OPINIÃO
- * Por Marina Melo
Como alguém que vive com Atrofia Muscular Espinhal tipo 2 (AME II), enfrento diariamente desafios que vão além da minha condição física. Um dos maiores obstáculos é a busca por emprego, um processo que muitas vezes parece não ter sido desenhado para pessoas como eu. O mercado de trabalho pode ser um ambiente intimidador para pessoas com deficiência. Muitas vezes, as vagas disponíveis não são acompanhadas de informações sobre acessibilidade ou adaptações necessárias, deixando-nos no escuro sobre se podemos ou não desempenhar as funções requeridas.
Além disso, há uma falta de compreensão sobre as capacidades e potenciais de pessoas com deficiência, o que leva a estereótipos e preconceitos que nos excluem antes mesmo de termos a chance de mostrar nosso valor. As barreiras não são apenas físicas. Elas estão nas atitudes, na falta de flexibilidade das empresas e na escassez de políticas inclusivas. A acessibilidade no local de trabalho vai além de rampas e elevadores; trata-se de criar um ambiente onde todos possam contribuir igualmente. Isso inclui software de assistência, horários flexíveis e uma cultura que valorize a diversidade e inclusão.
Antes de entender que a internet seria meu trabalho, minha visão era que eu precisaria estar em um escritório, porém, em processos que participei, os gestores não entendiam que, por conta da minha fraqueza muscular, eu não poderia estar presencial todos os dias ou trabalhar a quantidade normal de horas que uma pessoa sem deficiência trabalha. Com isso, aos poucos fui entendendo que trabalhar com a internet seria o melhor caminho, pois sempre foi algo que eu me identifiquei e, em contrapartida, me trazia tranquilidade e segurança para ter a compreensão de que não prejudicaria minha saúde física e mental.
Hoje, vejo que para mudar esse cenário, é essencial que não apenas as empresas se esforcem para entender as necessidades e limitações de seus funcionários com deficiência, como também, os professores e mestres durante o ensino, pois muitas vezes até o acesso à educação é difícil pela falta de acessibilidade. A nossa dificuldade vem bem antes da hora de realmente trabalhar, é um ciclo que precisamos quebrar e isso pode ser alcançado através de diálogos abertos, treinamentos de sensibilização e, o mais importante, ouvir as experiências de quem vive essa realidade todos os dias, pois ainda que você “estude” sobre acessibilidade, nada melhor do que conversar com alguém com deficiência.
Como influenciadora digital, uso minha voz para destacar essas questões e encorajar uma mudança positiva. Conheço muitas pessoas que lutam diariamente para conquistar um trabalho, mas sofrem com esses preconceitos e ideias capacitistas que muitos lugares possuem. Acredito que, com empatia e ações concretas, podemos construir um mercado de trabalho verdadeiramente acessível, onde pessoas com deficiência possam prosperar profissionalmente, sem serem definidas, por suas deficiências e necessidades de adaptações,
- * Marina Melo tem 20 anos, é influenciadora digital e compartilha sua visão sobre o mundo sendo uma pessoa com deficiência, buscando defender a inclusão e acessibilidade e ir contra o capacitismo. A jovem é portadora de AME II (fraqueza muscular) e busca humanizar as pessoas com deficiência.
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