• sáb. abr 12th, 2025

Fórum Internacional discute bullying e os desafios de crianças com nanismo nas escolas 

Fórum Internacional discute bullying e os desafios de crianças com nanismo nas escolas 

Em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, celebrado em 7 de abril, o 1º Fórum Internacional de Displasias Ósseas trouxe à tona um dos temas mais sensíveis e urgentes quando se trata da inclusão de crianças e adolescentes com nanismo: a realidade vivida nos ambientes escolares.

O evento promoveu o painel “Inclusão escolar: da acessibilidade ao bullying”, com mediação de Juliana Yamin e a participação da psicóloga escolar Dra. Paola Carloni e da jornalista Gisele Rocha, mãe da Luiza, criança com displasia diastrófica. 


 O debate foi marcado por relatos emocionantes e reflexões sobre os entraves enfrentados por famílias que buscam, antes de tudo, o básico: o direito de seus filhos aprenderem em ambientes respeitosos, adaptados e acolhedores. 

Juliana Yamin, presidente do Instituto Nacional de Nanismo, abriu o painel destacando a angústia comum entre mães atípicas diante do primeiro contato dos filhos com a escola. “Há um medo real de como serão tratados, não apenas pelos colegas, mas também pelos adultos, professores e gestores escolares. O preconceito muitas vezes vem institucionalizado”, apontou. 

Em sua fala, Gisele reforçou que a exclusão de crianças com deficiência nem sempre é explícita. Muitas vezes, está disfarçada em pequenas negativas. “Ao procurar uma escola particular para a Luiza, escutei que, como não havia ninguém para acompanhá-la ao banheiro, toda vez que ela quisesse ir, teriam que me ligar. Isso, para mim, é uma forma clara de exclusão”, relatou. 

Apesar do episódio, a jornalista encontrou uma instituição que acolheu Luiza com empatia e disposição. “Lá, a escola promove o ‘Dia de Conscientização’, em que os colegas aprendem sobre a condição dela e de outras deficiências, suas necessidades e capacidades. Ainda não temos todo o mobiliário adaptado, mas temos boa vontade e parceria, afirmou a escola, e isso já muda tudo”, contou Gisele. 

A psicóloga escolar Dra. Paola Carloni complementou o painel com uma visão técnica e prática de quem atua diretamente com inclusão na educação básica. Segundo ela, escolas ainda pecam ao tratar alunos com deficiência apenas sob a ótica do protocolo. “Antes de qualquer regra, vem a pessoa. A inclusão deve ser sobre empatia, escuta e construção de vínculos. É preciso parar de associar inclusão a custo extra. Ela deve ser parte da estrutura e da missão da escola”, afirmou. 

Paola destaca que a verdadeira inclusão não está apenas no discurso ou na matrícula aceita. “Ela acontece no cotidiano, na escuta atenta, na adaptação das práticas e na valorização de cada aluno como sujeito único. Nenhuma regra pode vir antes da dignidade humana. A escola precisa ser esse espaço onde todas as crianças, com ou sem deficiência, possam pertencer de fato.”, completou Paola. 

Durante o debate, foi também lembrada uma cartilha oficial lançada em 2022 pelo então Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, com orientações específicas para a inclusão escolar de pessoas com nanismo. O material, apesar de técnico e completo, permanece desconhecido por boa parte das instituições de ensino. “Essa cartilha traz detalhes sobre adaptações físicas, mobiliário, posturas dos educadores e prevenção ao bullying. É um recurso essencial e precisa ser mais divulgado”, frisou Gisele. 

Casos recentes de exclusão também foram compartilhados. Um deles envolveu um adolescente com nanismo, retirado de sua sala e levado para uma turma voltada a criança com deficiência intelectual, sem qualquer justificativa pedagógica. “A mensagem que a escola transmite quando faz isso é de que aquele estudante não pertence. Isso fere, causa confusão e insegurança”, disse a jornalista. 

O painel reforçou que o bullying e o preconceito nem sempre vêm dos colegas. Muitas vezes, eles nascem da falta de preparo, de informação e da ausência de sensibilidade dos próprios profissionais da educação. 

“Não dá mais para aceitar que escolas digam que não estão prontas para receber uma criança com deficiência. A escola tem que se adaptar ao aluno, não o contrário. E isso não significa regalias ou privilégios, significa dignidade”, concluiu Paola. 

O Fórum reuniu especialistas, profissionais de saúde, pesquisadores, famílias e representantes da sociedade civil para debater políticas públicas, inclusão, saúde e os direitos das pessoas com displasias ósseas.

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