OPINIÃO
Por Guilherme Kalel, Mariana Torres e Thayna Lima – Do Orcon Press
O Brasil possue hoje 6,5 milhões de pessoas entre a sua população com algum grau de deficiência visual.
Neste universo um número preocupa segundo um levantamento realizado pelo Portal Orcon Press. De cada 10 deficientes visuais do país, 3 sofrem algum tipo de exploração por parte da família.
Isto em números corresponde a 30% da população deficiente visual do Brasil.
Deste total, 80% tem medo de denunciar a questão porque dependem desses familiares para viver.
São deficientes visuais que, não podem controlar seu próprio dinheiro ou a sua vida, em decorrência da superproteção ou dos abusos protagonizados por quem em tese deveria os defender.
Deficiente visual e assistente social, Manuela Becker diz que essa situação é mais comum do que deveria ser, e que não pode ser aceita por aqueles que a vivenciam no dia-a-dia.
“Essas pessoas tem medo mas elas precisam começar a falar e expor aquilo que está acontecendo.
Ainda que sejam sua família, nem uma pessoa merece viver condenada a uma vida de abusos e explorações quaisquer que sejam elas.”
Manuela destaca que muita gente acredita que só existe abuso, quando existe agressão.
Mas não é bem assim que as coisas são na prática.
“As vezes o fato da pessoa não poder usar seu dinheiro como quer, ter acesso a um cartão bancário, é motivo suficiente para se caracterizar uma exploração, e isso é errado.
Todas as pessoas tem direito a liberdade e a própria autonomia, fazer o que quiser, gastar como quiser, porque são seres humanos.
Ninguém tem direito de obrigar o outro a fazer algo ou pode dizer ao outro o que fazer ou como agir”, destaca.
A psicóloga Daniela Lima, que cuida diariamente de pessoas com deficiência, reitera que este tipo de abuso existe com frequência em diversos tipos de deficientes, mas que o índice é maior naqueles com deficiências intelectuais ou visual.
“Essas pessoas acabam de uma certa forma sendo mais dependentes e isto, permite o familiar abusar mais. E quando falamos de abuso, não é físico, econômico ou psicológico, são formas de abusar, tão prejudiciais quanto uma agressão ou mais”, destaca.
O Brasil ainda apresenta um outro problema grave e que precisa ser debatido.
A falta de apoio a pessoas que sofrem essas explorações.
“Muitas entidades não querem lhe dar com esse problema, e acreditam que tudo possa ser resolvido na conversa.
Já vi muitos casos de deficientes tentando falar o que vivenciam, e as entidades dizendo apenas que conversem com a família e contem como se sentem.
O problema é que nem sempre contar resolve a questão”, explica Manuela.
“Muitas famílias acham que estão protegendo e na verdade, sufocam e exploram essas pessoas”.
Manuela Becker ainda destaca que nos últimos anos, o Estado tem trabalhado para tirar a cultura de assistencialismo das entidades sociais que atendem deficientes, especialmente visuais. Outro problema a curto prazo.
“Há 10, 20 anos atrás, tínhamos de cada 10 entidades, 6 que podiam acolher deficientes visuais nas chamadas casa lar. Pessoas que sofriam abusos domésticos e que conseguiam denunciar, tinham para onde ir e ficar em segurança. Hoje, este número é assustador. São pouco mais de 15 entidades que fazem este trabalho em todo o país.”
Os dados mostram que destas 15, só 7 aceitam novos moradores, outro fator preocupante.
As pessoas com deficiência visual se sentem acuadas e desprotegidas, pela família, pela sociedade, pelas entidades sociais que deveriam as defender.
O governo as vê como invisíveis e acredita hoje, que os serviços ofertados anos atrás não são mais necessários por isolarem estes deficientes da sociedade.
Não se é entendido mais, a importância deles e que cada caso é um caso em separado.
“Não tenho o que fazer com uma jovem de 21 anos que tire da casa dos pais, que a exploram, onde vou colocar essa pessoa se faltam recursos ou casas lar no país?”, Pondera Manuela.
Para se chegar aos números da reportagem, a Equipe Orcon Press realizou uma ampla pesquisa nos últimos dias.
Os dados descobertos são estarrecedores.
De cada 10 deficientes visuais, 3 são explorados de alguma forma pela família, 30% do total de invisuais no Brasil.
De cada 10 mulheres com deficiência visual, 4 foram agredidas no Brasil nos últimos 5 anos pela família.
E de cada 10 invisuais mulheres, pelo menos 3 alegam já terem sofrido algum tipo de abuso sexual, por familiares ou conhecidos.
Esses dados serão apresentados pelo Instituto Novorcon, de uma maneira mais detalhada e ampla, no Primeiro Encontro do Programa Nacional de Inclusão Social para Invisuais, que acontecerá de 8 a 10 de março.