Jogos sensoriais e pranchas de comunicação podem ajudar a regularizar a rotina das crianças atípicas nos abrigos
Durante as recentes inundações no sul do país, a tarefa de manter uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ocupada e confortável se torna ainda mais desafiadora. Esta semana, a história do menino Davi, que foi levado para um abrigo a 80 quilômetros da capital e ficou uma semana separado da mãe, trouxe reflexões sobre a melhor forma de acolher as crianças autistas, neste momento. Enquanto Davi estava separado da mãe, teve uma sequência de crises e precisou de auxílio de profissionais para se regular. Enquanto organizações não governamentais (ONGs) se mobilizam para oferecer suporte, incluindo o recrutamento de voluntários, é crucial reconhecer o possível impacto psicoemocional duradouro nas crianças autistas após o fim das enchentes.
Marília Macêdo, fonoaudióloga e sócia da Clínica MedAdvance, ressalta a variedade de consequências dessa tragédia que pode afetar as crianças autistas e explica sugestões para mitigar esses efeitos. “A redução da sobrecarga sensorial é de extrema importância, principalmente em momentos como esse: Importante que as pessoas doem brinquedos silenciosos, abafadores e objetos ajudem na regulação das crianças. Brinquedos/objetos macios, bolinhas de sabão, kit de desenhos, pinturas, brinquedos de encaixe, quebra cabeça, jogos da memória, por exemplo, são recursos terapêuticos que ajudam a desenvolver habilidades como, atenção, criatividade e diminuir a ansiedade.
Além disso, o constante ruído de alarmes, sirenes e o aumento do tráfego de veículos de emergência podem desencadear crises sensoriais em autistas com hipersensibilidade auditiva. “É necessário paciência e empatia para lidar com essas situações”, alertou a profissional.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Rio Grande do Sul divulgou recentemente uma cartilha com orientações sobre a saúde emocional das crianças autistas. A cartilha fornece sinais para identificar crianças com TEA e sugere recursos, como abafadores de ruído, para ajudar na adaptação desses indivíduos.
A fonoaudióloga ressalta que “pranchas de comunicação” e figuras ilustrando banheiros, refeitórios, dormitórios, etc.. servem para estruturar melhor a rotina. Além disso, “é preciso ter cuidado redobrado devido a vulnerabilidades que podem ocorrer”, acrescentou a especialista.
IMAGEM/DESCRIÇÃO: Luciana Borba e o filho Davi após o resgate pelos Bombeiros — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução