A especialista aponta os principais desafios da mulher com deficiência no mercado de trabalho, como por exemplo a invisibilização da sua feminilidade e como as empresas põem colaborar para uma inclusão mais igualitária
Apesar da Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91) garantir a reserva de vagas para pessoas com deficiência, apenas 32% das cotas são ocupadas por mulheres com deficiência no mercado de trabalho, revelando uma disparidade alarmante em comparação aos homens com deficiência. De acordo com Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir – empresa com atuação pioneira em Consultoria, Letramento, Empregabilidade e Capacitação das pessoas com deficiência e que já inseriu no mercado de trabalho mais de 9 mil profissionais com deficiência – essa desigualdade é reflexo de um sistema que ainda enxerga a mulher com deficiência a partir de estigmas. No Mês da Mulher, Carolina Ignarra apresenta as principais barreiras para a inclusão da mulher com deficiência no mercado de trabalho:
- Dupla discriminação: machismo + capacitismo – mulheres com deficiência enfrentam preconceitos cruzados. Enquanto o machismo limita o acesso a posições de liderança e perpetua a desigualdade salarial, o capacitismo questiona sua competência para funções que exigem autonomia e responsabilidade;
- Desigualdade salarial – se o rendimento médio das mulheres brasileiras é 20,8% menor que o dos homens, a situação se agrava ainda mais para aquelas com deficiência, que muitas vezes recebem salários inferiores, mesmo desempenhando as mesmas funções;
- Falta de Acessibilidade Integral – a inclusão vai além da acessibilidade física. Barreiras atitudinais, comunicacionais e tecnológicas dificultam o pleno desenvolvimento profissional dessas mulheres, limitando oportunidades de crescimento e participação ativa no ambiente de trabalho;
- Sobrecarga invisível – a jornada tripla de trabalho – profissional, doméstica e de cuidados – é ainda mais intensa para mulheres com deficiência, que muitas vezes também precisam lidar com desafios relacionados à falta de acessibilidade no dia a dia e à dependência de serviços de apoio pouco eficientes;
- Microagressões que invisibilizam a feminilidade da mulher com deficiência – a deficiência oprime a identidade de gênero. Frases e atitudes aparentemente inofensivas perpetuam estereótipos e minam a autoconfiança dessas profissionais. A mulher com deficiência também lida com rótulo de assexuada, pois quando são percebidas como “não sexis” são vistas como objetos sexuais, como seres passivos, sem autonomia e desejos. Tal percepção distorcida contribui diretamente para a violência que enfrentam, principalmente a violência sexual, e para o apagamento de sua feminilidade.
Pesquisa Radar da Inclusão: a deficiência invisibiliza a identidade de gênero
As dificuldades sentidas por homens e mulheres com deficiência são praticamente semelhantes nesse contexto. Segundo a pesquisa “Radar da Inclusão”, realizada Talento Incluir, Instituto Locomotiva e IO Diversidade, o capacitismo sofrido no trabalho oprime as mulheres e homens da mesma forma. O levantamento mostra que 78% das mulheres e 73% dos homens afirmaram ter sofrido capacitismo no trabalho, ou seja, a diferença é muito pequena. Também a mesma porcentagem de homens e mulheres (49%) respondentes afirma que deixou de ser promovido (a) por ter alguma deficiência.
O que as empresas podem fazer para incluir a mulher com deficiência?
Iniciativas de inclusão devem ir além da contratação. É fundamental criar ambientes de trabalho acessíveis, promover políticas de equidade de gênero e desenvolver programas de conscientização que combatam o capacitismo e o machismo estrutural, a partir das seguintes ações:
- Treinamento – aumentar essa conscientização sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres com deficiência por meio de um programa de educação para todos os níveis hierárquicos;
- Acessibilidade – garantir que o ambiente de trabalho seja acessível para todas as pessoas é essencial para incluir mulheres com deficiência. Além disso, fornecer acomodações razoáveis, como equipamentos de tecnologia assistiva, vai ajudá-las a realizar seu trabalho de forma eficaz;
- Apoio e mentoria – isso pode contribuir com o seu desenvolvimento para alcançar cargos de liderança. Também pode oferecer programas de apoio que fornecem recursos e assistência prática para lidar com questões relacionadas ao trabalho e à deficiência;
- Fortalecimento da cultura de inclusão – uma forma de promover o respeito e a igualdade para todas as pessoas e combater o capacitismo, garantindo que todas as pessoas, com ou sem deficiência, tenham oportunidades de crescimento de carreira dentro da empresa.
“Ainda que o capacitismo oprima quase que igualmente os dois gêneros, as mulheres com deficiência têm o desafio de conviver com a interseccionalidade sobreposta, por ser mulher e por ter a deficiência. A Talento Incluir, é uma empresa predominantemente feita de mulheres com deficiência. Com essa expertise, nós desenvolvemos soluções especializadas porque entendemos a potência que é ter mulheres com deficiência e suas intersecções nas empresas e em cargos de liderança. É preciso entender para atuar de forma intencional para a inclusão da mulher com deficiência”, destaca Carolina Ignarra.