Um olhar atento ao número de pessoas com deficiência que conseguem chegar ao
ensino superior
OPINIÃO
- * Por Sueli Yngaunis
Após ler uma brilhante reflexão que Marta Almeida Gil fez sobre os números do Censo de Educação Básica 2023, devido a minha jornada na área da inclusão de alunos com deficiência no ensino superior, eu não resisti em consultar novamente os números do Censo do Ensino Superior de 2022, pois os números de 2023 estão sendo informados pelas IES, e serão divulgados no próximo ano. Quando confrontamos os números de ambos os censos, os da Educação Básica e da Educação Superior, é possível observar
um acentuado declínio dos números de educandos no ensino superior quando comparados com os números da educação básica.
Embora o declínio do número de estudantes, a cada etapa escolar, também aconteça para os alunos que não tem deficiência, é inevitável constatar que esse declínio é mais acentuado, quando se trata de saber quantas pessoas com deficiência conseguem chegar até o ensino superior.
Enquanto o número de alunos com deficiência matriculados no ensino fundamental, informados pelo censo da Educação Básica 2023, foi de 1.028.582 alunos, o número de alunos com deficiência matriculados no ensino superior, de acordo com o Censo do Ensino Superior 2022, foi de 79.262. E apenas 5020 concluíram seus cursos em 2022.
Podemos ver esse movimento também quando olhamos o parâmetro por faixa etária, enquanto até os 14 anos são 1.181.094 alunos, a faixa etária de 18 a 24 anos é de 113.785. Quando comparamos a representatividade de alunos do ensino médio, o número total de alunos matriculados no ensino superior representa cerca de 66% do número de matrículas no ensino médio, quando olhamos os números de alunos com deficiência, essa taxa cai para 35%.
Claro que devemos considerar que a educação inclusiva tem evoluído, e a cada ano mais alunos encorpam esses números, mas não podemos olvidar sobre a necessidade de acompanhar os fatores que podem contribuir para a evasão desses alunos, ao longo de sua trajetória acadêmica, potencializada pela ausência de acessibilidade, discriminação e preconceito.
Infelizmente, a evasão ou desistência de prosseguir com os estudos é comum para todos os estudantes com ou sem deficiência, devido às condições socioeconômicas. Mas, com a crescente demanda por profissionais com deficiência por empresas, devido a lei de cotas, é preciso reconhecer que existe uma necessidade latente de capacitar e preparar esse público para o mercado de trabalho.
Muitas outras análises são possíveis a partir dos números divulgados pelas sinopses dos censos realizados pelo INEP. Os dados coletados por esses censos ilustram o cenário da educação no Brasil em termos de números de matrículas, mas precisamos nos aprofundar também na análise quantitativa, de modo a identificar as variáveis que precisam ser consideradas.
Observação: os gráficos foram criados a partir de dados que extrai das sinopses
estatísticas do Inep.
- * Sueli Yngaunis é Graduada em Relações Pùblicas, pela FAAP. Com especialização em Propaganda e Marketing, Docência no Ensino Superior. Mestre em Comunicação e Mercado pela Cásper Lìbero. Doutora em Ciências, pela FFLCH/USP, pelo Programa de Pós-Graduação: Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades DIVERSITAS – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos. Atuou como professora no ensino superior por 22 anos, e coordenou o Núcleo de Acessibilidade de uma universidade. Atualmente dedica-se ao estudo e divulgação de temas relacionados à inclusão de pessoas com deficiência, e atua como terapeuta e mentora.