Embora não seja uma doença, a paralisia cerebral (PC) caracteriza-se por alterações neurológicas permanentes que prejudicam o desenvolvimento motor e cognitivo, envolvendo o movimento e a postura do corpo. A PC pode impactar significativamente a saúde bucal dos indivíduos, tornando o papel do Cirurgião-Dentista muito importante no cuidado integral.
A Cirurgiã-Dentista e membro da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Profa. Dra. Tatiane Marega, explica que a paralisia cerebral é um distúrbio do cérebro imaturo que acontece na infância. “Ela pode ter causas pré-natais (antes do nascimento) perinatais, (no momento do nascimento), que são as mais comuns, e pós-natais (depois de 30 dias do nascimento até os 8 ou 12 anos no máximo), período em que o cérebro termina de se desenvolver. O diagnóstico de Paralisia Cerebral é feito neste momento, enquanto o cérebro é imaturo e ainda não está formado”.
A especialista detalha a atenção do Cirurgião-Dentista junto a esses pacientes em diferentes momentos.
Na identificação precoce
Dra. Tatiane explica que o Cirurgião-Dentista pode identificar sinais precoces de problemas dentários que são comuns em pessoas com paralisia cerebral, como má oclusão e problemas de articulação temporomandibular.
Na prevenção e tratamento
De acordo com a especialista, pessoas com paralisia cerebral podem ter dificuldade em manter uma boa higiene bucal, tornando-se mais suscetíveis a cárie, gengivite e outras condições.
“O Cirurgião-Dentista pode desenvolver métodos de adaptação aos instrumentos de higiene bucal de forma a promover a independência do paciente para o momento da escovação. O profissional pode também fornecer tratamentos preventivos e restauradores adequados”, explica a Dra. Tatiane.
Na educação e orientação
O Cirurgião-Dentista também orientará os pacientes e cuidadores sobre práticas de higiene bucal adequadas.
No que diz respeito ao atendimento e tratamento, Dra. Tatiane detalha que é preciso pensar e realizar um atendimento que leve em conta fatores como:
- Abordagem Individualizada – Cada paciente com paralisia cerebral tem necessidades únicas; portanto, os planos de tratamento são altamente individualizados.
- Manejo Comportamental – Algumas pessoas com paralisia cerebral podem ter dificuldades comportamentais iniciais de adaptação durante as consultas odontológicas; técnicas de manejo comportamental podem ser utilizadas.
- Acessibilidade – Os consultórios devem ser adaptados para acomodar pacientes com mobilidade reduzida.
Orientações para os cuidadores
A higiene bucal regular é um fator importante para o qual os cuidadores devem estar atentos, de acordo com a Dra. Tatiane. “Os cuidadores devem ser orientados sobre como auxiliar na escovação e no uso do fio dental, com instrumentos adequados, que podem ser até adaptados, garantindo que todos os dentes sejam limpos corretamente”.
Outro ponto de atenção refere-se à dieta equilibrada. Segundo a Dra. Tatiane, é preciso orientar os cuidadores a manterem uma dieta equilibrada e limitarem o consumo de açúcares para reduzir o risco de cárie.
Quanto às consultas regulares ao Cirurgião-Dentista, a especialista explica que é necessário estabelecer e manter um regime de consultas regulares para exames de rotina e tratamentos que sejam necessários. Contudo, ela pontua que, para pessoas com paralisia cerebral, pode ser necessária uma frequência maior de consultas, as quais podem ser efetuadas a cada 3 meses, dependendo das necessidades individuais e da presença de problemas dentários específicos.
“O acompanhamento regular é vital para monitorar e tratar problemas de saúde bucal e para adaptar as estratégias de manejo à medida que o paciente cresce e suas necessidades mudam. Dado o impacto significativo que a paralisia cerebral pode ter na saúde bucal, é essencial que os Cirurgiões-Dentistas estejam envolvidos no cuidado multidisciplinar desses pacientes, trabalhando em conjunto com outros profissionais de saúde e cuidadores para proporcionar o melhor atendimento possível”, conclui a Dra. Tatiane.
Sobre o CROSP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com mais de 140 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.
Mais informações: www.crosp.org.br