Na segunda edição, o projeto une acessibilidade e expressão artística ao transformar murais em obras sensoriais, dando voz e tato às pessoas com deficiência visual
Em sua segunda edição, o projeto Graffiti Pra Cego Ver chega para reafirmar seu compromisso em unir acessibilidade e expressão artística gerando um impacto positivo na vida de pessoas com deficiência visual e ampliando sua participação no circuito cultural.
Inspirado pela ideia de que a arte deve ser sentida por todos, o projeto transforma murais de grafite em obras sensoriais por meio de texturas, relevos e inscrições em braille que descrevem cada detalhe da obra – cores, formas, dimensões e significados – estabelecendo uma conexão sensorial através do toque. Além disso, QR codes integrados às obras permitem que os visitantes ouçam áudios com descrições detalhadas, criando uma experiência imersiva.
O desenho que ilustra o mural foi concebido pela artista plástica Kelly S. Reis, uma mineira radicada em São Paulo, que além de artista plástica é arte-educadora e ilustradora com uma década de atuação no grafite.
Sua arte aborda a mestiçagem biológica e cultural sob uma perspectiva feminina e afro-indígena, além de temas como liberdade e intolerância religiosa. Suas obras já foram exibidas em importantes museus brasileiros, como a Caixa Cultural Recife, Salvador e Itaú Cultural, e seus murais estão espalhados por diversos estados do Brasil e países como Peru e Chile.
À época em que atuou como arte-educadora teve dois alunos deficientes visuais com quem compartilhou aprendizado e teve a oportunidade de desenvolver novas habilidades para transmitir a eles seus conhecimentos.
Convidada pela Mosaiky para participar do projeto Graffiti Pra Cego Ver, Kelly trouxe para sua criação memórias emocionantes de sua trajetória como educadora.
Em sua vivência, ela teve alunos com deficiência visual que, ao serem incluídos nas aulas de arte, descobriram um novo universo de expressão criativa. Um deles, ensinou a importância das texturas, enquanto outra aluna chegou a explorar esculturas e tecelagem, transformando a arte em um elemento central de suas vidas.
Inspirada por essas experiências, a artista concebeu esse trabalho ampliando a experiência do “ver” para além dos olhos.
Conhecida por pintar mulheres afro-indígenas, frequentemente retratadas sem íris, ela afirma que “vemos com os olhos da alma e que a verdadeira percepção envolve todos os sentidos”.
Para Kelly, o grafite é mais do que uma obra de rua; é uma ponte entre mundos. “Imagino meus ex-alunos e tantas outras pessoas podendo tatear e sentir esse desenho. O grafite sempre foi acessível por estar na rua, mas agora, ele poderá ser percebido de uma forma totalmente nova por quem nunca teve essa oportunidade”, celebra.
Por que Graffitti Pra Cego Ver?
Enquanto quem enxerga pode admirar a magnitude de um mural de grafite, se emocionar com suas cores e formas, as pessoas com deficiência visual, muitas vezes, não têm essas mesmas experiências no espaço urbano (limitando-se apenas ao nome da obra e de seu autor). Pensando nisso, o projeto busca democratizar o acesso à arte de rua, permitindo que todos, independentemente da visão, sintam, interpretem e vivenciem a arte em sua totalidade.
Trata-se de uma celebração da arte como ferramenta de inclusão e transformação. Ao dar novos significados ao conceito de “ver” e ampliar o alcance do grafite para além do visual, ele reafirma o papel da cultura como elemento essencial para a construção de uma sociedade mais acessível, diversa e sensível às histórias que nos cercam.
SERVIÇO:
Graffitti Pra Cego Ver
Quando: até 18 de fevereiro
Onde: Beco do Batman (Rua Gonçalo Afonso, 120 – Centro do Beco do Batman, Vila Madalena, São Paulo)
Acesso gratuito
CRÉDITO/IMAGEM: Kelly Reis: Artista convidada para segunda edição do Graffitti Pra Cego Ver