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  • qui. nov 21st, 2024

No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, atletas comentam luta por autonomia, inclusão e contra o capacitismo

No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, atletas comentam luta por autonomia, inclusão e contra o capacitismo

Fernando Aranha, 45 anos, é um atleta do Triathlon. Já Roger Gross Jacintho, 24, compete no Atletismo. Os dois vivem e treinam na Grande São Paulo. Além dessas duas características, eles ainda possuem outra questão em comum: ambos são pessoas com alguma deficiência. No Dia Mundial da Pessoa com Deficiência, celebrado neste domingo (3), os dois paratletas comentam sobre suas conquistas, a luta por mais inclusão e contra o capacitismo, e o que faz a diferença para que eles sejam competidores em alto nível em suas modalidades.

Fernando e Roger fazem parte de um grupo de 3,6 milhões de moradores do estado de São Paulo que possuem algum tipo de deficiência, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) Contínua divulgada em julho de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Isso representa 7,85% do total de paulistas. Quando o retrato é a Região Metropolitana da capital, são 1,4 milhão de pessoas, o que significa 6,73% dos moradores da Grande São Paulo.

Parte desta população possui algum tipo de dificuldade na mobilidade, como é o caso de Fernando, que utiliza uma cadeira de rodas devido às consequências da poliomielite. Entre a adolescência e o início da vida adulta, ele começou a praticar basquete e, desde então, não saiu mais dos esportes. Mudou de modalidade, devido a rotinas de trabalho e estudo, e optou por migrar para competições individuais até escolher o Triathlon. “Esse é o esporte que me deu mais realização e satisfação para representar o Brasil nas competições”, diz o atleta, que já competiu dentro e fora do país, e conquistou títulos no Campeonato Brasileiros de Triathlon.

Roger é natural de Porto Alegre (RS), mas mudou-se para São Paulo antes mesmo da pandemia de Covid-19 para praticar esportes. Ele precisou retornar para a capital gaúcha com a chegada do coronavírus ao país, mas retornou em 2022 para São Paulo. Com isso, no ano passado, conquistou o título de Campeão Brasileiro de Paratletismo na classe T62. O atleta nasceu com uma má formação nas pernas, e por isso necessita utilizar uma prótese em cada membro para o seu calendário de duros treinos diários. “A gente tem que cuidar da alimentação, do sono, é preciso ter uma rotina de atividades de segunda-feira a sábado, com treinos em dois períodos por dia. Não tem essa história de descansar”, afirma.

Dificuldades e preconceito

Ainda que os dois atletas tenham dias puxados de exercícios com foco nas competições, com toda a assistência necessária, os dois reconhecem que a população nestas condições ainda enfrenta muitas barreiras, mesmo com alguns avanços conquistados. Roger menciona a questão do capacitismo, o preconceito contra pessoas com deficiência, que ainda está presente na sociedade. “Dificuldade existe para todo mundo, e cada um tem a sua. Mas não é porque eu não tenho as duas pernas que o que eu faço é uma superação. Acho melhor tirarmos essa imagem de coitadinho e mostrar mais a motivação que isso pode gerar para as pessoas”, comenta o atleta.

Fernando fala sobre a importância das pessoas com deficiência se mostrarem mais para a sociedade com suas demandas. “O nosso entorno só vai melhorar quando a gente se expor, mostrar demandas necessárias, e com isso o poder público e a sociedade não precisam nos tratar como um prato de porcelana. O ser humano é apto, como também tem necessidade de se sentir produtivo”, comenta o atleta.

O atleta ainda acredita na necessidade de inclusão de forma mais ampla, quando menciona os problemas que os deficientes enfrentam em grandes cidades, como São Paulo. “Quando penso nisso é de uma maneira mais universal de olhar uma cidade para todos. Se uma calçada pode ser ideal para um deficiente, também vai ser o lugar de bom acesso para uma mulher com um carrinho de bebê, por exemplo. Se existe um poste no meio da calçada e não tiver o recuo para uma cadeira de rodas, uma pessoa com bicicleta também terá dificuldades”, avalia.

Tecnologia para a independência e autonomia

Os equipamentos utilizados pelos dois atletas permitem que eles alcancem índices satisfatórios para a participação em competições de alto nível, e não apenas para o cotidiano fora dos treinos. Ambos contam com tecnologias desenvolvidas pela empresa alemã Ottobock, que também atua no Brasil.

Segundo o CEO da organização na América Latina, Marcelo Cuscuna, a luta contra o capacitismo e por autonomia também precisa envolver a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia de ponta para deficientes. “A tecnologia tem uma finalidade: beneficiar a população. Com isso, precisamos mostrar o que podemos oferecer para esse público com deficiência. Atletas com próteses ou cadeira de rodas para os treinos podem incentivar outras pessoas a seguirem no mesmo caminho”, afirma.

Fernando acredita que os equipamentos de ponta para os atletas e pessoas comuns, conforme suas necessidades diárias, garantem melhores condições para os deficientes. A cadeira que o atleta utiliza permite que ele faça ajustes em questões como altura e centro de gravidade para o conforto e ergonomia, o que é uma vantagem para sua competição. “A partir do momento que eu tenho uma cadeira confiável, robusta, ajustável, me permite estar em uma condição ideal de igualdade”.

O CEO da empresa ainda menciona a importância do tratamento multiprofissional e técnico para garantir a autonomia dessas pessoas. “A tecnologia, por si só, não é o suficiente se os pacientes não tiverem à disposição profissionais e estruturas focadas em fisioterapia, terapia ocupacional e assistência técnica para seus equipamentos. A cadeira de rodas e as próteses são essenciais para essas pessoas e precisam estar perfeitas e adaptadas para uso”, explica.

Roger, que utiliza dois tipos de próteses (sendo que uma delas é uma lâmina específica para corridas), comenta que o suporte técnico e profissional é necessário para um atleta progredir em seus treinos e ter segurança para as competições. “Isso é importante porque faz com que a gente tenha uma dinâmica muito melhor para evoluir e ter mais conforto no uso das próteses”, analisa.

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