• sex. jun 13th, 2025

Número de diagnósticos de autismo cresce no Brasil e acende alerta para desafios na avaliação infantil; tecnologia se torna aliada

Número de diagnósticos de autismo cresce no Brasil e acende alerta para desafios na avaliação infantil; tecnologia se torna aliada

Dados do IBGE revelam aumento nos casos de TEA e reforçam a importância de análises criteriosas no desenvolvimento infantil

Um levantamento inédito divulgado em 2025 pelo IBGE, evidenciou uma realidade importante: 760,8 mil estudantes brasileiros com 6 anos ou mais têm diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso representa 1,7% do total dessa faixa etária — um índice superior ao da população geral e que confirma a escalada dos diagnósticos entre crianças e adolescentes.

Os números reforçam ainda um movimento que especialistas já observam na prática clínica: a procura por respostas sobre o desenvolvimento infantil começa cada vez mais cedo, muitas vezes impulsionada por médicos, escolas e até pelas redes sociais. Mas essa busca, apesar de necessária, carrega riscos quando se apressa processos e rotula crianças sem uma avaliação psicológica completa.
 

“Ainda é muito comum a confusão entre os termos ‘diagnóstico precoce’ e ‘detecção precoce de sinais’. O que se faz na infância é a identificação de comportamentos atípicos, não um diagnóstico fechado e definitivo”, explica Lília Maíse de Jorge, psicóloga parceira da Vetor Editora, empresa da Giunti Psychometrics. Ela alerta que antecipar um diagnóstico sem uma análise profunda pode limitar o desenvolvimento da criança, direcionando-a para uma condição que talvez não represente sua totalidade.

Tecnologia como aliada

Diante desse contexto, cresce a demanda por instrumentos de avaliação mais robustos, adaptados à realidade brasileira. A Vetor Editora lançou recentemente o Modelo Binário de Investigação da Sintomatologia Autística em Crianças (BINAUT). A proposta é inovadora: dividir os sintomas do TEA em dois conjuntos — comportamentos atípicos e falhas no desenvolvimento infantil —, permitindo uma análise mais refinada dos impactos na vida da criança.

“O olhar sobre a criança deve ir além do rótulo diagnóstico. É preciso entender seu desenvolvimento como um todo, seus pontos fortes e desafios, para que as intervenções sejam realmente efetivas e personalizadas”, reforça Lília.

O mercado brasileiro de avaliação psicológica tem avançado com a criação de escalas próprias, superando uma antiga prática de utilizar instrumentos apenas traduzidos, sem validação para a realidade sociocultural do país. Além disso, o uso de tecnologias tem se mostrado um importante aliado no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, especialmente para o público autista. Nesse contexto, surge o EmotiPlay, uma plataforma de aprendizado social que atende essa necessidade por meio de uma abordagem educacional terapêutica que apoia o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. As crianças se envolvem em tarefas de aprendizagem e prática interativa, sempre acompanhadas de um adulto — seja um profissional, responsável ou educador. O EmotiTeam apoia e facilita intervenções tanto presenciais quanto remotas, ou mesmo híbridas, e pode ser utilizado em atendimentos individuais, em dupla ou em grupo. Seu conteúdo foi desenvolvido com especialistas internacionais e validado cientificamente (Fridenson-Hayo et al., 2017). Da mesma forma, destacam-se instrumentos de avaliação psicológica nacionais, como o PROTEA-R, focado na observação de comportamentos associados ao TEA em crianças de 2 a 5 anos, e os testes da Vetor, como a Técnica de Reconhecimento de Emoções (TRE) e a Técnica de Vocabulário Emocional (TVE), que avaliam de forma estruturada e contextualizada competências emocionais essenciais no desenvolvimento infantil. “Sem normas brasileiras, acabávamos comparando nossas crianças a parâmetros de outros países, o que é inadequado. Cada cultura influencia de maneira diferente o desenvolvimento infantil”, observa a especialista.
 

O processo de avaliação exige cautela

Apesar da crescente preocupação dos pais em compreender o desenvolvimento dos filhos, a busca por orientação psicológica tem ocorrido cada vez mais cedo, muitas vezes estimulada por médicos, professores ou pela mídia. No entanto, crianças já chegam ao consultório com diagnósticos prontos de TEA, o que limita o papel investigativo dos profissionais da saúde psíquica no processo.
 

Por conta disso, especialistas alertam para a necessidade de resgatar a avaliação mental como etapa fundamental na construção diagnóstica, especialmente no que diz respeito à análise de aspectos como cognição, personalidade, motivação, maturidade e afetividade, dimensões que apenas o olhar clínico de consultores comportamentais é capaz de integrar de forma ampla e contextualizada.

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