OPINIÃO
- * Por Geraldo Nogueira
Os dados atualizados da amostra do Censo Demográfico de 2022 oferecem um panorama mais preciso sobre a população com deficiência no Brasil. De acordo com os números, o país contabilizava 14,4 milhões de pessoas com deficiência, representando 7,3% das 198,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade. Esse percentual indica uma leve redução em relação à amostra anterior, que apontava uma prevalência de 8,9%.
Um aspecto relevante é a composição etária dessa população. Os números revelam que 45,4% são idosos com 60 anos ou mais, enquanto, entre as pessoas sem deficiência, os idosos representam apenas 14,0%. Esse contraste reforça a estreita relação entre o avanço da idade e o surgimento ou agravamento de deficiências, um fenômeno amplamente reconhecido em todo o mundo.
A distribuição por sexo também revela importantes diferenças. As mulheres com deficiência totalizam 8,3 milhões, ao passo que os homens somam 6,1 milhões. A predominância feminina é observada em todas as Grandes Regiões do país, o que pode ser explicado, principalmente, pela maior longevidade das mulheres, que as expõe, por mais tempo, aos riscos associados ao envelhecimento e ao desenvolvimento de deficiências.
É importante ressaltar que os percentuais destacados acima não incluem as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), cujos dados foram apresentados separadamente. O Censo identificou 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de TEA, o que corresponde a 1,2% da população brasileira. Considerando que a legislação nacional reconhece o TEA como uma forma de deficiência, ao somarmos esses números, chega-se a um total de 16,8 milhões de pessoas com deficiência, o que corresponde a 8,5% da população brasileira com dois anos ou mais de idade.
Esse perfil populacional também revela grandes oportunidades para o setor do turismo, sobretudo no desenvolvimento do turismo acessível e inclusivo. O elevado número de pessoas idosas com deficiência representa uma demanda potencial significativa para o mercado de viagens, especialmente considerando que esse grupo, além de ter maior disponibilidade de tempo, muitas vezes dispõe de renda própria ou familiar para investir em lazer e deslocamentos. Para que esse potencial seja plenamente realizado, é fundamental que os destinos turísticos, os meios de hospedagem e os serviços de transporte estejam adequadamente preparados, oferecendo acessibilidade, conforto e segurança, e promovendo, assim, experiências positivas e inclusivas para todos.
O turismo acessível é um setor em franca expansão no Brasil, com diversas iniciativas espalhadas pelo país, promovendo viagens mais inclusivas e acolhedoras. No cenário internacional, a Organização Mundial do Turismo (OMT) destaca o potencial desse segmento, especialmente na União Europeia, onde mais de 70% dos 80 milhões de pessoas com deficiência possuem condições de viajar e usufruir de experiências turísticas.
Dessa forma, a nova amostra do Censo 2022 oferece dados essenciais para orientar políticas públicas e iniciativas privadas, fortalecendo o compromisso com uma sociedade cada vez mais inclusiva, justa e acessível para todas as pessoas com deficiência.
*Geraldo Nogueira é Superintendente de Ações para Pessoas com Deficiência da Subsecretaria de Políticas Inclusivas do Estado e Diretor da Diretoria da Pessoa com Deficiência da OAB.RJ.
Artigo originalmente publicado em www.turismonews.tur.br