OPINIÃO/POESIA
- Por Jairo Varella Bianek
Boa tarde, por favor, me dê IPVA grátis, Disse o cego ao rapaz surdo do outro lado do balcão, Com esperança nos dedos e firmeza no coração, Num mundo que tantas vezes fecha portas e sinais.
O rapaz surdo sorriu com as mãos, Tocou quatro vezes no tato do irmão, Virou-se, sem palavras, mas cheio de intenção, E acenou ao cadeirante, que entendeu a missão.
O cadeirante veio, rodando esperança, “Boa tarde, Senhor! Me chamo Jota, com lembrança: Cabelos grisalhos, olhos castanhos, camisa azul, Óculos no rosto, sorriso sem disfarce algum.”
“Mota, quem o atendeu, é surdo não oralizado e fala com gestos e com a alma. Tem cabelos pretos encaracolados, olhar que acalma, Camisa branca com a palavra em preto: Respeito. E um sorriso que cabe num abraço perfeito.”
“Quando tocou quatro vezes suas mãos, Me chamou com um gesto, sem pressa ou aflição, E disse: mais 1, como fazemos todos os dias, Aqui onde empatia gera novas vias.”
“Nosso lema é simples, porém profundo: Contribuir com mais 1 pra mudar o mundo. Mais 1 gesto, mais 1 acolhida, mais 1 mão estendida, Mais 1 passo rumo à verdadeira inclusão na vida.”
E assim, naquele balcão sem muros nem grades, Onde corpos diversos são pontes, não metades, O pedido do cego não foi só sobre IPVA, Foi sobre ver além, onde o amor sempre está.
- * Jairo Bianeck é Advogado dedicado ao direito das Pessoas com Deficiência e Direito de Família.