Os números são alarmantes. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), 1,5 milhão de brasileiros vivem com algum tipo de demência. O Alzheimer é o mais frequente, em que 100 mil novos casos são diagnosticados anualmente. A previsão é a de que, até 2030, 2,8 milhões de brasileiros sofrerão de Alzheimer e, até 2050, o número praticamente dobrará, alcançando 5,5 milhões de pessoas no País.
O transtorno degenerativo afeta quase duas vezes mais mulheres do que os homens e cuja incidência é superior à do câncer de mama. Mesmo assim, a doença no âmbito feminino ainda é pouco discutida pela sociedade, de acordo com um estudo conduzido pelo Coletivo Weber Shandwick. Analistas de dados da agência investigaram o volume e o tom das conversas nas redes sociais e na cobertura de imprensa durante um período de 12 meses, de maio de 2022 a abril de 2023, somando 231.000 menções à doença. De acordo com o levantamento, ainda que sejam registrados mais casos de Alzheimer em mulheres no País (cerca de 800 mili) em relação a outras doenças como câncer de mama (menos de 300 mil), a conversa é desproporcional – foram identificadas apenas 3.500 menções à Alzheimer atrelado a mulheres para mais de 190 mil sobre câncer de mama. Historicamente, as conversas públicas em torno da saúde feminina focam mais doenças ligadas ao aparelho reprodutor, útero e mamas, do que outras com maior taxa de incidência e mortalidade, como as doenças cardiovasculares e o diabetes. Outro dado alarmante é que cerca de 20.600 menções ao Alzheimer foram em contexto pejorativo, usadas de forma depreciativa em conversas no ambiente digital. No Brasil, o Alzheimer é seis vezes mais utilizado como insulto do que em discussões sobre o impacto da doença nas mulheres.
Quem vai cuidar delas?
Em todo o mundo, a prevalência chega a 50 milhões de pessoas e vem crescendo devido ao envelhecimento da populaçãoiii. Segundo a Associação Americana de Alzheimer, o risco de as mulheres desenvolverem o transtorno aos 65 anos é de 1 em 5, enquanto o risco dos homens é de 1 em 10 na mesma faixa etária.
“No Brasil, o cenário é particularmente desafiador. O número de indivíduos vivendo com demência deve triplicar até 2050, segundo dados da OMS. E o número de pessoas diagnosticadas com Alzheimer deve crescer em proporção semelhante”, aponta Dr. Rodrigo Rizek Schultz, Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).
Para Laura Schoen, Presidente Global da Prática de Saúde da Weber Shandwick, “há uma carência de informações sobre como a doença de Alzheimer afeta as mulheres, considerando o impacto desproporcional da doença no público feminino. As mulheres não são apenas a maioria dos pacientes, mas também a vasta maioria de cuidadores. Existe uma real oportunidade e uma demanda da sociedade para mais atenção a este assunto, o que passa pelo trabalho de comunicação para dar visibilidade a este problema de saúde pública que cresce no mundo todo com o envelhecimento da população.”
Além de avaliar a visibilidade do assunto na mídia, o estudo identificou os principais influenciadores ligados ao tema, as políticas de saúde voltadas à doença e examinou o grau de acesso ao diagnóstico e tratamento. Dentre os influenciadores, há profissionais médicos bem como cuidadores e familiares que abordam suas experiências pessoais, compartilhando dicas para enfrentar os desafios diários da condição. Entretanto, a maioria dos perfis não aborda especificamente os impactos da doença nas mulheres.
O Brasil conta também com associações de pacientes e grupos de apoio espalhados pelo País, que ajudam a disseminar informações úteis para pacientes e familiares. Entidades como a ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) promovem encontros e discussões com grupos de pacientes, além de jornadas para profissionais da área.
“Tão importante quanto o diagnóstico é o conhecimento da sociedade sobre o Alzheimer e outros tipos de demência. Familiares e cuidadores também são muito importantes durante o tratamento, por isso devem estar no olhar das campanhas que envolvem o tema”, complementa o presidente da ABRAz.
No tocante a políticas públicas, até hoje o Brasil não conta com uma política nacional específica para a doença de Alzheimer. Porém, há um projeto de lei, o PL 4364/2020, tramitando na Câmara dos Deputados que visa criar a Política Nacional de Cuidado Integral a Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que já foi aprovada pelo Senadov.
Sobre a Doença de Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e sem cura que afeta principalmente pessoas acima de 65 anos de idade. Ela prejudica a função cognitiva, a memória, a linguagem e a percepção do mundo, além de provocar alterações no comportamento e no humor do paciente.
A causa ainda é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada. A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade, sendo responsável por mais da metade dos casos de demência nessa população.
No Brasil, centros de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem tratamento multidisciplinar integral e gratuito para pacientes com Alzheimer, além de medicamentos que ajudam a retardar a evolução dos sintomas. Os cuidados dedicados às pessoas com Alzheimer, porém, devem ocorrer em tempo integral. Cuidadores, profissionais de enfermagem, outros profissionais e familiares, mesmo fora do ambiente dos centros de referência, hospitais e clínicas, podem encarregar-se de detalhes relativos à alimentação, ambiente e outros aspectos que podem elevar a qualidade de vida dos pacientes.
Sobre a pesquisa
O estudo “Lacunas da comunicação sobre a doença de Alzheimer nas mulheres” faz parte de um levantamento global do Coletivo Weber Shandwick, realizado este ano em países da Europa, Ásia e América Latina. Desenvolvido por analistas de dados e especialistas em saúde, o estudo proprietário investigou aspectos negligenciados da saúde da mulher no universo da comunicação, nas conversas em mídias sociais, na política e na sociedade em geral.
A pesquisa marca o lançamento de uma disciplina global da agência com foco na Saúde da Mulher. A prática engloba o expertise de várias agências do Coletivo Weber Shandwick, reunindo especialistas da United Minds, Cappuccino, Powell Tate e Weber Shandwick, a fim de promover o avanço de temas da saúde da mulher utilizando a comunicação corporativa e de marcas, engajamento de stakeholders, criação de campanhas, cultura organizacional e comunicação interna, inovação digital e assuntos públicos/advocacy.