Você sabe o que é bigênero, capacitismo ou colorismo? E que palavras e expressões como capenga, judiar, aleijado, crioulo ou “pior que cego em tiroteio” não devem ser usadas? Pensando nisso, a Prefeitura de Campinas, interior de SP, lançou o Guia de Terminologias, com o objetivo de promover uma comunicação inclusiva.
Voltado inicialmente para servidores, o material foi revisado e também está disponível para toda a população. “A comunicação inclusiva é responsabilidade de toda a sociedade. É urgente abolir do vocabulário termos ou palavras racistas, preconceituosas ou que acabem ferindo o outro”, diz Eliane Jocelaine Pereira, secretária de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas de Campinas.
A diagramação do Guia facilita a pesquisa das palavras e dos termos e, além disso, os desenhos e símbolos auxiliam na comunicação visual.
Jacqueline Damazio Armando, coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos na Prevenção e Combate do Racismo e Discriminação Social da Prefeitura, avalia que o Guia é uma importante ferramenta na mudança não só do vocabulário, mas também da postura das pessoas.
“É muito gostoso quando você vê uma pessoa que não usa mais um termo como ‘criado-mudo’ porque aprendeu que é um termo racista, que remete a um período triste da nossa história”, disse a coordenadora. “Precisamos adotar expressões que acolham, que nos aproximem e que não gerem nenhum tipo de dor”.
Ainda segundo ela, muita gente usa termos racistas, homofóbicos ou preconceituosos e depois alega que foi sem pensar ou sem refletir. “A importância do Guia é nesse sentido, o de romper com essa ação irreflexiva que a gente tem. Nós precisamos ativar a nossa memória para que todos se sintam incluídos. O que precisamos é ser empáticos com as dores, com as vivências, com as histórias de vida do outro”, completou.
Quem já usa aprova
Edson Fabiano dos Santos é doutorando na faculdade de Educação da Unicamp e diz que o Guia o ajuda no dia a dia. “A cada momento nós temos visto o surgimento de novas terminologias, de novas palavras e conceitos e este material contribui bastante na construção de pensamentos e de textos”, disse.
O desejo de Santos é que o Guia seja atualizado constantemente. “Também espero que com essa ferramenta nós tenhamos a oportunidade de nos comunicar melhor, porque eu acredito muito no diálogo. É por meio do diálogo que nós podemos construir relações igualitárias e sobretudo mais justas”, completou.
Na Prefeitura, os servidores também usam o Guia
Juliana Miorin é coordenadora de Concursos, Recrutamento e Seleção da Prefeitura de Campinas e usa o Guia no dia a dia. “É uma ferramenta muito importante. Na área de concursos é preciso ter um cuidado especial com as palavras e expressões, porque lidamos com diferentes públicos”.
Mas Juliana não usa o guia só no local de trabalho. “É urgente que a gente mude não só a forma de falar, mas principalmente a forma de pensar. Precisamos respeitar as pessoas, suas condições físicas, crenças etc”, disse.
Atuando no Porta Aberta, serviço de atendimento ao público, como coordenadora, Viviane Garcia também utiliza o Guia. “Nós utilizamos o material no nosso dia a dia e divulgamos para todos os nossos atendentes. É didático, bonito e bem feito, que nos ajuda a atender o público diversificado que passa pelos nossos postos de atendimento”, disse.
Ainda segundo a coordenadora, são vários os exemplos de situações em que o Guia foi necessário. “Um dos casos é de uma mulher trans que procurou o nosso atendimento com o nome social, mas no documento ainda constava o nome de registro e ela se sentiu ofendida. Nós analisamos o caso e usamos o Guia para orientar toda a equipe para prestar um atendimento adequado”, completou.
Conteúdo
O Guia de Terminologia sobre Políticas Afirmativas traz diversos termos que são usados corretamente e outros que caíram em desuso ou representam preconceito. O conteúdo está agrupado em diversidade, pessoa idosa, igualdade de gênero, migração e igualdade racial.
A publicação também traz um conjunto de símbolos que auxiliam na comunicação visual.
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