemos esquecer que a afasia mexe psicologicamente com o indivíduo e afeta também sua autoestima, e este deve ser cuidado integralmente.
Existem muitas formas de comunicação não verbal, como a prancha com figuras ou letras, em que o paciente consegue praticar as habilidades linguísticas e diminuir as dificuldades e as barreiras da comunicação. Além disso, devemos ter em mente que a tecnologia oferece diversos dispositivos que propõe – e realmente cumprem – melhorar a comunicação e, consequentemente, a funcionalidade da pessoa.
No entanto, apesar de haver tantos dispositivos de tecnologia assistiva disponíveis e amplamente utilizados, a voz humana articulada é considerada como característico do homem que, inclusive, independe da imagem. Nesse contexto, atrelada à voz articulada, temos a autonomia e poder de decisão do indivíduo que é questionado tanto juridicamente quanto no cunho pessoal e traz significativo impacto para família e cuidadores e deixa marcas indeléveis no ser.
Não podemos falar sobre conscientização em relação à afasia sem falar da contribuição das famílias e da sociedade no sentido de buscar conhecimento em relação ao distúrbio, para assim poder compreender, respeitar e oferecer apoio emocional e recursos que auxiliem na comunicação. Sempre devemos lembrar que as atitudes em relação à afasia podem ser modificadas e há inúmeras possibilidades de se reinventar, de alterar e de produzir estratégias linguísticas para o indivíduo, mesmo que for como eu, letra por letra com um interlocutor, pois, como diz o ditado popular: onde há vontade, há um caminho!
Fonte: https://www.soucatarina.com.br/
- * Dra. Elaine Luzia dos Santos é paranaense, filha, mulher, farmacêutica, médica, com formação básica em educação inclusiva, pós-graduanda em auditoria médica, atuante em clínica médica remota, sobrevivente de um acidente vascular cerebral, portadora de tetraparesia e afasia. Pessoa em desenvolvimento que aprende, ensina, inspira e baseia-se em experiências para viver oportunidades surgidas diariamente. Aos 21 anos me tornei farmacêutica e tive a oportunidade de dar asas a um antigo sonho; busquei aperfeiçoamento para entregar mais pessoalidade e soluções às mazelas enfrentadas pelo ser humano no decorrer da vida, voltando-me ao estudo da saúde, agora, através do curso de medicina. Assim pude aprimorar ainda mais o enfoque de ajudar as pessoas nas suas mais sensíveis vulnerabilidades.