Somente com informação e acolhimento é possível transpor barreiras na educação e aceitação dos filhos pela sociedade
A relação entre pais e filhos é uma questão delicada em famílias típicas, e nas atípicas, essa relação pode ser ainda mais, pois requer calma, apoio e muita dedicação, principalmente de suas famílias, aquelas com crianças e adolescentes com algum transtorno, como TEA – Transtorno do Espectro Autista, TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e TOD – Transtorno Opositivo Desafiador.
Mas, infelizmente, a educação para crianças neurodivergentes também enfrenta situações difíceis, que vão desde problemas de convivência na escola, com os amigos da turma, desinformação por parte de professores e educadores até a falta de conhecimento de membros da própria família e sociedade, que não sabem lidar com situações e a realidade de pessoas atípicas.
Andreia Rossi, orientadora parental e especialista em Transtorno Opositor Desafiador (TOD), esclarece que os transtornos ocultos são muito cruéis, pois carregam o peso de julgamentos constantes. “É julgamento em cima de julgamento”, complementa. E isso ocorre uma vez que os transtornos ocultos ou doenças ocultas, não podem ser identificados à primeira vista. É o caso de deficiências auditivas, visuais, intelectuais, paralisia cerebral ou de pessoas que estão dentro do espectro autista, por exemplo.
Para muitas crianças neurodivergentes, a rotina não é apenas uma sequência de atividades diárias – ela é um alicerce essencial para que o mundo faça sentido. Quando algo sai do planejado, por mais insignificante que pareça para os outros, o impacto pode ser imenso. “Imagine a frustração de estar pronto para vestir sua camiseta favorita e descobrir que ela ainda está molhada no varal. Agora, multiplique essa frustração para algo que envolva sair mais cedo para um compromisso não previsto ou mudar o caminho habitual para a escola. Para uma criança neurodivergente essa alteração não é apenas irritante – é desestabilizadora.”, esclarece Andreia.
Essa quebra de previsibilidade pode gerar desorganização emocional e crises intensas, pois a criança havia se estruturado mentalmente de uma maneira específica e, de repente, esse planejamento interno é invalidado pelo inesperado. O cérebro da criança encontra dificuldade em processar a mudança, que pode levar a explosões emocionais, crises de choro, resistência extrema ou até mesmo bloqueios de comunicação.
Pelo olhar dos cuidadores, gerir essas crises enquanto tentam equilibrar a rotina do dia a dia é um desafio. Há momentos em que é possível oferecer alternativas que minimizem o impacto da mudança. Outras vezes, não há escolha: o plano precisa ser seguido, e os pais precisam enfrentar o colapso emocional da criança, mesmo sabendo o quanto isso irá desregular suas emoções.
Por isso, pais atípicos precisam de apoio e conhecimento sobre a realidade que vivem. Sem informação, é fácil cair na armadilha dos julgamentos e acreditar que a criança está apenas sendo teimosa e desobediente, quando, na verdade, seu cérebro está reagindo de maneira intensa a uma quebra inesperada de padrões.
De acordo com Andreia, quando a dor ou a dificuldade não é visível aos olhos dos outros, muitas vezes ela é invalidada, simplesmente porque não é compreendida. “Esse julgamento não apenas aumenta o sofrimento de quem vive esses desafios, mas também torna mais difícil oferecer acolhimento e a empatia que poderiam transformar vidas”, ressalta. Por isso, a importância da informação. Somente por meio dela é possível a quebra de paradigmas e construção de uma sociedade mais consciente e inclusiva.