• seg. abr 21st, 2025

Criança autista contida em escola de Campinas expõe urgência de treinamento para educadores

Criança autista contida em escola de Campinas expõe urgência de treinamento para educadores

Especialista explica que a diferença entre conter e acolher está no preparo dos profissionais. Sem a formação adequada dos profissionais e cuidadores que convivem com pessoas autistas, o acolhimento falha e todos sofrem. A empatia deve ser o primeiro passo do aprendizado.

Um vídeo que circula desde o final de março e provocou reportagem no jornal O Estado de São Paulo no último dia 11 de abril gerou comoção e indignação ao mostrar uma professora de uma escola particular de Campinas (interior de São Paulo) segurando, com aparente uso de força, uma criança de 6 anos de idade durante uma crise de desregulação. A criança, segundo informações da reportagem que divulgou o caso, possui o transtorno do espectro do autismo (TEA) e não é verbal. As imagens levantaram novamente uma discussão urgente: a necessidade de capacitação adequada para profissionais da Educação no manejo de comportamentos relacionados ao autismo e outras deficiências.

O caso em Campinas não apenas pode levar a uma judicialização do ocorrido, como também escancarou a dor das famílias. Para a psicóloga Camila Canguçu, especialista em ABA (Análise Aplicada do Comportamento), método científico mais estudado e eficaz para o tratamento de autismo, “eu também sou mãe de TEA e imagino o que essa família está passando”.

Para mães e pais é angustiante assistir a cenas como a registrada no vídeo, principalmente diante da consciência de que, com o suporte adequado, muitas dessas situações poderiam ser evitadas. A falta de investimento na capacitação de profissionais acaba colocando a escola em risco, aumentado a chance de processos por parte das famílias envolvidas, já que as crianças têm direito a vagas nas escolas e a profissionais capacitados. A situação reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas escolares voltadas à formação de professores e equipes de apoio.

“Sinto que os professores querem essa capacitação, eles pedem, mas falta investimento. Todos sofrem quando o manejo é feito de forma inadequada: a criança, os colegas de sala, os pais, os professores. O aprendizado precisa começar pela empatia”, conclui a especialista.

Crises são comuns

“Crises de desregulação em crianças com TEA são comuns e podem ser desencadeadas por diversos fatores, como mudanças na rotina, estímulos sensoriais excessivos, dificuldades de comunicação ou rigidez comportamental. Em muitos casos, comportamentos agressivos são uma tentativa da criança de expressar desconfortos ou frustrações diante de situações que não consegue compreender ou controlar. No caso em questão, a ausência de linguagem verbal agravaria ainda mais os desafios de comunicação, tornando fundamental a presença de profissionais preparados para interpretar os sinais prévios da crise e agir preventivamente”, explica a especialista. De acordo com Camila, antes de uma desregulação, a criança costuma emitir sinais, como maior agitação corporal, recusa em entrar em determinados ambientes, movimentação excessiva dos braços ou choro. “Com o treinamento adequado, é possível identificar esses sinais e intervir antes que o comportamento se intensifique”, relata. Uma vez que o comportamento ocorre, o manejo adequado é imprescindível para a proteção das pessoas envolvidas.

Ambiente escolar

Segundo a psicóloga, o ambiente escolar deve ser preparado para receber todos os alunos, o que inclui garantir condições de segurança e acolhimento para estudantes com deficiência. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças Americano) uma em cada 36 crianças está dentro do espectro do autismo, ou seja, na maioria das salas de aula temos estudantes TEA. Isso requer formação contínua dos profissionais, especialmente em áreas como análise do comportamento, estratégias de prevenção de crises e manejo adequado de situações de desorganização emocional. A especialista defende que, dependendo da necessidade da criança, a presença de um mediador capacitado é necessária. O mediador pode ser um psicólogo, pedagogo, professor ou auxiliar — com treinamento específico para acompanhar crianças com TEA durante a rotina escolar. “Todos os profissionais envolvidos precisam não só dominar técnicas específicas, mas também desenvolver empatia. A empatia é parte essencial do manejo adequado”, afirma.

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