Laço azul e laranja já é adotada na Bahia e no Mato Grosso, mas ainda falta reconhecimento nacional
O Grupo Mães do Brasil, representado por 10 instituições sem fins lucrativos com foco na Dislexia, junto ao Instituto ABCD (iABCD) e a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) se uniram para pedir o reconhecimento do laço azul e laranja como símbolo da Dislexia. O movimento conta com o apoio do Deputado Federal Florentino Neto (PT) que está encabeçando um projeto de lei para votação na Câmara dos Deputados.
Atualmente, o Ministério da Saúde estima que mais de 7 milhões de pessoas no Brasil tenham dislexia. Contudo, o número de diagnósticos no país ainda é muito baixo, visto que a dislexia é um transtorno invisível. A condição fica mais evidente durante o processo de alfabetização, pois os disléxicos apresentam dificuldade em associar símbolos gráficos (letras) aos sons e organizá-los mentalmente dentro de uma sequência.
“O melhor momento para reconhecer os sinais da dislexia são nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando as crianças iniciam a alfabetização, mas vemos muitos relatos de diagnósticos sendo feitos nos anos finais desse período ou apenas na vida adulta”, explica Juliana Amorina, diretora-presidente do iABCD.
O impacto da demora no diagnóstico ainda não foi mensurado no Brasil, mas segundo pesquisa do National Center of Learning Disability, estudantes com dificuldades de aprendizagem específicas apresentam três vezes mais chances de abandonar os estudos., especialmente, entre o período final do Ensino Fundamental com o início do Ensino Médio.
Para as instituições que atuam em prol do direito das pessoas com Transtorno Específico da Aprendizagem (TEAp) o símbolo ajuda no reconhecimento do transtorno e da conscientização.“As associações e grupos, majoritariamente formados por mães, surgiram a partir do sofrimento dos filhos. Criamos redes de apoio estruturadas e que lutam para fazer com que outras crianças não passem pelos mesmos problemas que muitas já enfrentaram. O laço nos ajuda a dar mais visibilidade ao transtorno que é invisível aos olhos e, com isso, motivar a empatia pelas pessoas com TEAp”, reforça Gabrielle Coury, representante do Grupo Mães do Brasil Dislexia.
Amorina explica que as cores evocam a esperança por um futuro educacional inclusivo e com mais qualidade, sendo o azul uma cor associada à inteligência, tecnologia, futuro, saúde e educação, enquanto o laranja representa a criatividade, comunicação e alegria. Juntas, essas cores refletem a diversidade de talentos e habilidades da comunidade disléxica.
“Temos muitos estudos evidenciando que os disléxicos possuem habilidades especiais e que, por vezes, são consideradas desafiadoras aos neurotípicos. Precisamos potencializar o alto potencial desse grupo, fornecendo meios para que eles alcancem o desenvolvimento pleno no tempo certo”, completa a diretora-presidente do iABCD.
Mães que vão a luta pelo direitos dos disléxicos
De acordo com o Mapa das Organizações da Sociedade Civil, até novembro de 2020 havia 815.676 organizações da sociedade civil (OSCs) ativas no país, sendo que a área de maior atuação o Desenvolvimento e defesa de direitos, com 35% das entidades mapeadas.
O Grupo Mães do Brasil Dislexia conta com 10 associações e grupos que seguem em defesa do direito dos disléxicos. Dentre elas, podemos citar a Associação Mato-grossense de Dislexia que vem atuando em prol da conscientização, visibilidade e dos direitos para diagnosticados com Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp), como dislexia, disgrafia e discalculia.
“O órgão legislativo do Mato-Grosso reconhece a importância do apoio a causa e tem avançado na aprovação de Leis que podem contribuir com a conscientização e a oferta de condições mais adequadas para a inclusão daqueles que possuem TEAp ou TDAH”, relata Gabrielle Coury, presidente de honra da Associação Mato-grossense de Dislexia.
No estado Mato-grossense o laço azul e laranja já foi aprovado e mais 10 leis foram instituídas pelos parlamentares, dentre elas podemos destacar:
Lei 10.644 / 2017 e 11.230 / 2020 (MT) – Institui o atendimento especializado, nos concursos públicos, vestibulares e nas provas realizadas no Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN de Mato Grosso para as pessoas com dislexia.;
Lei 10.800/2019 (MT) – Dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos portadores de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), com Transtorno do Déficit de Atenção sem Hiperatividade (TDA) e com Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC).
Lei 11.239 / 2020 (MT) – Institui o Plano de Atenção Educacional Especializado – PAE para os alunos diagnosticados com transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, disgrafia e discalculia) nas instituições de ensino e dá outras providências.
Com esse movimento das OSCs nas unidades federativas alguns grupos estão conseguindo ampliar o apoio para âmbito federal, uma das últimas conquistas para os diagnosticados com TEAp e TDAH foi a aprovação da Lei 14.254/2021 que dispõe sobre o acompanhamento integral para estudantes diagnosticados com dislexia ou TDAH ou outro transtorno de aprendizagem.
“Enquanto Instituição estamos acompanhando a aplicação da lei te oferecendo recursos que possam contribuir com o preparo dos profissionais que querem se engajar na causa, com materiais para ajudar as famílias que prestam apoio aos filhos diagnosticados e também para as escolas que carecem de instrumentos para a alfabetização mais inclusiva”, reitera Amorina do iABCD que atua em conjunto com o Grupo Mães do Brasil Dislexia
Sobre o Instituto ABCD
O Instituto ABCD é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica, desde 2009, a gerar, promover e divulgar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia e outros transtornos de aprendizagem, com o objetivo de garantir que todos tenham sucesso na escola, no trabalho e na vida.