Ferramenta que estimula autonomia e participação na defesa de direitos sociais se reflete também no processo de amadurecimento desse grupo, que demonstra os primeiros sinais de envelhecimento de forma mais precoce
Ariel Goldenberg tem 43 anos e é ator, dublador e produtor cultural. Com o fim do seu casamento, em 2013, ele encontrou apoio para viver uma nova fase da vida no Instituto Simbora Gente, uma organização que oferece diversos programas para pessoas com deficiência intelectual. E foi lá que ele aprendeu sobre autogestão e formas de se posicionar e se defender frente à sociedade.
“Aprendi sobre as leis, em especial a LBI, a Lei Brasileira de Inclusão, e hoje sei como me comportar em situações de preconceito, sei me defender com autonomia. E ajudo outras pessoas que, assim como eu, têm alguma deficiência intelectual e precisam ter uma postura mais firme, além de lutar pelos seus direitos”, comenta ele, que está trabalhando no desenvolvimento de um longa-metragem sobre inclusão.
O papel que Ariel desempenha na sociedade chama-se autodefensoria. Foi por meio desse movimento, aliás, que ele liderou um grupo de autodefensores, do Instituto Simbora Gente, na execução dos livros ‘Simbora tá na Hora’ e ‘Vamos Montar uma Banda’, desenvolvidos em parceria com a Editora Leiturinha. Nos últimos anos, o conceito vem ganhando força como uma ferramenta importante na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Baseada na ideia de que cada indivíduo, independentemente de suas limitações físicas ou cognitivas, tem a capacidade e o direito de defender seus próprios interesses, a autodefensoria promove autonomia e cidadania plena para aqueles que historicamente foram marginalizados ou sub-representados.
“Essa prática fortalece a relação dos indivíduos com seus direitos e desempenha um papel essencial na construção de uma vida adulta independente e na manutenção da saúde mental. Esse estímulo ao desenvolvimento de senso crítico, a informação como ferramenta de empoderamento e a valorização da cidadania inclusiva geram, inevitavelmente, maior autonomia ao longo da vida”, comenta Débora Goldzveig, gerente do Instituto Serendipidade, entidade com sede em São Paulo e que oferece apoio para pessoas com deficiência e suas famílias.
Com o aumento da expectativa de vida, as pessoas com deficiência estão vivendo mais e, como qualquer outra parcela da população, enfrentam os desafios que surgem conforme a idade avança. Contudo, um envelhecimento saudável e independente, com protagonismo, ainda mais para este grupo que apresenta os primeiros sinais de envelhecimento a partir dos 40 anos, requer preparação, planejamento e, acima de tudo, o direito de autodeterminação.
“Esse movimento é essencial para garantir que pessoas com deficiência tenham voz e participação significativa na sociedade. Quando uma pessoa com deficiência é incentivada a ser protagonista de sua vida desde jovem, ela está mais apta a planejar sua velhice, estabelecer suas prioridades e garantir que suas necessidades físicas, emocionais e sociais sejam atendidas. Ou seja, a pessoa passa pelo processo de envelhecimento de uma forma saudável e consciente”, comenta Fabiana Duarte Ventura, psicóloga e pedagoga, coordenadora técnica e educacional do Instituto Simbora Gente.
Assim, a autodefensoria vai além de reivindicar direitos; ela envolve a construção de um entendimento profundo sobre suas próprias condições e limitações, além da busca por conhecimento sobre os sistemas de apoio disponíveis.
“É um mecanismo que empodera pessoas com deficiência a serem defensores de si próprios e do grupo ao qual pertence, estimulando a consciência de estar em comunidade. Com a oportunidade de serem ouvidos e respeitados em suas escolhas, automaticamente se faz uma exigência das tomadas de decisões responsáveis – o que estimula cada vez mais a uma vida saudável e com propósito”, reforça Andrea Barbi, consultora de emprego apoiado, mediadora e educadora social do Instituto MetaSocial, também parceiro do Serendipidade.
Sobre o instituto
O Instituto Serendipidade é uma organização sem fins lucrativos que potencializa a inclusão de pessoas com deficiência, com propósito de transformar a sociedade através da inclusão. Visa ser impulsor de impacto social relevante, colaborativo e inovador, sempre prezando pela representatividade, protagonismo, de forma transversal e acima de tudo, com muito respeito. As iniciativas que atendem diretamente o público são: Programa de Iniciação Esportiva para crianças com síndrome de Down e deficiência intelectual, de famílias de baixa renda; Programa de Envelhecimento que atende mais de 60 idosos com algum tipo de deficiência intelectual para promoção do bem-estar, e o Projeto Laços, que acolhe famílias que recebem a notícia de que seu filho (a) tem algum tipo de deficiência. Atualmente o Serendipidade impacta mais de um milhão de pessoas, criando pontes, gerando valor em prol da Inclusão e através do atendimento direto a pessoas com deficiência intelectual e suas famílias.
Mais informações em www.serendipidade.org.br E nas mídias sociais @institutoserendipidade
CRÉDITO/IMAGENS: Divulgação – Grupo de autodefensores durante a execução de dois livros para a Editora Leiturinha.