- OPINIÃO
- * Por Fábio Cordeiro
Hoje eu acordei e parecia uma manhã como qualquer outra. Minha rotina é muito bem definida, como sempre. Gosto que as coisas aconteçam sempre de maneira muito parecida. Sair do planejado me deixa aflito.
E, assim, prossegui. Tomei meu café e fui ver as notícias. Parecia ser uma data especial, já que várias manchetes falavam do mesmo assunto. Muito interessante, vamos ver do que se trata.
Estão falando sobre uma condição, parece que nem é tão rara assim. Aqui diz que existem milhões de pessoas vivendo no Brasil com essa condição. Ao que tudo indica, o mundo todo está repleto de pessoas que existem dessa maneira. E hoje é dia de conscientizar! Pelo menos, isso é o que salta nos destaques das matérias das redes e dos jornais.
Conscientizar! Curiosamente, antes de pensar sobre o que estavam buscando conscientizar, acabei me prendendo a esse termo. Seja sobre o que for, não vai importar muito se eu não souber o que acarreta a tal conscientização. Trazer à consciência! Tornar-se ciente de alguma coisa.
E aí uma questão puxa a outra. Como ficar ciente sem que aquilo seja comum para mim?
E aí penso no que é comum. Ser um indivíduo que vive numa sociedade é comum. Ser alguém que acorda e segue sua rotina é comum. Também é comum ser alguém que não se planeja muito e leva um dia de cada vez. Estar atento às notícias é comum, não dar a mínima para o que diz o jornal também.
Existem muitas maneiras de existir, todas muito comuns. Mas existe também o incomum. E pasmem, o ser incomum é mais comum do que podemos imaginar.
E aí é que se faz a humanidade. Dentro dessas variações de normalidade em que o meu comum parece estranho aos meus incomuns. E vice-versa. E vice-versa!
Você pode acordar um dia e perceber que, no seu mundo, tantas coisas não são conscientes para você. Mas é importante saber que o seu mundo termina a partir do momento em que você abre os olhos no despertar de cada manhã. A partir dali, você passa a estar num mundo que é de todos, e ali os vários comuns coexistem numa comunidade que só pode existir se for diversa.
Não existe sociedade sem diversidade, e essa é a primeira ciência que devemos ter. Depois, precisamos estar conscientes de que não sabemos de tudo, mas sempre podemos aprender. E aprender é ouvir, é aceitar.
Tornar-se consciente é entender que talvez o que não nos parece normal seja apenas o nosso desconhecimento e os nossos preconceitos falando mais alto. E, sim, todos temos preconceitos, o que nos diferencia de sermos conscientes ou não é o que vamos fazer com esses preconceitos.
Hoje, o dia é da Conscientização sobre o Autismo. Dia de desconstruir os conceitos errôneos que possivelmente se tenha sobre o assunto. Dia em que essa condição está em evidência e temos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essas pessoas. Porque, quando falamos sobre condições humanas, é sobre pessoas que estamos falando.
Pessoas que acordaram hoje, numa manhã que parecia ser como qualquer outra, tomaram seu café e foram ler as notícias. Hoje, as notícias traziam que o Autismo não é uma doença. As manchetes diziam que ser uma Pessoa Autista não é ser menos do que ninguém. O jornal dizia que a pessoa nessa condição merece ter as mesmas oportunidades, em igualdade de condições, que qualquer outra pessoa.
Diziam que não se deve usar o Autismo como adjetivo pejorativo, que não se deve fazer piadas que diminuam a Pessoa Autista apenas pela sua maneira de ser ou pelas suas dificuldades.
E tudo isso parece tão óbvio quando vejo estampado nos jornais e nas redes sociais que até penso como foi que não tive consciência disso antes? Ao mesmo tempo, percebo que a resposta não importa. Importa é o que vou fazer daqui pra frente com essas informações.
Se eu não ouvir, aprender e aceitar, de nada vai adiantar. A evolução do ser se dá através da desconstrução dos preconceitos para que não venham a se tornar atos de discriminação, mesmo que inconscientes, que possam ferir não apenas as leis como a existência de alguém. A beleza da conscientização é que ela funciona sempre daqui pra frente.
Todos já cometemos atos que pecaram em relação ao que não tínhamos ciência. Em cada manhã que abrimos nossos olhos e nos levantamos para compartilhar o mundo com todas as maneiras que alguém possa existir nesse mundo, temos uma nova oportunidade de aumentar nossa consciência.
Hoje, dia 2 de Abril, é o dia que marca a Conscientização sobre o Autismo, um marco importante nessa nossa caminhada de evolução. Temos, então, a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essas pessoas. Mas todo dia é dia de conscientizar-se sobre algo. Hoje é só mais uma oportunidade, não a perca!
- * Fábio Cordeiro é Presidente ONDA-AutismoS
Artigo originalmente publicado em Radar AutismoS – https://ondaautismos.com.br/