Iniciativas de acessibilidade ainda são limitadas no setor de eventos, mas soluções práticas mostram que é possível incluir todos os públicos com responsabilidade
No primeiro trimestre de 2025, o setor de eventos registrou, apenas em São Paulo, um crescimento acelerado, com 1.584 eventos realizados e um impacto econômico de R$ 5,9 bilhões, alta de 110% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o VPCSB.
Apesar da expansão da agenda cultural no país, impulsionada pela retomada pós-pandemia e pela descentralização dos polos culturais, a acessibilidade ainda avança de forma tímida nesse cenário.
Apesar dos avanços na legislação e em iniciativas pontuais, a maior parte dos eventos realizados no Brasil ainda apresenta barreiras que limitam a participação de pessoas com deficiência. Rampas inexistentes, sinalização inadequada, falta de intérpretes de Libras ou de audiodescrição e espaços mal planejados impedem que milhares de brasileiros participem plenamente da vida cultural e social do país.
De acordo com a cartilha do Sebrae sobre acessibilidade em eventos, tornar um evento acessível vai além de atender à lei. Trata-se de reconhecer que o público é diverso, com necessidades diferentes, e que todas as etapas, da comunicação à execução, precisam considerar isso como parte do planejamento.
Estrutura planejada para público
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 17 milhões de brasileiros declararam ter algum tipo de deficiência. Isso representa aproximadamente 8,4% da população do país. Dentro desse grupo, há uma ampla variedade de condições: deficiências físicas, visuais, auditivas, intelectuais e múltiplas, cada uma exigindo formas específicas de acesso e inclusão.
Planejar um evento acessível envolve, antes de tudo, o reconhecimento dessas demandas. Isso começa já na escolha do local: é preciso observar se há acessos adaptados, banheiros com barras de apoio, rotas acessíveis e áreas reservadas. No caso de espaços públicos ou improvisados, como praças e ruas, a responsabilidade é ainda maior, pois a estrutura temporária deve prever o atendimento a esse público.
A comunicação também é parte fundamental. Informações sobre o evento precisam estar disponíveis em formatos acessíveis, como sites compatíveis com leitores de tela, sinalização em braille e vídeos com legenda ou intérprete de Libras. Sem isso, mesmo as pessoas com mobilidade garantida podem ser excluídas por falta de compreensão ou orientação.
Equipe organizadora
A acessibilidade não se resume a equipamentos e adaptações físicas. As pessoas que trabalham nos bastidores, da bilheteria à segurança, devem ser preparadas para lidar com diferentes tipos de público. Capacitação básica em atendimento inclusivo pode evitar situações constrangedoras e garantir que todos se sintam acolhidos.
Além disso, o planejamento precisa prever soluções específicas para diferentes tipos de deficiência. Pessoas com deficiência visual, por exemplo, se beneficiam de informações sonoras, enquanto pessoas com deficiência auditiva precisam de comunicação visual eficiente. A adaptação deve ser pensada de forma interseccional, considerando que um mesmo evento pode reunir participantes com necessidades múltiplas.
É importante destacar que a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) estabelece que espaços de uso coletivo devem ser acessíveis, o que inclui eventos temporários ou privados com acesso ao público. Ou seja, não se trata apenas de boa vontade, mas de uma obrigação legal.
Impacto com recursos simples
Ainda persiste a ideia de que adaptar um evento para acessibilidade significa aumento elevado de custos. No entanto, a cartilha do Sebrae mostra que muitas soluções são viáveis com planejamento antecipado e uso inteligente dos recursos.
A locação de plataformas elevatórias, a contratação de intérpretes de Libras, a produção de sinalização visual clara e a criação de áreas reservadas podem ser inseridas no orçamento como qualquer outro item de produção. Quando integradas desde o início, essas adaptações têm custo reduzido e impacto significativo na experiência do público.
Há também formas criativas de tornar a experiência mais inclusiva. Eventos que oferecem mapas táteis, programação em áudio, visitas guiadas adaptadas e espaços de descanso sensorial têm atraído cada vez mais públicos diversos. O retorno costuma vir em forma de reconhecimento, fidelização e reputação positiva junto ao público e à imprensa.
Acessibilidade como padrão
Tornar um evento acessível não é mais um diferencial. É um passo necessário para garantir equidade e respeitar o direito de todos à participação na vida social e cultural. O avanço da discussão sobre inclusão no Brasil tem levado produtores, empresas e instituições públicas a repensar suas práticas.
No Brasil, ainda há muito a avançar. Mas os eventos que se destacam hoje são justamente aqueles que buscam construir experiências inovadoras para eventos, onde diversidade, conforto e acesso caminham juntos, sem exclusões. A inclusão começa no planejamento e se concretiza no detalhe. Quando todos podem participar, a cultura se fortalece.
A experiência de quem participa de um evento vai muito além do palco. Inclui o acesso ao local, a compra de ingressos, o uso de banheiros, o deslocamento interno e a permanência com conforto e segurança. Quando tudo isso é pensado com acessibilidade em mente, o evento se torna melhor para todos.
Incluir pessoas com deficiência em todas as fases também ajuda a identificar barreiras invisíveis e criar soluções mais precisas. A escuta ativa e a presença de profissionais PCD no processo criativo e logístico garantem que a acessibilidade seja incorporada de maneira real e não apenas simbólica.