De acordo como os novos dados das estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022 que acabam de ser divulgados, o Brasil contabiliza 18,6 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 8,9% da população brasileira a partir de dois anos de idade e mais de um milhão acima dos números apontados na pesquisa anterior (17,3 milhões).
No mercado de trabalho, segundo o IBGE, os dados mostram a falta de acesso das pessoas com deficiência. Enquanto a taxa de ocupação da população brasileira é de 60,7%, a das pessoas com deficiência fica em apenas 26,6%. Além disso, o rendimento médio real nacional do trabalho das pessoas com deficiência é de R$ 1.860, enquanto a média entre as pessoas sem deficiência é de R$ 2.690.
De acordo com Carolina Ignarra, CEO do Grupo Talento Incluir – ecossistema da diversidade e inclusão, pioneiro no Brasil – os números ainda são questionáveis, especialmente pela forma como foram apurados e, segundo o IBGE, não representam nem 10% da população brasileira. Enquanto isso, no mundo, segundo a OMS, a estimativa de pessoas com deficiência atinge um percentual de 15% (1 bilhão de pessoas). Ainda diante desse cenário, ela reforça a importância de aumentar a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, a partir das seguintes dicas:
- Incluir por convicção e não por obrigação – a inclusão quando feita para cumprir a exigência da Lei de Cotas tem pouca chance de atingir êxito. A empresa precisa realizar o processo de inclusão por convicção, atuando na sua cultura, a partir de treinamento das equipes, incluindo a alta liderança. Incluir é muito mais que apenas contratar;
2. Eliminar os rótulos que prejudicam os profissionais com deficiência – é preciso conhecer a realidade das pessoas com deficiência. Elas vivem a exclusão no próprio ambiente familiar. O capacitismo impede que se socializem e que se desenvolvam na sociedade, nas escolas de forma geral. Isso ainda precisa evoluir. Porém, as empresas precisam entender que nem sempre as experiências das pessoas com deficiência serão iguais a dos demais colaboradores sem deficiência;
3. Acessibilidade é um direito e não um favor – A empresa que se prepara para ser acessível é uma empresa que está pronta para todo e qualquer cliente, fornecedor e colaborador, com estruturas adequadas, acessíveis para todos, desde o site até às estruturas físicas. Por isso, não deve ser pensada como adaptações. A acessibilidade é um projeto que requer a participação de pessoas com deficiência para ser realizada da forma correta;
4. Cultura da empresa – a empresa precisa preparar seus colaboradores trazendo informação e aumentando a convivência com as pessoas com deficiência. Elas não estão apenas cumprindo uma cota. Elas precisam ser respeitadas pela contribuição profissional que realizam em suas funções, exatamente como os profissionais sem deficiência.
5. Inclusão não acontece com ações pontuais – as empresas têm que se preparar para uma inclusão completa e de qualidade, que proporcione aos colaboradores com deficiência a mesma oportunidade de desenvolvimento profissional. É preciso construir ações contínuas nessa jornada, oferecendo suporte para às áreas, fazendo acompanhamentos periódicos de cada um dos colaboradores com deficiência e estimular a formação de grupos de trabalho para trazer melhorias que podem facilitar o dia a dia de cada um;
6. Processos seletivos precisam ser inclusivos – o processo seletivo é a porta de entrada da empresa, por isso ele deve refletir a cultura de inclusão já nesse primeiro contato. Acessibilidade arquitetônica, digital, atitudinal e até metodológica. Os testes e as entrevistas devem ser pensados para pessoas sem deficiência. Os recrutadores também são fundamentais neste processo e precisam estar preparados, com conhecimento sobre inclusão antes de iniciar uma entrevista;
7. Inclusão e Diversidade não é um tema apenas de RH – é preciso fortalecer e multiplicar a cultura de inclusão por todas as áreas da empresa. Atuando nisso, cada área terá muito mais informação para tornar a empresa cada vez mais acessível e esse é um ambiente comprovadamente favorável para atrair a inovação;
8. Atuar como aliada da inclusão – mais que contratar e desenvolver profissionais com deficiência a empresa precisa agir como uma aliada, promovendo ações, patrocínios, investimentos, compartilhando conhecimentos e criando produtos e serviços que possam atender também às pessoas com deficiência.
“A principal barreira que impede a pessoa com deficiência de ter acesso à educação e trabalho no Brasil ainda é o capacitismo estrutural. Esse comportamento opressor duvida da capacidade de uma pessoa com deficiência, que são tratadas como incapazes, dependentes, sem vontade ou capacidade para tomar decisões. É preciso vencer essa barreira para humanizar, transformar e desenvolver a inclusão das pessoas com deficiência, em todos os níveis e promover acessibilidade em todas as dimensões”, conclui Carolina Ignarra.