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  • sex. nov 22nd, 2024

Espaços de lazer inclusivos para pessoas autistas ainda são poucos no Brasil

Espaços de lazer inclusivos para pessoas autistas ainda são poucos no Brasil

No Brasil, onde cerca de 2 milhões de pessoas têm Transtorno do Espectro Autista (TEA), a adaptação dos espaços de lazer às necessidades neuroatípicas desses indivíduos é uma realidade ainda distante. A experiência de quem vive com TEA não é frescura: apegar-se a objetos e rotinas específicas, apresentar déficit de comunicação e de interação social; além de grande sensibilidade a estímulos sensoriais, são desafios enfrentados diariamente.

Algumas iniciativas vêm surgindo na busca por espaços inclusivos para pessoas com TEA, mas elas ainda são poucas, se levarmos em conta a extensão de nosso país. Parques temáticos – locais cheios de estímulos sensoriais -, também já estão se adaptando. O Beto Carrero World, em Santa Catarina, e o Hopi Hari, em São Paulo, já oferecem, inclusive, descontos e gratuidade para autistas e acompanhantes.

O defensor público André Naves, especialista em Direitos Humanos e Sociais, destaca a importância desses movimentos em prol de uma vida mais leve e divertida para os autistas. Ele pede que as pessoas estejam atentas para reduzir o estigma, promover a aceitação e a compreensão das diferenças individuais de cada um. “A conscientização sobre o autismo é crucial para que surjam novas iniciativas e políticas públicas inclusivas, para o maior acesso à diversão e a serviços essenciais. O que vemos até agora é muito pouco”, ressalta.

No Grupo Chaverim, que funciona na Hebraica, na capital paulista, são oferecidas diversas atividades recreativas, culturais e educacionais que garantem melhor qualidade de vida a pessoas com deficiência intelectual e psicossocial que enfrentam dificuldades de socialização e comunicação. O local conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais capacitados para atender as necessidades específicas de cada participante, respeitando suas potencialidades e limitações.

“O Chaverim é um lugar onde pessoas com vários tipos de transtornos podem se sentir à vontade, fazer amigos e aprender coisas novas. Meu filho, David, tem 31 anos e é Down com autismo moderado. Na realidade, ele só foi diagnosticado com autismo há cerca de 1 ano. Ele participa de várias atividades e adora. Quando não está no Chaverim, prefere locais ao ar livre, onde não há tanto barulho; mas frequenta até mesmo ‘baladas’ em que o som não é alto”, conta a mãe de David, Sandra Goldzveig.

O paulistano Allan Zac Marcus é outro frequentador do Chaverim que tem TEA. Ele aponta que é preciso criar ou adaptar mais espaços de lazer para receber os autistas. “Eu vou a parques, ao Museu da Língua Portuguesa, que eu adoro, mas odeio locais com muita gente e com muito barulho. Vou ao Chaverim também porque lá consigo me relacionar melhor com outras pessoas”, explica.

A boa notícia é que os estádios de futebol também estão se tornando mais inclusivos. O Corinthians, pioneiro na iniciativa, criou o Espaço TEA na Neo Química Arena, que atende até 160 pessoas. Outros times, como o São Paulo, o Coritiba e o Goiás seguiram o mesmo exemplo e já contam com salas sensoriais para torcedores autistas. Até mesmo nos aeroportos, como o de Congonhas, em São Paulo, espaços sensoriais estão sendo implantados para proporcionar conforto aos viajantes autistas.

“Precisamos que novas iniciativas sejam discutidas e implementadas em todo o país. Trabalhar por uma sociedade inclusiva deve ser um projeto de todos”, enfatiza André Naves.

Em seu livro “Como é ser autista”, a britânica Charlotte Amelia Poe lembra, por sua vez, que ambientes mais relaxados beneficiam não apenas autistas, mas a todos, em uma sociedade cada vez mais agitada. “Ao tornar os espaços públicos mais acessíveis e amigáveis, mostramos até para quem nunca percebeu, o quão estressante era visitá-los. Até que esses estímulos desnecessários sejam removidos”, pontua a escritora.

Outros espaços inclusivos no Brasil:

Parque da Mônica – São Paulo/SP: Exemplo de recreação inclusiva, o parque oferece a “Sala do Silêncio” e a “Hora do Silêncio”, reduzindo estímulos sonoros e visuais; além de entrada gratuita, diariamente, para crianças autistas, e desconto para acompanhantes.

Ilha do Mel – Paraná: É considerada a primeira Ilha inclusiva para autistas no Brasil. Mais de 50 estabelecimentos da Ilha receberam o Selo de Empresa Amiga de Pessoa Autista por iniciativas em prol da inclusão, após capacitação de empresários e colaboradores.

Museu Oscar Niemeyer (MON) – Curitiba/PR: O Museu inaugurou a Sala de Acomodação Sensorial (SAS), adaptada para acolher não só pessoas autistas, mas todas as neurodivergentes, ampliando sua ação inclusiva.

Vale ressaltar que a criação de espaços inclusivos para pessoas autistas vai além da adaptação física em locais públicos. A neuroarquitetura, um novo modo de pensar a arquitetura, desempenha papel crucial na satisfação e acolhimento dos autistas, ao apontar a necessidade de ambientes organizados, com poucos estímulos visuais e auditivos, contribuindo deste modo para o bem-estar desses indivíduos.

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