O canal da ASID Brasil no youtube foi o palco para o lançamento do livro “Além das limitações: uma
jornada pela história da deficiência e a sociedade do cuidado”, das historiadoras Daniele Shorne de Souza
e Pérola de Paula Sanfelice. O evento marca a realização de um sonho que começou com o reencontro das historiadoras e foi amadurecendo durante a pandemia, tendo sido concretizado graças a um projeto
aprovado na lei Rouanet, realização do Núcleo de Mídia e Conhecimento, com patrocínio da Itambé
Energética, da Rumo logística e do Instituto PremieRPet, além do apoio da Fundação Iniciativa e da
ASID Brasil.
Após a abertura, foram realizados os painéis temáticos, mediados por Edilayne Ribeiro, líder de projetos
da ASID Brasil e pessoa com deficiência física. O primeiro bloco foi dedicado inteiramente às autoras,
que contaram sobre o processo de pesquisas e sobre as motivações para a escrita. Pérola contou sobre
como sua filha a fez mergulhar no universo das pessoas com deficiência e enxergar a falta de pesquisa
histórica sobre o tema. A doutora e professora universitária aproveitou para destacar a importância de
quebrar mitos sobre o assunto, especialmente os que envolvem civilizações antigas, que seriam, dentro
desses mitos, responsáveis pela mutilação e assassinato de pessoas com deficiência. Ela ensina que a
diferenciação da espécie humana em relação às suas antecessoras na linha evolutiva se dá justamente pelo cuidado, ou seja, a capacidade de cuidar de nossos iguais nos fez saltar na escala evolutiva. O objetivo do livro, assim, é resgatar a história, entendendo como ocorria o cuidado para reaplicarmos tais modelos na atualidade.
E na reta final, quase enviando o texto final para a publicação do livro, uma surpresa que só veio para tornar a obra ainda mais especial e inédita: um achado arqueológico no Brasil de um indígena em idade
avançada, visivelmente uma pessoa com deficiência, que foi enterrado com diversos elementos de honra na cultura a que pertencia.
Mas o que aconteceu que esse cuidado deixou de existir? Segundo Daniele, a revolução industrial. As autoras explicam que a ascensão do individualismo, próprio das épocas pós-industriais, levou o mundo ao capacitismo e à marginalização da pessoa com deficiência. A saída estaria em buscar a centralidade da gentileza e entender que, com o aumento contínuo da expectativa de vida, todos estamos propensos a nos tornar pessoas com deficiência.
No segundo bloco, brilharam Luíse Gomes, advogada e analista de projetos da ASID Brasil, pessoa com
deficiência visual, e Luiz Rodrigo de Souza, funcionário no financeiro de uma multinacional e esposo da
autora Daniele Shorne. Luiz possui uma paralisia no lado direito do corpo. Para ele, o desenvolvimento
de uma pessoa com deficiência passa por uma liderança preparada e disposta a incluir. Mas existem
desafios: com sua experiência no mundo corporativo, ele conta que as pessoas com deficiência têm maior
dificuldade em ascender na carreira, isso porque, segundo ele, “se você sobe para gerente, a vaga de
gerente se transforma numa vaga PCD”, e muitas empresas não estão dispostas a tal mudança. Mas há
exemplos nos sentido oposto. Na sua empresa, por exemplo, ao sugerir que alguns diretores tivessem um
curso de LIBRAS, obteve uma resposta inesperada, a de que todos os gestores teriam o dever de aprender a língua de sinais para se comunicar com os seus colaboradores. Apesar disso, complementa Luíse Gomes, há questões de gênero que atravessam o desafio da inclusão. Ela lembra das mães solo de pessoas com deficiência que, além do desafio de cuidarem sozinhas de seus filhos, ainda precisam buscar meios de gerar renda.
O terceiro bloco foi mediado por Matheus Garcia, diretor comercial da ASID Brasil. Participaram da
conversa os líderes de novos negócios da ASID, Pedro Ivo Toscano e Amanda Lyra. Amanda reforça com dados o relato de Luiz Rodrigo, sobre a dificuldade de ascensão na carreira. Ela também aponta para
os preconceitos estruturais como barreiras para a evolução da situação profissional para além das
limitações. Pedro lembrou da importância das redes de apoio e do desenvolvimento de uma educação
inclusiva, com vistas à equidade.
O evento encerrou com Fábio Chedid Silvestre, CEO do Núcleo de Mídia e Conhecimento. Ele deu
detalhes sobre a produção do projeto e sobre o nascimento da ideia central. “Um livro para a humanidade, não só para as pessoas da humanidade, mas para a humanidade das pessoas.”