OPINIÃO
- Por Maria Laura Rezende Pucciarelli
A reabilitação de pacientes que passaram por amputação ou traumas que exigem o uso de órteses e próteses vai muito além da recuperação física. A abordagem tradicional, centrada apenas na deficiência física, tem sido substituída por uma visão mais ampla e humanizada, baseada na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Essa perspectiva reconhece que saúde não se resume à ausência de doença e que, mesmo diante de alterações na estrutura física, a qualidade de vida pode ser significativamente aprimorada com uma abordagem biopsicossocial.
A CIF nos permite compreender a funcionalidade de um indivíduo a partir de diferentes dimensões, considerando não apenas as alterações físicas de estrutura anatômica e funções, mas também os fatores ambientais, psicológicos e sociais que impactam a vida do paciente. Dessa forma, a reabilitação não se restringe exclusivamente à dimensão física, adaptação ao dispositivo, como a órtese ou a prótese; ela envolve também o apoio emocional, a inserção social e a construção de uma nova identidade para o indivíduo.
Pacientes que utilizam órteses e próteses enfrentam desafios que vão além da mobilidade. Muitos relatam dificuldades emocionais, como a aceitação da nova condição e o medo da exclusão social. A falta de acessibilidade em espaços públicos e a desinformação da sociedade sobre a deficiência também são barreiras que dificultam essa adaptação. Nesse contexto, uma abordagem integrada, que envolva médicos, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, fazem toda a diferença no sucesso da reabilitação.
O papel da fisioterapia é essencial nesse processo, mas ele deve estar alinhado com um olhar ampliado para as necessidades do paciente. A tecnologia tem avançado no desenvolvimento de órteses e próteses cada vez mais adaptáveis e funcionais, mas é fundamental que esses avanços sejam acompanhados de uma transformação social que garanta acessibilidade, inclusão e políticas públicas eficazes para as pessoas com deficiência.
A sociedade precisa abandonar a visão limitada que associa deficiência à incapacidade. Com a abordagem correta, apoio adequado e uma mudança na percepção coletiva, pacientes que passaram por amputações podem não apenas retomar suas atividades, mas também descobrir novas possibilidades de autonomia e qualidade de vida. A funcionalidade não deve ser vista apenas pela ausência de limitações, mas sim pela capacidade de adaptação e ressignificação do contexto social, laboral e recreativo.
Ao adotarmos um olhar mais humano e integrativo para a reabilitação, garantimos não apenas um tratamento mais eficaz, mas também um futuro mais inclusivo e acessível para todos.
- * Maria Laura Rezende Pucciarelli é coordenadora de fisioterapia da rede de clínicas Ottobock Care LATAM