Em estágios iniciais, muitas doenças possuem sinais inespecíficos que acabam passando despercebidos até para quem os sente. Dor crônica e fadiga são “sintomas invisíveis”, que podem indicar, por exemplo, neuromielite óptica (NMO) – uma doença causada por surtos graves e recorrentes no sistema nervoso central que podem resultar em incapacidades permanentes, como perda de visão e paralisia.1 “Esses sinais podem ser menosprezados em um primeiro momento, por isso, é preciso estar atento”, explica Dr. Felipe Von Glehn, médico neurologista especializado em neuroimunologia.
A causa da neuromielite óptica ainda é desconhecida, contudo, ela pode surgir após uma infecção ou pode estar associada a outra doença autoimune.2 “A NMO faz com que o corpo produza um anticorpo chamado anti-aquaporina 4, que ataca a proteína responsável por transportar água no sistema nervoso. Com isso, ocorre uma destruição de células e fibras nervosas na medula espinhal (mielite) e fibras nervosas no nervo óptico (neurite óptica). Cada episódio grave ou agudo da doença pode gerar danos irreversíveis, portanto é de suma importância conscientizar a sociedade, a classe médica e profissionais da saúde sobre os sintomas, principalmente os invisíveis, para que os pacientes sejam diagnosticados e recebam o cuidado adequado precocemente”, complementa o especialista.
Ainda que a dor crônica e a fadiga sejam consideradas sintomas invisíveis, o impacto delas na qualidade de vida dos indivíduos pode ser facilmente percebido, uma vez que 40% dos pacientes com NMO podem apresentar um quadro depressivo, resultado da dor intensa que sentem1 e 60% deles relatam impacto significativo no trabalho, atividades físicas e capacidade de realizar tarefas em geral 2.
Os pacientes acometidos por essa enfermidade podem sentir também dores nos olhos, sensações alteradas com sensibilidade à temperatura, dormência e formigamento, além de membros fracos e pesados. Outros pontos de atenção são vômitos e soluços que duram mais de 48h e não possuem causa gástrica4. “Garantir que a sociedade esteja munida de informações sobre essa doença debilitante, é uma forma de corroborar para mantermos a independência, autonomia e qualidade de vida dos pacientes. Principalmente porque a média de idade do aparecimento é aos 40 anos, ou seja, em plena fase produtiva. O quanto antes for feito o manejo adequado, mais chances de evitarmos danos sérios nesses indivíduos”, finaliza o neurologista.
No Brasil, estima-se que até 10 mil brasileiros convivam com neuromielite óptica. O diagnóstico da doença é feito com base no histórico do paciente, avaliação clínica e identificação das descobertas de características físicas. Além disso, o teste AQP4-IgG, um simples exame de sangue usado para detectar anticorpos que são específicos para a proteína aquaporina (AQP4), é capaz de diagnosticar até 80% dos pacientes.3 Em caso de suspeita, a realização deste teste é fundamental para a confirmação.
Referências
[1] Ayzenberg I, Richter D, Henke E et al. Pain, depression, and quality of life in neuro myelitis optica spectrum disorder: a cross sectional study of 166 AQP4 antibody seropositive patients. Neurol Neuroimmunol Neuroinflamm. 2021;8(3):e985. doi:10.1212/ NXI.0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 8 5.
[2] Eaneff S, et al. Patient perspectives on neuromyelitis optica spectrum disorders: data from the PatientsLikeMe online community. Mult Scler Relat Disord. 2017;17:116 122.
[3] Ajmera MR, et al. Evaluation of comorbidities and health care resource use among patients with highly active neuromyelitis optica. J Neurol Sci.2 0 1 8;384:96 103]
[4] Neuromyelitis optica Mayoclinic org Publicado em 15 de dezembro de 2015 Acesso em 14 de setembro de 2022. Link
[5] NORD (National Organization for Rare Disorders). 2021. Neuromyelitis Optica Spectrum Disorder NORD (National Organization for Rare Disorders).Disorders).[on line] Disponível em: Link. Acesso em 14 de setembro de 2022.