A Fundação Dorina Nowill para Cegos, com mais de sete décadas de atuação na promoção da acessibilidade, realizou um estudo, viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura, denominado Programa Nacional de Apoio à Cultura 204759 “Ler para ser – Literatura como cidadania”, por meio do instituto de pesquisa Datafolha, para compreender os hábitos de leitura de pessoas com deficiência visual no Brasil. Foram 400 entrevistados, entre junho e julho deste ano, homens e mulheres, de diferentes faixas etárias, a partir de 12 anos e média de 48 anos, com baixa visão ou cegueira, abrangendo diferentes estados e regiões brasileiras.
Cerca de 70% dos entrevistados possuem escolaridade superior, sendo que 25% deles possuem pós-graduação completa ou incompleta. Atualmente, 37% estão estudando, incluindo aqueles cursando o ensino superior, pós-graduação e cursos livres. No que diz respeito à atividade econômica, quatro em cada dez entrevistados são economicamente ativos, com maior presença de funcionários públicos e assalariados registrados. No entanto, essa presença é menor se comparada a 2019. Cerca de 70%, possui renda familiar de até cinco salários mínimos.
O principal ponto destacado pela pesquisa foi o gosto pela leitura. Houve um aumento significativo nesse aspecto em comparação com a pesquisa anterior, passando de 55% para 63%. O estudo também investigou os hábitos de leitura durante a pandemia de Covid-19. Cerca de 45% dos entrevistados afirmaram ter lido mais livros do que antes e 33% leram a mesma quantidade, enquanto apenas 20% reduziram o ritmo de leitura. Ainda neste contexto, 46% continuaram a ler os mesmos temas, 43% incluíram novos temas além de manterem os que já liam e 9% passaram a ler livros de outros temas.
A pesquisa também revelou que a leitura é um hábito diário para 48% dos entrevistados, enquanto 32% afirmaram ler, pelo menos, uma vez por semana. Quanto ao gênero de preferência, o literário foi apontado por 34% dos entrevistados, seguido pelos acadêmicos com 21%, religiosos e espiritualistas com 20%, políticos e históricos com 9%, autoajuda 7%, e biográficos 4%. No entanto, a pesquisa identificou alguns desafios enfrentados pelos entrevistados. Cerca de 40% apontaram os livros acadêmicos como os mais ausentes para pessoas com deficiência visual. Também figuram na lista os religiosos e espiritualistas com 20%, os literários, biográficos e políticos/históricos com 17% cada, além dos de autoajuda com 10%.
Dos locais para a busca de informações sobre livros para pessoas com deficiência, a Fundação Dorina foi a mais citada, com 46% das menções, contra 18% em 2019. As redes sociais vieram logo em seguida com 20% (11% em 2019) e sites de livros como portal dos cegos, bengala legal, 16% (23% em 2019). Os livros produzidos pela Fundação Dorina Nowill para Cegos receberam elogios consistentes em várias áreas, em especial pela qualidade do conteúdo e do design acessível.
Quanto à forma de acesso aos livros, 86% utilizaram formatos falados e audiolivros, 75% digitais, 53% acessíveis com descrição de imagens, 35% impresso somente em Braille, 34% Digital E-Pub, 22% Digital-DAISY, 22% com fonte ampliada e 18% impresso em tinta Braille. A forma preferida de acesso aos livros continuou sendo o download da internet, com 64% das menções. Ao mesmo tempo, a preferência por receber os livros em casa permaneceu estável, com 21% das respostas. No entanto, a opção de leitura pessoalmente caiu significativamente, passando de 18% para 7% em 2023.
A facilidade para aquisição de livros acessíveis dividiu a opinião dos leitores. Cerca de 49% atribuíram notas de 7 a 10, enquanto que 51% de 0 a 6. Além disso, a dificuldade para aquisição de livros acessíveis foi ressaltada por 46% dos entrevistados, bem como a disponibilidade de profissionais capacitados nos locais de leitura para atender pessoas com deficiência visual, apontada por 66% dos respondentes. Cerca de 81% ressaltou a grande dificuldade de acesso a locais ou instituições para leitura, levando em consideração transporte, ruas ou vias acessíveis e a proximidade da casa ou trabalho.
Resultados e Ações
Esses resultados trazem informações valiosas para a Fundação Dorina Nowill para Cegos e para a sociedade como um todo, permitindo uma melhor compreensão dos hábitos e subsidiando ações para promover a inclusão e o acesso à leitura para pessoas com deficiência visual. “Os dados apresentados reforçam a necessidade de todo nosso empenho e trabalho na busca por melhorias e investimentos contínuos para garantir um acesso inclusivo e eficaz à leitura para a comunidade com deficiência visual. Estamos falando, segundo dados do IBGE, de um público de cerca de 6,5 milhões de pessoas. Por isso, o compromisso da Fundação Dorina em promover acessibilidade por meio da inovação é evidente por meio das ferramentas inovadoras que vêm desenvolvendo e aprimorando”, afirma Alexandre Munck, Superintendente Executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Enquanto a equipe de apoio à inclusão orienta pessoas cegas e com baixa visão a como ter mais autonomia, o objetivo de Soluções em Acessibilidade é auxiliar o mercado para transformar a sociedade. Para isso, a Fundação oferece em seu portfólio materiais e serviços acessíveis para capacitar e transformar empresas e a sociedade, tornando-as mais inclusivas.
