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  • qui. dez 26th, 2024

O capacitismo entre o sagrado e o profano

O capacitismo entre o sagrado e o profano OPINIÃO * Por Marcos Rodrigo

OPINIÃO

  • * Por Marcos Rodrigo

Em pleno século XXI, após duas grandes guerras, com um genocídio de judeus em massa, tendo como resultado a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos com a proposta de uma conscientização universal sobre ética e sociedade. Temas como diversidade, equidade, gênero e pluralidade são dialogados cotidianamente com a finalidade de construção sólida de sociabilidade.

Mas mesmo com muitos avanços não há homogeneidade no mundo, ainda existem grupos sociais que pregam nazismo, fascismo, intolerância religiosa, violência de gênero, etarismo e também o capacitismo.

Este último se manifesta no Brasil em inúmeras formas, pois está entranhado na sociedade
pelo fato muitas vezes de super proteção, super amor, ou por achismo em acreditar que por pessoas com deficiência “não terem ” o padrão vigente então não conseguem ou não fazem o que os demais realizam e isso ocorre sem sequer lhes dar oportunidade de questionar ou consultar.

Outro ponto marcante que afasta a condição de pessoa e coisifica a pessoa com deficiência é a tratar como alguém doente, inservível ou inútil, retirando-lhe o direito civil de ser e existir. A pessoa deixa de ser um cidadão ou cidadã para se tornar um objeto.

Às vezes a deficiência se transforma em doença, os pais ou responsáveis são desumanizados e deixam de ser seres comuns para se tornarem “especiais, seres iluminados” e com isso nasce a transição do humano para o sagrado ou profano, pois a partir daí seja na concepção, por fatores misóginos patriarcais de um ranço cultural higienista, que começam a se entender algumas raízes de onde vem os discursos de pessoas como a vereadora de Arcoverde (PE), ou do vereador Eúde Lucas, de Jucás (CE) o qual uma diz que deficiência é o resultado de um castigo divino como um fardo para a mãe e o outro afirma na tribuna que autismo se tira com violência.

Ambos discursos abjetos demonstram o abismo social que a pessoa com deficiência tem do campo político social e cultural.

Pois quando parlamentares desde vereadores até ministros de Estado de diversas matizes ideológicas, tanto de direita, quanto de esquerda minimizam este importantíssimo movimento social, Políticas Públicas necessárias para o desenvolvimento biopsicossocial de sua dignidade não se desenvolve no campo democrático, pautas como a educação inclusiva de qualidade, a popularização da Língua Brasileira de Sinais e a compreensão do cidadão e cidadã com deficiência no meio social e sua participação ativa,
pautando votando e sendo votado.

Enquanto a sociedade não entender que ela é formada por pessoas com e sem deficiência e o poder público perceber que todas as políticas públicas devem ser feitas com acessibilidade, o Estado brasileiro será sempre um conglomerado de capacitismo em potencial, pois pessoas com deficiência podem e devem assumir espaço na arena social, levando em consideração suas especificidades. Os ambientes de trabalho, escolar, cultural e social são dignificantes e também devem ser democráticos e para que isso ocorra precisam estar inclusivos e acessíveis a todas as pessoas. As escolas, mídias, famílias e grupos sociais em geral precisam aprender a conhecer para desmistificar e assim respeitar a diversidade em sua amplitude e entender que a locomoção, comunicação, observação e compreensão não tem um
padronismo, mas que a sociedade segue uma forma regida de respeito para com às diferenças.

Deuses, demônios não definem padrões corporais nem fixam o belo ou o feio, a riqueza ou a pobreza, este ponto já é um campo crítico chamado economia. A opressividade e tirania de um deus que impõe a deficiência como fardo para as costas de uma mulher num país que tem um índice de feminicídio muito grande é bastante relevante. E isso demonstra apenas a ponta do iceberg de um problema que se não for tratado só tende a se agravar.

  • * Marcos Rodrigo é homem negro com baixa visão, Bacharel em Serviço Social Especialista em Políticas Públicas, Seguridade Social e Psicopedagogia; Mestrando em Avaliação de Políticas Públicas. Atualmente trabalha no Setor de Leitura Acessível da Biblioteca Estadual do Ceará (BECE), Membro do Grupo de Trabalho em Acessibilidade Cultural da Secretaria de Cultura do Ceará

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