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Medalhas Não Bastam: Onde Está a Verdadeira Inclusão?

ByJornalismo Diário PcD

set 21, 2024
Medalhas Não Bastam: Onde Está a Verdadeira Inclusão?

OPINIÃO – Por @santocaos

Representatividade nos pódios, exclusão nos bastidores.

Esse ano o Brasil vibrou com as Olimpíadas de Paris, e contou com 289 atletas, sendo 56,4% mulheres, para competirem nas diversas modalidades dos jogos olímpicos. Foram ao todo 20 medalhas, que trouxeram à tona uma representatividade marcante, com destaque para uma maioria de mulheres ocupando os pódios, como Beatriz Souza (Judô) e Rebeca Andrade (Ginástica).

Mesmo com essa representatividade nos pódios, o Comitê Olímpico do Brasil ainda está longe de refletir essa diversidade, sendo composto por 12 homens e apenas uma mulher, o que representa apenas 8,3% de presença feminina.

A abordagem e a repercussão deste ano também foram diferentes, o engajamento nas redes sociais, impulsionado por apresentadores e mutirões de apoio, trouxe mais visibilidade para os atletas, abrindo portas para novos contratos e patrocínios tanto para atletas mais conhecidos, quanto para os menos conhecidos, inclusive visando a Olimpíada de Los Angeles 2028.

Embora as Olimpíadas já tenham terminado, os jogos ainda não chegaram ao fim. Enquanto o evento olímpico sempre atrai novos holofotes e oportunidades de patrocínio, as Paralimpíadas continuam lutando para alcançar o mesmo nível de destaque. Afinal, a dedicação e os feitos dos atletas paralímpicos são tão inspiradores quanto os dos olímpicos, mas o cenário de visibilidade permanece bem diferente.

Uma potência paralímpica!

As Paralimpíadas nasceram como parte de um esforço de reabilitação de ex-soldados após a Segunda Guerra Mundial, liderado pelo Dr. Ludwig Guttmann em 1948. O evento cresceu até sua primeira edição oficial em Roma, 1960, com 400 atletas de 23 países. Desde então, os jogos se consolidaram, mas, curiosamente, no Brasil permanecem à sombra das Olimpíadas. E por que, afinal, esse evento global ainda luta por visibilidade?

O Brasil se consolidou como uma potência paralímpica graças ao alto investimento, como o proporcionado pela Lei Piva, e à criação do Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo. Em 2024 ficamos em 20º lugar no ranking de medalhas das olimpíadas, mas desde 2004, o país vem se mantendo entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas nas paralimpíadas, destacando atletas como Clodoaldo Silva, André Brasil e Daniel Dias. O investimento contínuo e a infraestrutura de primeiro mundo permitiram ao Brasil desenvolver talentos e fortalecer sua presença em modalidades como natação, atletismo e futebol.

A realidade brasileira para pessoas com deficiência não é muito inclusiva, e esse problema se estende desde infraestruturas pouco acessíveis até as dificuldades de adaptar e integrar esse público em ambientes educacionais, profissionais e de lazer. Essa realidade impulsiona o Brasil nas paralimpíadas, pois leva muitos atletas a buscarem e encontrarem no esporte uma forma de inclusão e sucesso.

O esquecimento midiático dos atletas com deficiência, especialmente em grandes competições como as Paralimpíadas, é evidente ao se comparar a cobertura dada aos eventos olímpicos. Um estudo da Paralympic Media Survey revelou que as Paralimpíadas recebem, em média, 87% menos cobertura na mídia internacional do que os Jogos Olímpicos. Mesmo nos países com tradição no esporte paralímpico, como o Brasil e o Reino Unido, a diferença na visibilidade é notável. Durante as Olimpíadas de Tóquio 2020, a imprensa brasileira destinou mais de 70% de sua cobertura esportiva aos atletas olímpicos, enquanto os paralímpicos, que conquistaram 72 medalhas para o Brasil, ficaram com apenas 15% do espaço midiático total durante os jogos, conforme estudo do Instituto de Pesquisa Datafolha (2021).

Essa lacuna não é apenas quantitativa, mas também qualitativa. Enquanto os atletas olímpicos costumam receber destaque contínuo após suas participações, muitos atletas paralímpicos caem no esquecimento. A cobertura midiática dos atletas com deficiência tende a se concentrar em narrativas de superação, minimizando sua performance esportiva e não lhes conferindo o mesmo status de “heróis nacionais” que é frequentemente atribuído a atletas olímpicos. Essa ausência de visibilidade afeta diretamente o reconhecimento social e financeiro desses atletas, pois muitos dependem de patrocínios, que são diretamente influenciados pela exposição midiática.

As Paralimpíadas são um símbolo de excelência, destacando como pessoas com deficiência podem atingir o ápice do desempenho quando têm acesso a oportunidades, suporte e inclusão.

No Brasil, a ascensão no cenário paralímpico – com conquistas históricas, como a inédita quinta posição no quadro de medalhas – demonstra o impacto que o investimento certo pode ter em talentos até então marginalizados.

Entretanto, essa inclusão no esporte não reflete a realidade do mercado de trabalho. Dados da PNAD Contínua de 2023 mostram que apenas 26,6% das pessoas com deficiência estão empregadas, em comparação com 60,7% da população sem deficiência. Para aquelas com deficiência intelectual, o índice é ainda menor. Isso reflete um mercado que, em grande parte, ainda não oferece condições adequadas ou oportunidades justas para esse grupo.

Além da baixa taxa de emprego, há uma disparidade significativa de renda. Pessoas com deficiência ganham, em média, 30% a menos que aquelas sem deficiência. A informalidade também afeta desproporcionalmente essas pessoas, o estudo “PcD S/A 2.0” realizado pela Santo Caos revela dados alarmantes sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Apenas 48% das pessoas com deficiência possuem empregos formais, enquanto 44% estão desempregadas e ativamente procurando uma vaga.

O setor terciário, composto por comércio e serviços, é o que mais emprega esse grupo (66%), mas a maioria dos trabalhadores com deficiência ocupam cargos de assistente (57%) e analista (17%), refletindo a escassez de oportunidades em níveis mais elevados de liderança, já que apenas 10% ocupam cargos de coordenação ou superior.

O estudo também destaca o sentimento de exclusão entre trabalhadores com deficiência. Cerca de 34% afirmam que não se sentem pertencentes no ambiente de trabalho, e 36% dizem que não recomendariam suas empresas para outros profissionais com deficiência. A falta de reconhecimento e a ausência de oportunidades de desenvolvimento são citadas como grandes barreiras. Além disso, 77% dos gestores não viram pessoas com deficiência assumindo cargos de gestão em suas empresas, evidenciando a falta de inclusão em posições estratégicas.

Assim como as Paralimpíadas evidenciam o potencial dessas pessoas, o mercado de trabalho precisa ser um palco de inclusão real, onde o talento e a diversidade sejam valorizados. É essencial que empresas invistam na acessibilidade e equidade, criando um espaço onde haja oportunidades para transformar o cenário para as pessoas com deficiência.

Fonte: @santocaos – www.santocaos.com.br

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