INCLUSÃO – Sociedade do Cuidado: queremos, precisamos
Da escada, desafios. Na rua, muitos, mas ninguém. A sensação de estar sozinho em meio a 8 bilhões
de seres da mesma espécie devasta. A sociedade ideal para uma Pessoa com Deficiência parece estar a
milhas e milhas de distância. Distância que fica mais distante quando nos negamos a incluir e ajudar
com ações tão simples, como ceder um braço, ler um texto, explicar algo.
Acordadas, as Pessoas com Deficiência sonham com seu mundo ideal: a Sociedade do Cuidado. O
têrmo ganha mais fôlego com o livro “Além das limitações: uma jornada pela história da deficiência
e a sociedade do cuidado”, de Pérola de Paula Sanfelice e Daniele Schorne de Souza.
“Ao adotarmos uma mentalidade de inclusão, respeito e empatia, construiremos um futuro mais justo e
acolhedor para todos, inclusive para nós mesmos, que podemos vir a necessitar futuramente.” O livro nasceu de diálogos entre as duas historiadoras durante a pandemia. Dessas conversas, surgiram as primeiras pesquisas sobre o tema, olhando tanto para documentos históricos quanto para a arqueologia.
“O que chama a atenção nesses achados arqueológicos não é que tem uma pessoa com deficiência ali, é como aquela pessoa com deficiência cresceu e se desenvolveu, foi cuidada. Esse é o nosso ponto”, explica Daniele.
Mas não se engane: não é um livro complicado ou teórico demais. Pérola o compara ao “Pequeno Manual
Antirracista”, de Djamila Ribeiro. A ideia, portanto, foi produzir um “pequeno manual anticapacitista”.
Ainda segundo a autora, “as pessoas precisam ser letradas. Assim como tem o letramento racial, tem
essa questão do letramento anticapacitista, porque a nossa estrutura é capacitista”.
Da história à legislação, passando pelos equipamentos e até por sugestões de filmes, o investimento é
na linguagem simples, mas assertiva, levando a narrativa para um objetivo comum: a sociedade do
cuidado. As autoras acreditam que tudo passa pela gentileza. Pérola fala de uma vivência com sua
filha que a fez refletir:
“Eu estava colocando a cadeira de rodas da Pétala no porta-malas do carro. Chegou um homem e
falou: “você precisa de ajuda?”. Na hora eu olhei e pensei assim “que que ele tá pensando? Que eu não
dou conta porque sou fraca, porque sou mulher?” Respirei e falei: “não, muito obrigada”. Mas depois
eu pensei – fiquei uns dez minutos no carro cansada, porque a cadeira dela é pesada – “por que eu disse
não?”. Por que não me permiti ser cuidada? É uma rede de gentileza. Se esse homem que oferece
ajuda para mulheres, para pessoas com deficiência, para idosas, sempre ouvir um não, ele vai pensar
“ninguém precisa de mim, vou parar de ser gentil”. Acho que é essa a rasura que a gente vai
construindo socialmente. As pessoas vão podando a gente, e a gente vai formando uma carapaça“.
Edylaine Ribeiro, líder de projetos da ASID Brasil e Pessoa com Deficiência, foi uma das primeiras a ler. A psicóloga dá seu depoimento sobre o conteúdo: “ Um livro muito didático, com informações apresentadas de forma muito simples, como precisamos hoje em dia. Gostei muito de muitas trajetórias históricas que o livro aprofundou e eu nem tinha pegado. Fui conectando coisas históricas“.
Serviço
O quê?
Lançamento do livro “Além das limitações: uma jornada pela história da deficiência e a sociedade do
cuidado”.
Quem?
Autoras: Pérola de Paula Sanfelice e Daniele Schorne de Souza
Realização: Núcleo de Mídia e Conhecimento e Governo Federal, através do Ministério da Cultura;
Patrocínio: Itambé, Rumo e PremieRpet, via Lei Rouanet;
Apoio: ASID Brasil e Fundação Iniciativa;
Quando?
Dia 8 de Dezembro, à partir das 9 horas
Onde?
O lançamento ocorrerá de forma online. As autoras vão abordar os principais tópicos do livro e
responder perguntas.
Por quê?
8,9% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Isso são 18,6 milhões. Com o preconceito e as dificuldades que ele gera, surgem dados preocupantes:
● A taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência é de 19,5%. Em pessoas sem
deficiência a taxa é de 4,1%.
● Das pessoas com deficiência com 25 anos ou mais, 25,6% concluíram a educação
básica (até o ensino médio). Em pessoas sem deficiência, essa taxa é de 57,3%
● A taxa de pessoas com deficIência com 25 anos ou mais que concluíram o ensino
superior é de 7%, contra 20% de pessoas sem deficiência
O livro é um esforço para a compreensão da história da Pessoa com Deficiência, do capacitismo e da
luta pela inclusão. É combater o preconceito entendendo o conceito.