O fim do Casamento às Cegas tomou conta da internet nas últimas semanas, mas não somente pelo desfecho e curiosidade do público em saber o que aconteceram com os casais após o final das gravações. Recentemente, a participante Bianca Sessa apareceu chorando nos Stories ao falar sobre o vídeo do “humorista” Marcelo Duque fazendo piada sobre o fato de que ela é uma mulher PCD. “A piada deixa de ser engraçada quando ofende alguém e, sinceramente, eu nunca me senti tão humilhada e envergonhada na vida”, desabafou a nutricionista.
Em pleno 2023, ainda é necessário explicar que não é mais possível aceitar o capacitismo e que não é uma mera problematização, afinal, a discriminação ou o preconceito contra pessoas com deficiência é um tipo de opressão que está para além de termos e olhares ofensivos. No início deste ano, Bruno Lambert, que além de “comediante” trabalhava em um banco, acabou demitido de seu segundo ofício devido à repercussão negativa de uma piada capacitista que ele fez em um show. A piada, que remetia a uma suposta relação sexual que ele teria tido com uma cadeirante, gerou revolta na deputada federal Tabata Amaral, que o denunciou ao Ministério Público por uma suposta prática de discriminação e de violação do Estatuto da Pessoa com Deficiência.
No Brasil, a desigualdade, que é considerada um dos maiores problemas do país, atinge duramente pessoas com deficiência, ainda mais quando pensamos suas interseccionalidades, por exemplo, as mulheres negras com deficiência, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando analisamos o mercado de trabalho, a taxa de participação dessa população é de 28%, com um rendimento médio mensal é de R$ 1.639, enquanto as pessoas sem deficiência recebem cerca de R$ 2.619.
Head de DE&I na Condurú Consultoria, Jenifer Zveiter, destaca que a luta pela diversidade, equidade e inclusão é diária, e, sem pessoas aliadas , a causa se torna cada vez mais difícil e combater o capacitismo recreativo e linguístico fica sempre muito distante. “Não podemos nos esquecer que esse tipo de preconceito se manifesta das mais diversas formas, não somente nas piadas, mas também em ações e expressões que muitas pessoas usam corriqueiramente. A invisibilidade destes corpos, a representação estereotipada e a ideia de que essas pessoas não se adequam à coletividade também são formas de capacitismo”, diz.
A especialista também destaca que expressões como “deu mancada”, “abstrai e finge demência”, “determinada pessoa é meu braço direito” ou até mesmo “eu tenho dois braços e duas pernas e não consigo fazer o mesmo” são explícitos exemplos desse preconceito estrutural. “Tratar pessoas com deficiências como heróis ou exemplos de superação não é o mesmo que ter empatia por elas. Esse tipo de postura ignora que a PCD não precisaria enfrentar certas questões. Se existisse investimento nos espaços públicos para que estes fossem acessíveis a todas as diversidade, não apenas para os corpos que são considerados dentro do padrão, os conceitos de acessibilidade e equidade já estariam sendo construídos de outra forma em nosso dia-a-dia”.