fbpx
  • sex. nov 22nd, 2024

OPINIÃO: A saga para renovação de CNH enfrentada por pessoas com deficiência

OPINIÃO: A saga para renovação de CNH enfrentada por pessoas com deficiência. * Por Ciça Cordeiro
  • Por Ciça Cordeiro

No início de abril entrei no site do Poupatempo para agendar a renovação da minha CNH que venceria no dia 19 de abril. A única data disponível foi dia 19 de maio, ou seja, no dia do prazo de vencimento.

Na data agendada fui até o Poupatempo de Itaquera, ao chegar lá recebi a notícia de que o exame médico para pessoas com deficiência não era mais realizado lá, mas em clínica conveniada fora. Recebi essa informação da atendente Luana Santos Monteiro, inconformada com a situação, pedi para falar com sua supervisora, e fui atendida pela Priscila Aparecida de Camargo. Ambas foram gentis no atendimento, mas afirmaram que lá não havia médicos habilitados para atender pessoas com deficiência e que essa mudança havia ocorrido em abril deste ano.

Achei um absurdo, o Poupatempo não ter médicos para atender pessoas com deficiência, sendo que na CNH anterior eu fui atendida lá mesmo. Segundo a supervisora, agora apenas pessoas sem deficiência podem ser examinadas por médicos dentro das unidades.

Eu teria que informar o bairro onde moro e o sistema indicaria o local. Para que facilitar a vida das pessoas com deficiência se podem complicar não é mesmo?

As pessoas que mais precisam têm que agendar outra data e ir em locais nada acessíveis para fazer o exame. Um absurdo!

Outro fato, não havia nenhuma informação no site do POUPATEMPO de que o exame médico seria fora da unidade. Não vi essa informação em nenhum momento. Mesmo assim, de qualquer forma, teria que ir ao Poupatempo para atualizar todas as informações, não há como ir direto na clínica sem passar pelo Poupatempo. Atualizei meu endereço e outros dados, além de cadastrar as digitais e tirar nova foto e agendei para a semana seguinte na tal clínica.

Fui à clínica especializada em exames médico e psicotécnico, que fica na Rua Serra do Jairé, 1270, no bairro da Água Rasa, região do metrô Belém e como imaginava, um local de difícil acesso, sem acessibilidade e caindo aos pedaços. Vejam fotos. Não tive dúvidas…quis fotografar o local porque ainda não conseguia acreditar que pessoas com deficiência têm que passar por esse tipo de situação.

Além dos R$124,06 pagos no Poupatempo ($113,06 renovação + 11,00 postagem) – na clínica paguei o valor de R$113,00 referente ao exame médico.

Como disse, um lugar caindo aos pedaços, com mesas e computadores antigos e uma senhorinha no atendimento, só ela e o médico. Paguei, aguardei ser chamada pelo médico. Depois de meia hora ele me chamou, entrei na sala e notei que ele (Laércio Fioravante Rodgero Iorio) também era pessoa com deficiência. O que achei ótimo, aliás somos protagonistas, mas o que me incomodou profundamente foi ouvir de sua boca a seguinte pergunta: Qual o seu defeito? Juro! Foi essa a pergunta. E eu respondi com outra: O senhor está me perguntando qual a minha deficiência, correto? Ele ficou sem graça e eu respondi qual era e afirmei que tinha todos os meus exames e laudos, ele simplesmente respondeu: Não precisa! Fiz exame de visão, força e fui dispensada.

Sai daquele lugar em choque! Como fazer pessoas com deficiência passarem por esse tipo de constrangimento, além de negarem a nós nosso direito ACESSIBILIDADE. Por que um órgão com tantos serviços como o POUPATEMPO e o DETRAN faz com que pessoas com deficiência tenham ainda mais barreiras para usufruírem de seus direitos?

O prazo para receber a habilitação era de 7 a 15 dias úteis, mas passados 27 dias, não recebi nada. Com o protocolo que me deram acessei o sistema do Poupatempo e mostrava a última atualização no dia 25 de maio, dia que fui à Clínica.

Preocupada entrei no site do DETRAN e descobri que minha CNH havia sido emitida no dia 30 de maio, depois de procurar e conseguir o código de rastreamento do correio, fui informada no site, que minha CNH estava em uma agência do correio desde o dia 6 de junho porque o meu endereço estava com número errado.

Corri para checar novamente toda papelada e estava tudo em ordem. Não conseguia saber em qual agência estava, hoje, dia 23 de junho fui a uma agência próxima à minha residência e descobri em qual agência estava, era uma outra. Lá consegui recuperar minha CNH que ficaria lá até segunda e depois seria devolvida ao DETRAN. O prazo para retirada é de 20 dias, depois o documento é devolvido ao remetente.

Detalhe: não recebi porque alguém digitou o número da minha residência errado, ao invés de 1261 – colocaram 61, e por três vezes após tentativa do carteiro, a mesma foi deixada na agência.

Agora me digam: Vocês acham que tive o meu tempo POUPADO? Cadê nossos direitos? Por que dificultar a vida das pessoas com deficiência que já tem tanta dificuldade para sair de casa por conta de falta de acesso e barreiras? Só espero que a minha história sirva para provocar mudanças.

Há médicos dentro das agências do Poupatempo, que eles sejam aptos a atender pessoas com deficiência. O DEFEITO aqui é a incompetência de pessoas que mudam o sistema para prejudicar quem mais precisa, é ser atendido por pessoas que não entendem nada de inclusão, que são totalmente capacitistas, além de alguém que não sabe digitar corretamente.

Que mudanças sejam feitas!

  • Ciça Cordeiro é jornalista e consultora em DE&I

NOTA DA REDAÇÃO: O Diário PcD aguardará a posição do Detran/SP e Poupatempo sobre o relato da jornalista Ciça Cordeiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *