Também chamada de disfagia, a dificuldade para engolir pode ser um grave incômodo, podendo causar a interrupção da alimentação via oral, devido à dor ao deglutir e/ou engasgos. Trata-se de uma incapacidade que contribui para a perda da funcionalidade e independência para se alimentar, trazendo riscos de desnutrição e possível pneumonia aspirativa para o paciente.
Para atender pacientes disfágicos, em transição de cuidados (reabilitação e cuidados paliativos), a YUNA dispõe de uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, por exemplo, que realizam o atendimento específico.
“A alimentação tem um papel especial na vida das pessoas. Na cultura brasileira, a relação com a comida é sempre repleta de afeto, tanto que as famílias se reúnem em volta da mesa para celebrar momentos especiais. Por isso, ver aqueles que amamos se alimentando bem, especialmente quando estão em ambiente hospitalar, nos traz a sensação de que estão sendo cuidados”, declara Mariana Paculdino Neves, terapeuta ocupacional (T.O.) da YUNA.
A T.O. destaca o atendimento da paciente P.A., que teve início com a avaliação realizada na admissão, por meio da coleta de informações sobre o seu histórico ocupacional. “Descobrimos que a paciente tinha descendência italiana e adorava cozinhar macarronada ao sugo para toda a família. Outra característica marcante foi o fato de ouvir músicas italianas em canal específico na TV da sua casa. Como a paciente já chegou em condição de saúde limitadora, levando ao início do processo ativo de morte, foram iniciadas uma série de ações em cuidados paliativos pela equipe multidisciplinar para conforto da paciente e acolhida dos familiares em sofrimento”, esclarece Mariana.
Na presença da cuidadora, a paciente recebeu a oferta segura pela fonoaudióloga de molho de tomate artesanal, preparado pelo serviço de nutrição da YUNA, enquanto escutava canções italianas cantadas e tocadas no violão pela terapeuta ocupacional.
Pouco depois de realizar os estímulos, embora a paciente estivesse inconsciente, de olhos fechados, foi possível perceber a mudança no semblante, demonstrando em sua face sinais de relaxamento, satisfação e serenidade. Além do conforto e envolvimento em atividade significativa, o estímulo realizado ainda proporcionou o resgate de muitas memórias afetivas.
A atuação da equipe multidisciplinar em atendimentos de cuidados paliativos é rica e benéfica para o paciente, um ser repleto de dimensões – física, espiritual, psíquica e social -, o que exige um olhar integral. “Tal olhar só é possível, verdadeiramente, pela ação conjunta e complementar dos diversos profissionais da equipe multidisciplinar”, conclui a terapeuta.
Com relação à fonoaudiologia, o maior desafio relacionado ao paciente disfágico é proporcionar, de forma segura e prazerosa, a alimentação por via oral, ainda que seja adaptada. “O objetivo é que o alimento remeta à memória afetiva, desde a apresentação do prato, estimulando outros sentidos, como visão, olfato, que nada mais é o que chamamos de fase que antecede a deglutição, até a deglutição propriamente dita”, esclarece a fonoaudióloga Aline Ferreira Santos.
No caso da paciente P.A., que já estava em fase final de vida, com alimentação por via alternativa, gastrostomia, o objetivo foi respeitar a descendência italiana e a paixão por molho de tomate. “Em conjunto com a terapeuta ocupacional, proporcionamos de forma segura que ela apreciasse o molho, com fundo musical italiano. Foi realizada a estimulação com molho de tomate, na consistência adequada, quando percebemos sua feição mudar conforme o estímulo era realizado, tendo a música como plano de fundo. Mesmo que ofertado pouco volume do alimento, foi possível notar e proporcionar este prazer não só para a paciente, mas a família e toda a equipe multiprofissional”, completa a fonoaudióloga.