Plataforma Braille – A Fundação Dorina acaba de lançar uma plataforma voltada para otimizar a transcrição e adaptação de livros para o formato Braille. Essa iniciativa vem para aumentar, de maneira significativa, a produtividade da equipe editorial, ao mesmo tempo em que amplia a disponibilidade de títulos acessíveis no país.
O foco principal foi desenvolver um ambiente que permitisse a transcrição e adaptação de livros para o formato braille de maneira ágil e eficiente. Além de solucionar o desafio de combinar as habilidades de transcrição em braille com as de diagramação, através de ferramentas intuitivas, semelhantes a softwares populares de processamento de texto. Além disso, garante a padronização de arquivos em diversos formatos, permitindo a criação simultânea das versões em tinta e braille.
O processo de transcrição possibilitado pela plataforma abrange desde a conversão de PDF, linearização e descrição de imagens até a formatação completa, que inclui capa, sumário, adaptação de tabelas, gráficos táteis e relevos e criação de arquivo de tinta para impressão. A plataforma está, ainda, em sua 1ª fase de implantação e o resultado esperado será o de um aumento significativo na velocidade do processo que saltará dos 387 títulos e 82 mil páginas por ano, produzidas pela Fundação Dorina, para 774 títulos e 225 mil páginas anuais.
Central de Formações – Plataforma de Educação à Distância com cursos voltados à sociedade e ao mercado, focados na promoção de acessibilidade e produção de materiais acessíveis. Os interessados têm a oportunidade de acessar a Central de Formações e participar de cursos ministrados por profissionais altamente qualificados, garantindo uma formação de excelência. Dentre os cursos oferecidos, destaca-se o da ‘Introdução à Audiodescrição’, um dos mais procurados e amplamente requisitados em diferentes contextos. Além disso, são abordados temas fundamentais, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Introdução à Educação Inclusiva, Acessibilidade e o Mundo do Trabalho e Introdução à Editoração Braille.
Vale ressaltar que a equipe da Fundação está disponível para personalizar treinamentos para empresas que desejam promover a inclusão de pessoas com deficiência em seu ambiente de trabalho. A equipe está comprometida com a capacitação e a promoção da igualdade de oportunidades para todos. Além disso, os cursos vendidos na plataforma são inteiramente gratuitos para pessoas com deficiência visual que estejam previamente cadastradas em na biblioteca digital da Fundação, a Dorinateca.
Estúdios – A Fundação investiu na criação de uma central de estúdios de última geração, completamente equipada para a produção de conteúdo audiovisual. Sempre que há a necessidade de produzir videoaulas e demais produções em vídeo, a equipe está pronta para atender, trazendo ainda toda a expertise da produção de acessibilidade audiovisual, com Audiodescrição, LIBRAS e legenda descritiva.
No que diz respeito às produções em áudio, o novo estúdio de gravação e equipe altamente especializada, permitem criar e transformar materiais em versões acessíveis em voz humana. Cada etapa do processo de produção é realizada com cuidado excepcional, abrangendo desde a adaptação dos materiais para a versão em áudio, a seleção de vozes, gravação, edição, masterização, até a mixagem final. São produzidos desde audiolivros até audiodescrições ao vivo para eventos e produções teatrais.
Sobre a Fundação Dorina Nowill para Cegos
A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico. Há 77 anos se dedica à inclusão social de crianças, jovens, adultos e idosos cegos e com baixa visão. A instituição oferece serviços gratuitos e especializados de habilitação e reabilitação, dentre eles orientação e mobilidade e clínica de visão subnormal, além de programas de inclusão educacional e profissional.
Responsável por um dos maiores parques gráficos braille em capacidade produtiva da América Latina, a Fundação Dorina Nowill para Cegos é referência na produção e distribuição de materiais nos formatos acessíveis braille, áudio, impressão em fonte ampliada e digital acessível, incluindo o envio gratuito de livros para milhares de escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.
A instituição também oferece uma gama de serviços em acessibilidade, como cursos, capacitações customizadas, sites acessíveis, audiodescrição e consultorias especializadas. Com o apoio fundamental de colaboradores, conselheiros, parceiros, patrocinadores e voluntários, a Fundação Dorina Nowill para Cegos é reconhecida e respeitada pela seriedade de um trabalho que atravessa décadas e busca conferir independência, autonomia e dignidade às pessoas com deficiência visual.