Instituto Serendipidade, entidade com programas de inclusão para pessoas com deficiência, corrobora a importância de competições do gênero como ferramenta para o reconhecimento das habilidades e potencialidades de quem tem necessidades específicas. Paratletas reforçam o papel social da prática dessas atividades
Durante 12 dias, atletas do mundo deram banho de força de vontade, garra e superação nas Paralimpíadas, em Paris – um palco muito significativo para exibir as potencialidades de pessoas com necessidades específicas. No entanto, dos cerca de 4.400 atletas, apenas 120 possuíam deficiência intelectual – nem 3% do total de competidores, segundo o Comitê Paralímpico Internacional (CPI). A baixa adesão se explica pela limitação de oportunidades disponíveis ao grupo: apenas o atletismo, a natação e o tênis de mesa abrem espaço para pessoas que têm Quociente de Inteligência (QI) menor que 75 e mesmo assim, eles acabam sendo reunidos em uma única classe, o que que torna a competição desigual.
“A deficiência intelectual é uma deficiência invisível. Nas Paralimpíadas, essa questão da classe única é um grande problema e existe uma luta para que se abram mais classes para ampliar as possibilidades de participação de atletas. Existem outras entidades, como a Virtus, a Federação Internacional de esportes para pessoas com deficiência intelectual, que já divide em três classes a deficiência intelectual”, comenta Cristina Heitzmann, uma das fundadora da ONG parceira do Serendipidade, a JR Paradesporto, e especialista em treinamento esportivo para deficientes intelectuais há mais de 30 anos.
Por conta dessa classificação do CPI, pessoas com síndrome de Down não disputam as Paralimpíadas, pois se enquadram como deficiência intelectual e deficiências adicionais. Além disso, modalidades praticadas por pessoas com essa condição também não estão enquadradas na maior competição esportiva do mundo. É o caso do nado artístico adaptado. Alessandro Cerabino Júnior, de 32 anos, tem síndrome de Down. Adepto desta modalidade há seis anos, ele esteve em Paris junto com um grupo de colegas, para participar do 2º Mundial de Nado Artístico Adaptado, movimento que também reforça a inclusão da modalidade na Paralimpíada.
Para a Maria Clélia da Silva, mãe do Alessandro, a iniciativa que reuniu atletas de sete países foi muito marcante para o atleta. “Ele amou, foi uma experiência muito significativa pra ele, elevou sua autoestima. Além dos benefícios para a saúde, essa coisa da competição demonstra que eles podem tudo, que eles podem chegar onde quiserem, porque a deficiência está nos olhos de quem vê, não de quem a tem”, comenta.
Esporte como inclusão
“O esporte é, sem dúvidas, um dos maiores meios de inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Valorizar essa ferramenta é determinante para promover um novo olhar maduro, integrativo e realmente sociável para aqueles que demandam necessidades específicas. E as Paralimpíadas trazem a visibilidade que essas pessoas merecem”, comenta Rodrigo Görgen, coordenador do Programa de Iniciação Esportiva do Instituto Serendipidade, entidade sem fins lucrativos, de São Paulo (SP), que oferece apoio a pessoas com deficiência e suas famílias.
É nessa geração de valor através da diversidade e do convívio inclusivo, que o Instituto Serendipidade foca suas ações. Com seis anos de atuação, a entidade oferece diversos projetos de conscientização e vivências que fortalecem a presença de pessoas com deficiência nos ambientes sociais – e o esporte é um desses meios de inclusão. “Entendemos o quanto o desenvolvimento de habilidades motoras influencia no posicionamento social que as crianças de hoje vão ter amanhã. Além do que são inúmeros os benefícios cognitivos que a prática esportiva agrega na formação do ser humano – e por isso, o incentivo de modalidades para esse grupo específico é essencial”, comenta Rodrigo.
Foi a possibilidade de praticar exercícios físicos desde criança que proporcionou ao Tiago da Silva, hoje com 28 anos, uma vida inclusiva e ativa mesmo com a deficiência visual. Conhecido como Tiago Paraná, ele é adepto de esportes desde os seis anos, tendo praticado natação, atletismo e goalball – mas foi no futebol para cegos que viu sua paixão pela modalidade despontá-lo para competições. Em Paris, Tiago participou de sua terceira Paralimpíada e se orgulha da caminhada até aqui.
“Para mim, onde eu cresci, a galera já não me tratava muito como coitadinho, como infelizmente acontece com muitas pessoas com deficiência, que acabam ficando em casa tendo tudo entregue na mão. O futebol foi muito importante porque a sociedade começou a nos ver com outros olhos. Tive colegas que viam meus treinos e isso ia mudando a ideia deles. Conheci várias pessoas que, por meio de um esporte, tiveram sua vida totalmente modificada, como foi o futebol de cegos para mim, que quebrou muitas barreiras. O esporte dá confiança para fazer tudo, nos dá mais liberdade no dia a dia, no convívio com a sociedade”, conta o paratleta.
Sobre o instituto
O Instituto Serendipidade é uma organização sem fins lucrativos que potencializa a inclusão de pessoas com deficiência, com propósito de transformar a sociedade através da inclusão. Visa ser impulsor de impacto social relevante, colaborativo e inovador, sempre prezando pela representatividade, protagonismo, de forma transversal e acima de tudo, com muito respeito. As iniciativas que atendem diretamente o público são: Programa de Iniciação Esportiva para crianças com síndrome de Down e deficiência intelectual, de famílias de baixa renda; Programa de Envelhecimento que atende mais de 60 idosos com algum tipo de deficiência intelectual para promoção do bem-estar, e o Projeto Laços, que acolhe famílias que recebem a notícia de que seu filho (a) tem algum tipo de deficiência. Atualmente o Serendipidade impacta mais de um milhão de pessoas, criando pontes, gerando valor em prol da Inclusão e através do atendimento direto a pessoas com deficiência intelectual e suas famílias.
Mais informações em www.serendipidade.org.br E nas mídias sociais @institutoserendipidade
IMAGEM/CRÉDITO: Divulgação – Tiago da Silva, camisa 9, em uma partida de futebol para cegos.