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  • qui. nov 21st, 2024

Novo projeto quer mapear todos os nascidos com síndrome de Down em São Paulo

Novo projeto quer mapear todos os nascidos com síndrome de Down em São Paulo

Um novo projeto quer mapear, ao longo de um ano, todas as crianças com síndrome de Down nascidas na cidade de São Paulo. A ideia é acompanhar o desenvolvimento desses 230 bebês (número estimado pelos pesquisadores) até os três anos de idade e obter informações sobre neurodesenvolvimento, crescimento, sono, nutrição, atividade física, entre outros aspectos. A pesquisa começou na última quinta (1º).

A síndrome de Down, também conhecida como trissomia do cromossomo 21 (T21), é uma condição genética causada pela presença de uma cópia extra, total ou parcial, do cromossomo 21. Essa alteração resulta em características físicas e de desenvolvimento únicas. É o distúrbio cromossômico mais comum e uma das principais causas de dificuldades de aprendizagem em crianças. Além disso, frequentemente está associada a problemas cardíacos e gastrointestinais.

Apesar de todos os esforços, ainda falta muito para a T21 ser integralmente compreendida, o que gera lacunas na avaliação e tratamento dos pacientes. Evidência disso era a ausência, até poucos anos atrás, de uma padronização brasileira da curva de crescimento de indivíduos com a síndrome.

Ao se analisar o crescimento de uma criança com T21 dentro da referência geral, a tendência é que ela seja sempre considerada de estatura baixa com propensão ao sobrepeso. Mas, se a síndrome por si só já provoca baixa estatura, a análise se torna enviesada e até menos útil do ponto de vista do cuidado com a criança, explica Fábio Bertapelli, educador físico e pesquisador principal do estudo, além de um dos responsáveis pelas novas curvas de crescimento para pessoas com down.

O projeto é sediado pelo Instituto Jô Clemente (IJC), organização reconhecida pela defesa dos direitos e pelo diagnóstico e tratamento de pessoas com deficiência intelectual, doenças raras e transtorno do espectro autista. O projeto é apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), cujos recursos serão também usados na contratação de bolsistas para atuar na iniciativa. Ao todo, devem ser despendidos cerca de R$ 6 milhões.

Existem dezenas de estudos com pessoas com síndrome de Down ao redor do mundo, mas poucos deles são prospectivos, isto é, que inicia o acompanhamento de um grupo em dado momento e, conforme o tempo passa, realiza novos questionários e exames, além de incluir dados do passado. Tanto a quantidade quanto a qualidade das informações obtidas tendem a ser melhores em estudos prospectivos, embora o custo dessas pesquisas também seja muito mais elevado.

Se tudo correr conforme o previsto, a pesquisa paulistana deve ser a maior do tipo em países em desenvolvimento.

Para chegar a cada uma das 230 crianças almejadas, o recrutamento dependerá da parceria com o poder executivo, hospitais, casas de parto e unidades básica de saúde, seja a partir do diagnóstico no pré-natal, da presença das características típicas ao nascimento ou da identificação da T21 durante as consultas nos serviços de saúde. É possível ainda que os responsáveis pelo bebê preencham um formulário de interesse.

Ao todo são 25 aspectos a serem considerados, entre eles saúde pré-natal, perfil sociodemográfico, vacinação, exames, realização de terapias, antropometria, análise de atividade física, e audição e visão.

Utilizando essas informações e técnicas de aprendizado de máquina, o estudo buscará identificar níveis de funcionalidade e os principais fatores de risco e proteção para a saúde. Os dados, no futuro, poderão orientar intervenções precoces para crianças com risco elevado para complicações cardíacas ou metabólicas, por exemplo.

Ao participar do estudo, além da avaliação multidimensional da saúde, mães e bebês terão acesso a profissionais de saúde e orientações sobre cuidado, incluindo recomendações e interlocução com serviços de saúde nos quais sejam atendidos. Os custos para participação do projeto, como visitas periódicas à sede do IJC, no bairro Vila Clementino, na zona sul da capital, também serão ressarcidos.

“A abrangência de análises revela a força do estudo”, diz Bertapelli. “Vamos avaliar, por exemplo, as dificuldades de amamentação nos primeiros meses de vida, segundo recomendação da OMS [Organização Mundial da Saúde] para o leite materno. Existe inclusive uma associação entre amamentação e ganho de pontos de QI na vida adulta.”

Além de expandir o conhecimento médico e científico, espera-se que, a partir dos achados, seja possível atualizar de forma abrangente as diretrizes nacionais sobre acompanhamento da pessoa com síndrome de Down e suas mães, incluindo, por exemplo, o estabelecimento de marcos motores, como quando a criança consegue sentar sozinha, engatinhar e andar.

Entre as dificuldades que os pesquisadores devem enfrentar está a sensibilização dos profissionais de saúde sobre a relevância do estudo para o recrutamento e contato com os participantes. Outro ponto de atenção é a dificuldade para fazer a busca ativa de gestantes e recém-nascidos para que participem do projeto. Por fim, uma vez recrutado, como em qualquer estudo do tipo, é importante garantir a participação durante o período estabelecido, ou seja, até completados 3 anos de vida.

Ainda que tenha previsão inicial de duração até 2028, a ideia é que o projeto se estenda para o acompanhamento dos participantes por mais anos, e que motive novas pesquisas, explica Edward Yang, gerente de ensino, pesquisa e inovação do IJC. “A gente quer associar novas medidas, novos marcadores. E, futuramente, até expandir para outras condições, como transtorno do espectro autista”, afirma.

Fonte: https://www.em.com.br

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