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  • sáb. out 5th, 2024

Consultoria de acessibilidade para grandes eventos: uma ação afirmativa e aliada da pessoa com deficiência

Consultoria de acessibilidade para grandes eventos: uma ação afirmativa e aliada da pessoa com deficiência - OPINIÃO - * Por Ciça Cordeiro

OPINIÃO

  • * Por Ciça Cordeiro

A inclusão de pessoas com deficiência em grandes eventos ganhou um novo impulso nos últimos anos, refletindo o compromisso de empresas e organizadores com as pautas de DE&I. A nova demanda por consultoria para acessibilidade em eventos revela que a acessibilidade deixou de ser um luxo para se consolidar como uma necessidade fundamental no planejamento de qualquer evento de grande porte.

Muito arriscado para imagem de qualquer empresa ou artista organizar um evento sem pensar no acesso de pessoas com deficiência. O público não tem tolerado e nem medido palavras para mostrar indignação nas redes sociais, na imprensa de forma geral.


O Brasil tem 17,3 milhões de pessoas com deficiência segundo dados do IBGE (PNAD 2022), que representam 8,4% da população. Por que a sociedade ainda resiste em conviver naturalmente com quase 10% da população? A acessibilidade é a forma de ampliar essa convivência. Ela beneficia não só as pessoas com deficiência, mas também idosos, pais com carrinhos de bebê e pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, criar um ambiente acessível reforça a intencionalidade e o compromisso com a inclusão, equidade e diversidade. Ainda falta muito para mas esse movimento já é um bom sinal a favor das pessoas com deficiência que querem, podem e devem participar desses momentos.


Aqui na Talento Incluir, identificamos um aumento de 150% na demanda por consultoria para acessibilidade em eventos. Do cardápio ao site do evento, tudo deve estar acessível a todas as pessoas com deficiência, idosos e mobilidade reduzida. Uma dica de quem está vivenciado bem de perto este momento, é que a acessibilidade precisa ser pensada desde o início da organização, não apenas como uma medida corretiva de última hora.


Outra dica ainda mais importante é consultar pessoas com deficiência antes de investir em obras e tecnologias ou qualquer outra forma de trazer acessibilidade. Quem vivência essa realidade pode apontar com mais assertividade o que fazer e como fazer. Por exemplo, não basta trocar uma escada por uma rampa. As rampas precisam ter uma inclinação possível para o cadeirante usar.


Há casos em que encontramos banheiros muito acessíveis, com barras de apoio, pia na altura, espaço ideal de passagem na porta, mas a lixeira só abre se acionada com os pés!!! De que jeito uma pessoa paraplégica poderá abrir esta lixeira? Um fato recente ocorrido em um grande evento foi um com acessibilidade impecável, porém a porta era de vidro transparente enquanto os demais banheiros ou como a gente gosta de chamar: as casinhas, eram de portas comuns. Evidentemente que, apesar da boa intenção, a acessibilidade foi por água abaixo e não foi realizada com a consultoria ou a participação de uma pessoa com deficiência.


Em uma exposição de artes, certa vez, a organização atuou muito em tornar o local acessível. Boas rampas, acessos e banheiros excelentes, atendentes preparados e todas as obras expostas com legenda em Braile para descrever a imagem para pessoas com deficiência visual. Excelente.! Porém, essas legendas ficavam praticamente no chão e para fazer a leitura era preciso sentar-se ou ajoelhar para fazer a leitura. Ruim, né?


São inúmeros exemplos e casos rotineiros que acabamos normalizando, mas que nos oprimem e prejudicam nossa participação com dignidade em eventos, shows etc. Isso se torna um ciclo vicioso. Não temos acessibilidade não participamos. Se não participamos não somos vistos e se não somos vistos não somos lembrados e assim a exclusão se multiplica e se perpetua.


Quando as marcas se dedicam a criar eventos inclusivos, elas fortalecem sua reputação, demonstrando um compromisso real com a diversidade e gerando impacto positivo na percepção do público e nos resultados de negócios.


Para atender essa demanda é fundamental atuar em quatro dimensões essenciais de acessibilidade em eventos: arquitetônica, digital, comunicacional e atitudinal. Cada uma delas exige planejamento específico, desde rampas e palcos acessíveis até intérpretes de Libras, audiodescrição, legendas e treinamentos para equipes de atendimento.


Ao ignorar a acessibilidade, as empresas correm o risco de excluir uma parte significativa do público, comprometendo a experiência e a própria reputação. Garantir a inclusão em eventos não é apenas uma questão de atender a uma legislação ou uma obrigação social, mas de criar espaços acolhedores que demonstrem o verdadeiro compromisso com a diversidade.


Portanto, não vale a pena se arriscar em aventuras de quem não convive e nem conhece as reais necessidades de uma pessoa com deficiência. “Nada sobre nós sem nós”, esse é um lema que a convenção da ONU pelos direitos da pessoa com deficiência reforçou como uma verdade a ser seguida quando se tratar de uma lei, de uma política, de um regulamento ou de qualquer outra coisa que for idealizada para pessoas com deficiência. Por respeito, nos incluam para decisões que nos impactam diretamente.


O aumento dessa demanda e a necessidade urgente de mais inclusão em eventos, tem se mostrado não apenas um diferencial estratégico, mas uma ferramenta indispensável para a criação de eventos que verdadeiramente acolham a todos e funcionam como iniciativas afirmativas para que a sociedade possa conviver mais com as pessoas com deficiência. Isso é inclusão!

  • * Ciça Cordeiro é consultora e especialista em acessibilidade da Talento Incluir

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