Deixar de ser objeto de pesquisa para ocupar o lugar de sujeito protagonista da pesquisa. Foi assim que o docente Décio Nascimento Guimarães definiu o papel que as pessoas com deficiência devem ter na ciência. O pesquisador cego debateu os desafios encontrados ao longo da trajetória no enfrentamento às perspectivas capacitistas presentes nas esferas do trabalho científico.
A conferência aconteceu neste terceiro dia de programação científica da 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com audiodescrição realizada pelo apresentador e pelo palestrante para o público presente. Diretor de políticas de educação especial na perspectiva inclusiva na Secretaria de Educação Continuada do Ministério da Educação e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Guimarães destacou que a ciência sempre foi elitizada na história do país, voltada para grupos privilegiados. “Hoje ocupamos esse espaço pelas políticas de cotas, ações afirmativas, mas, sobretudo, lutas”, afirmou.
Além dos preconceitos, Décio elencou diversas outras barreiras, como condições de acessibilidade, dificuldade em submeter em algumas plataformas e até mesmo linguagem utilizada. “No âmbito da educação, produzimos ciência o tempo inteiro, mas os profissionais que estão na educação básica não acessam os periódicos. A forma como nos comunicamos não atende ao princípio da acessibilidade que é a linguagem simples”, exemplificou. “O uso da linguagem complexa só é compreendida pelos pares. Não nos preocupamos com o quão desafiante é traduzir artigos científicos para libras e como há dificuldade de compreensão por parte de pesquisadores com dislexia”.
O pesquisador concluiu sua fala lembrando que a participação na SBPC representa uma construção coletiva de caminhos para uma ciência democrática, com participação e anticapacitismo.
“É preciso que as pessoas possam ser e estar onde e como elas quiserem e eu vejo que a ciência é um território privilegiado para sermos e estarmos e, sobretudo, para transformarmos o contexto do mundo em que vivemos”, disse.
Fonte: https://ufpr.br/