fbpx
  • sáb. nov 23rd, 2024

Doença genética ultrarrara transforma pessoas em ‘estátuas’

Doença genética ultrarrara transforma pessoas em ‘estátuas’

Pessoas com fibrodisplasia ossificante progressiva (FOP), que não tem cura, desenvolvem um extra esqueleto afetando sua mobilidade e qualidade de vida

Aos quatro anos, Janaína Kuhn, hoje com 40 anos, sofreu uma queda e, tempos depois, um osso começou a se formar na sua lombar. Somente por volta dos seus 22 anos, que ela finalmente descobriu a razão do seu corpo desenvolver um extra esqueleto sempre que se machucava e, posteriormente, rigidez dos seus movimentos: a fibrodisplasia ossificante progressiva (FOP), doença genética ultrarrara que afeta uma a cada um milhão de pessoas no mundoe tem o dia 23 de abril, como o Dia Nacional de Conscientização sobre a FOP.

Por menor que seja, qualquer trauma, como injeções, viroses, machucados, procedimentos odontológicos, cirurgias e até fisioterapia tradicional, pode desencadear a formação de estruturas ósseas entre os tecidos moles e conjuntivos, como músculos, tendões e ligamentos1,2, causando dores e limitações motoras para a pessoa com FOP. Aos 18 anos, foi submetida a uma cirurgia, o que gerou ainda mais complicações para sua qualidade de vida. “Eu era uma menina muito traquina, então, terminei o ensino médio sentada na carteira da escola, pois meu quadril já se encontrava totalmente ossificado”, conta ela. Mesmo internada, ela não perdia bom humor. “Dizia para o médico: ‘me dá uma roupa de espuma e me dá alta’”, brinca ela que, por conta de toda a experiência com a doença, se tornou presidenta da Associação Brasileira de Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP Brasil) e membra do Comitê Internacional de Presidentes (IPC) do International Fibrodysplasia Ossificans Progressiva Association (IFOPA).
 

A médica Patrícia Delai, especialista em FOP, explica que os traumas e processos inflamatórios sofridos pelos músculos geram a morte da fibra e em seu lugar um osso na região. “É uma doença muito desafiadora, pois transforma as pessoas em verdadeiras estátuas”, diz. Somente em 2006, os pesquisadores descobriram o gene responsável pela FOP. Denominado de ALK2/ACVR1, o gene estimula a produção de uma proteína que interage com as chamadas proteínas morfogenéticas ósseas ou BMPs, resultando na formação das estruturas ósseas.3,4
 

Por anos, o diagnóstico era clínico por meio da identificação da malformação dos dedos grandes dos pés virados para dentro e nódulos incomuns na cabeça, pescoço ou na parte superior das costas.5,6 “Os exames de imagem como raio x e tomografia também ajudam a confirmar a FOP, mas hoje já existe exame genético. O diagnóstico precoce é essencial para que seja iniciado um manejo adequado da pessoa. Em caso de suspeita, é mandatório suspender todos os procedimentos cirúrgicos, injeções e vacinas intramusculares, pois qualquer trauma no músculo pode desencadear a formação de um novo osso”, explica a médica.
 

São justamente os diversos traumas que definem a qualidade de vida das pessoas. “O diagnóstico não chegou a me assustar. A partir dele, comecei a investigar o que eu tinha e perceber que fazia tudo errado até os meus 22 anos, inclusive fisioterapia. Hoje me cuido. Estou dura, mas estou caminhando”, conta Janaina. Sua principal bandeira à frente da FOP Brasil é aumentar a conscientização sobre a doença, principalmente com profissionais de saúde para buscar reduzir o tempo até o diagnóstico e com isso dar o acompanhamento adequado para os pacientes. “Há um desconhecimento sobre a doença. Os médicos com quem consulto discutem comigo qual medicamento eu devo tomar, mas muitas pessoas ficam quietas diante dos médicos”, argumenta ela, que ainda tem a esperança de chegada de um tratamento específico para a doença.

PAL-BR-000006|ABR2024

Referências


1 Baujat G, Choquet R, Boueé S, et al. Prevalence of fibrodysplasia ossificans progressiva (FOP) in France: an estimate based on a record linkage of two national databases. Orphanet J Rare Dis. 2017:12(1):123.

2 Kaplan FS, Shen Q, Lounev V, et al. Skeletal metamorphosis in fibrodysplasia ossificans progressiva (FOP). J Bone Miner Metab. 2008; 26(6):521–30.

3 Shore E, Kaplan FS. A recurrent mutation in the BMP type I receptor ACVR1 causes inherited and sporadic fibrodysplasia ossificans progressiva. Nat Genet. 2006; 38:525–7.

4 Shore EM, Kaplan FS. Inherited human diseases of heterotopic bone formation. Nat Rev Rheumatol. 2010; 6(9):518–27.

5 Pignolo RJ, Shore EM, Kaplan FS. Fibrodysplasia ossificans progressiva: diagnosis, management, and therapeutic horizons. Pediatr Endocrinol Rev. 2013;10(0 2):437–48.

6 Kaplan FS, et al. In: J Bilezikian et al., editors. Primer on the Metabolic Bone Diseases and Disorders of Mineral Metabolism. 9th ed. Washington, DC: American Society for Bone and Mineral Research, 2019:865–70.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *