- * Por André Naves
Sou apaixonado por futebol! O jogo tão popular, que reflete as contradições de todos nós. Desperta o melhor e o pior em cada um, e reflete, no campo, as dores e as delícias de nossa existência.
Sou apaixonado pelos esportes em geral! A apoteose da disciplina, o ápice da perseverança, e as potências da alteridade: tudo isso é da essência do jogo, refletindo uma metáfora da própria vida.
No entanto, o que me atrai mais é a derrota… Cair não é problema, desde que a gente sempre tenha a disposição para levantar e continuar. E quem disse que a derrota é uma queda?
Perder não é problema nenhum! As lições que podemos aprender com as dificuldades são o preparo para nossos próximos passos.
Meu pai me ensinou tudo isso… A nunca desistir, a tirar o suco doce da fruta amarga da contrariedade…
Ele também me ensinou a amar o São Paulo. Isso é interessante porque, não sei o motivo, desde que nasci, minha alma sempre foi palmeirense. Talvez pela cor verde, pelos porquinhos, periquitos, pela influência dos meus primos… Não sei.
Só sei que hoje sou são-paulino e palmeirense: caso raro no mundo.
Eu até conheço várias pessoas que torcem para esses dois times, mas, em geral, quando isso acontece, a verdade é que elas não torcem para ninguém. Elas nem gostam do jogo de bola, vamos ser sinceros…
Eu gosto bastante de futebol. Sou igualmente apaixonado pelo São Paulo e pelo Palmeiras!
Essa característica única faz parte da minha individualidade. É um traço da minha essência, parte de quem eu sou… E, ainda que eu não perceba, ela determina várias atitudes minhas!
Vou te dar um exemplo: todas as minhas ex-namoradas são palmeirenses. É lógico que eu conheci várias moças inteligentes, interessantes e bonitas que torciam para outros times (ou, às vezes, nem torciam). Por que será que só namorei palmeirenses, então? Não sei…
Preconceito? Claro que não!
É uma questão que não passa pelas luzes da minha consciência. Ela está escondida nos cafundós do inconsciente, mas determina as minhas atitudes mais concretas. São os aspectos despercebidos da minha individualidade que plantam esse tipo de ação.
Atualmente, o povo gosta de chamar isso de “viés inconsciente”. É um pedaço da minha identidade que inclina, sem que eu perceba, minhas escolhas. Ninguém faz isso por mal, mas é um mecanismo natural de nossa personalidade.
Voltando ao exemplo: hoje em dia sou casado com a Ana Rosa, uma palmeirense, e a gente acabou morando aqui, pertinho do clube Palmeiras, onde faço minhas caminhadas quase todas as manhãs.
Conscientemente, a gente não escolheu isso. Até dá a impressão de que a vida foi nos trazendo para cá. Mas não… Os nossos vieses inconscientes acabaram moldando nossos passos até aqui.
Ou seja, as nossas individualidades são determinantes de nossos atos: ser quem somos traça, sem que percebamos, nossos caminhos. E esses atos e caminhos individuais são os pedaços de nossas estruturas sociais.
Resumindo: nossos vieses inconscientes levam a estruturas sociais mais ou menos inclusivas e justas. Mas então, fica parecendo que os tais vieses inconscientes, exatamente por estarem escondidos em nossa mente, são soberanos.
Quando a gente não tem consciência das causas que levam à exclusão social, a gente não pode fazer nada mesmo. É por isso que, todos os dias, todos nós temos que mergulhar nas profundezas da nossa personalidade para jogar luzes em nossos vieses inconscientes…
Só com conhecimento de nós mesmos, poderemos construir uma sociedade estruturalmente inclusiva e Justa!
- André Naves é Especialista em Direitos Humanos e Sociais.
Defensor Público Federal. Escritor e Professor. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural.
Colunista de diversos meios de comunicação. www.andrenaves.com - Apresenta todas as terças-feiras – à partir das 20h, o quadro Vozes pela Inclusão, no Canal do Diário PcD no YouTube.