OPINIÃO
- * Por Christiana Mello
A presença de profissionais com deficiência no mercado de trabalho é um tema que demanda muita atenção e ação por parte da sociedade e das empresas. A inclusão deste grupo refere-se não apenas a uma questão de justiça social, mas também traz benefícios tangíveis para as organizações e para a comunidade como um todo.
Em um levantamento elaborado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), divulgado em janeiro deste ano, foi apontado que o Brasil contém 545.940 mil pessoas com deficiência e reabilitadas do INSS inseridas no mercado formal de trabalho. 93% destes trabalhadores estão em empresas com mais de 100 empregados, já que a lei vigente diz que a partir deste porte de empresa, de 2 a 5% do quadro total de colaboradores deve ser preenchido por Profissionais com Deficiência.
No entanto, em dados apresentados pelo IBGE, sete em cada dez pessoas com deficiência estão desempregadas, enfrentando desafios significativos para recolocação nas empresas, desde discriminação direta até falta de acessibilidade física e digital nos locais de trabalho. Ausência de recursos e apoio também são obstáculos para quem deseja ingressar no mercado, o que colabora para privar talentos valiosos e grandes oportunidades.
O cenário está mudando?
Muito se fala sobre inclusão, mas estamos, de fato, criando um ambiente inclusivo? Estamos investindo em acessibilidade, políticas públicas e oportunizando capacitação profissional para essas pessoas? Acredito que esses questionamentos devam ser o ponto de partida para refletirmos mais sobre essa pauta e promover mudanças para possibilitar a inserção ou recolocação deste grupo no mercado de trabalho – o que, principalmente baseado nos dados do IBGE, ainda temos um longo caminho pela frente.
Pelo o que podemos observar no setor, preconceito e estereótipos, falta de acessibilidade, processos de recrutamento excludentes, falta de capacitação e formação, políticas e legislação insuficientes ou mal implantadas, barreiras psicológicas e falta de modelos e exemplos dentro das companhias ainda são muito presentes.
As empresas precisam adotar políticas claras de inclusão e diversidade, com metas concretas para contratação e retenção de pessoas com deficiência. Vale ressaltar que para boa parte destes profissionais não é necessário que a empresa implemente algum tipo de adaptação ou realize altos investimentos, apenas processos que permitam a participação plena de todos. É preciso entender que inserir uma pessoa com deficiência vai além de qualquer legislação.
É crucial promover uma cultura organizacional inclusiva, que valorize as contribuições únicas de cada indivíduo, o que requer conscientização e treinamento de todos os colaboradores. Por outro lado, é importante destacar a oportunidade para a empresa, uma vez que equipes mais diversas são mais inovadoras e resilientes, capazes de atender melhor às necessidades de seus clientes.
Feiras e eventos dedicados a esse público, sobretudo para auxiliar aqueles que estão em busca de um novo emprego, também é de grande valor para contribuir com essa diversidade de forma mais inclusiva, proporcionando uma nova forma de ver o mercado de trabalho. Centros e programas de apoio ao trabalhador e/ou à pessoa com deficiência, associações, Lei de Cotas, programas de empresas privadas, plataformas online e aplicativos de vagas, ONGs, projetos comunitários e parcerias com instituições de ensino são algumas alternativas gratuitas para auxiliar esses profissionais.
É uma jornada que exige esforço e compromisso contínuos. Superando essas barreiras, transformamos não só vidas, mas também enriquecemos nossas organizações e fortalecemos os laços que unem a nossa sociedade. É uma visão de mundo que esperamos dentro do mercado de trabalho e que precisamos fazer a nossa parte de conscientização, informação e ação por uma sociedade mais justa.
*Christiana Mello é diretora da unidade de recrutadores da Catho