Diversas denúncias de maus tratos e exclusão das pessoas com deficiência em ambiente escolar tem tomado os noticiários nos últimos dias.
A campanha “Setembro Verde” marca o mês para a conscientização da inclusão da pessoa com deficiência. Em 21 de setembro, comemora-se o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
De acordo como os novos dados das estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022, o Brasil contabiliza 18,6 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 8,9% da população brasileira a partir de dois anos de idade.
Os dados também mostram que as pessoas com deficiência também têm menor acesso à educação. Segundo o IBGE, quanto mais idade menor o acesso à educação. A pesquisa mostra que 71,3% das pessoas com deficiência entre 11 e 14 anos frequentam o ensino fundamental, contra 86,1% das pessoas sem deficiência. No ensino médio, a taxa de frequência é de 54,4% entre as pessoas com deficiência de 15 a 17 anos, contra 70,3% das pessoas sem deficiência. No ensino superior, na faixa entre 18 e 24 anos de idade, a frequência é de, respectivamente, 14,3% e 25,5%.
De acordo com Carolina Ignarra, CEO do Grupo Talento Incluir – ecossistema da diversidade e inclusão, pioneiro no Brasil – os números ainda são questionáveis, especialmente pela forma como foram apurados e, segundo o IBGE, não representam nem 10% da população brasileira. Enquanto isso, no mundo, segundo a OMS, a estimativa de pessoas com deficiência atinge um percentual de 15% (1 bilhão de pessoas).
Diante desse cenário, ela reforça a importância de promover, ampliar e aprimorar a inclusão das pessoas com deficiência nas escolas, a partir de algumas dicas elaboradas em parceria com a especialista, consultora para Inclusão de Pessoas com Deficiência, com ênfase em Educação e Trabalho e empreendedora social, Marta Gil:
- Disposição: preparar a escola para ser um ambiente acolhedor a todos os alunos não requer apenas obras estruturais. O principal é desenvolver a acessibilidade atitudinal, partindo do ponto principal de que educação é um direito de todas as pessoas e para todas as pessoas, com e sem deficiência. Conteúdos e atividades que favorecem e ampliam o entendimento sobre as pessoas com deficiência é muito importante, além da convivência;
2. Capacitação das equipes: uma das mais importantes ações. A cultura de inclusão deve acontecer em todo o time, do portão à diretoria, da sala de aula às quadras e lanchonetes para eliminar o capacitismo que impede o desenvolvimento pessoal dos estudantes com deficiência. Quando os profissionais são qualificados, a Educação inclusiva acontece. Pedagogicamente todo o ambiente é beneficiado;
3. Acessibilidade digital: capacitar as equipes nas ferramentas tecnológicas de ensino que colaboram com a inclusão, muitas delas disponíveis até de forma gratuita e geram a cidadania digital, além de possibilitar a aprendizagem;
4. Parceria família-escola: essa aliança é fundamental para o desenvolvimento da pessoa com deficiência em idade escolar. Juntos, devem observar e entender os potenciais e habilidades de cada aluno, atuando cada um no seu papel. Professora não é a mãe e mãe não deve ser a professora.
5. Escola especializada é um retrocesso: além disso é ilegal e inconstitucional indicar aos pais que a criança com deficiência seja transferida para o que se chama de “escola especial”, onde só haverá pessoas com deficiência. Além de excludentes, nada contribuem para o desenvolvimento social e necessário das pessoas com deficiência. Além disso, é uma atitude desumana. É ilegal. Assim como as empresas, as escolas, por lei, devem estar preparadas para estudantes com deficiência e não o contrário;
6. Do ensino infantil à universidade: trabalhar a cultura de inclusão é um processo sustentável, que contribui com a qualificação, a socialização e o desenvolvimento pessoal em uma fase muito importante da vida e antes mesmo de chegar ao mercado de trabalho;
7. Boas práticas: as ações de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho podem e devem inspirar ações dentro das escolas. Visitar empresas e entender como atuam na inclusão, conhecendo seus projetos pode contribuir para a qualidade da inclusão no ambiente escolar;
8. Guia do educador inclusivo: o guia que Marta Gil elaborou com o Instituto de Pesquisa Amankay, como um material importante de apoio à construção da Educação Inclusiva no ambiente escolar e que está disponível para baixar gratuitamente (clique aqui). O material foi desenvolvido a partir de temas que foram trazidos nas rodas de conversas, feitas em escolas públicas de Ribeirão Preto (SP), com a participação das equipes escolares, mães e pais de alunos com e sem deficiência e com o apoio da Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria da Educação da cidade.
“Infelizmente, a escola é um dos primeiros ambientes em que as pessoas com deficiência encontram o capacitismo e que vão impactar em toda a vida da pessoa com deficiência. Exatamente por isso, é fundamental fazer do ambiente escolar um aliado produtivo da inclusão, do desenvolvimento e da socialização das pessoas com deficiência.”, conclui Carolina Ignarra.